sábado, 27 de setembro de 2008

Morre o ator Paul Newman aos 83 anos

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Ícone da "época de ouro" do cinema norte-americano dos anos 50 e 60 e uma das últimas lendas vivas da sétima arte, o ator Paul Newman morreu aos 83 anos na madrugada de hoje (sábado). Ele sofria de câncer no pulmão e faleceu na residência onde vivia, em Westport, Connecticut. Desde que fora submetido a sessões de quimioterapia, em 2006, o ator afastou-se das telas por estar debilitado e bastante doente.
Filho de pai judeu e mãe católica, Newman nasceu no subúrbio de Cleveland, Ohio, no dia 26 de janeiro de 1925. Estudou artes na Universidade de Yale e iniciou na carreira artística no teatro, no final dos anos 40. Judeu e seguidor da religião, o ator trabalhou, entre 1952 e 1953, em diversos seriados, até conseguir uma pequena participação no cinema, em 1954, no épico "O cálice sagrado". Dois anos depois recebeu o primeiro papel de destaque, no drama "Marcado pela sarjeta". Em 1959 teve a primeira indicação ao Oscar - melhor ator por "Gata em teto de zinco quente". O ator recebeu ainda oito indicações ao Oscar na categoria de melhor ator - "Desafio à corrupção" (1961), "O indomado" (1963), "Rebeldia indomável" (1968), "Ausência de malícia" (1981), "O veredicto" (1982), "A cor do dinheiro" (1987 - vencedor - foto abaixo), "O indomável - Assim é minha vida" (1995) e "Estrada para a perdição" (2003). Um ano antes de ganhar o único Oscar, recebeu um prêmio honorário da Academia pela carreira.
Imortalizou, junto com Robert Redford, a dupla de assaltantes de banco Butch Cassidy e Sundance Kid no filme homônimo de 1969. Newman esteve no elenco de grandes filmes do cinema, dentre eles "Exodus" (1960), "O doce pássaro da juventude" (1962), "Harper - O caçador de aventuras" (1966), "Cortina rasgada" (1966), "Hombre (1967), "Roy Bean - O homem da lei" (1972) e "O emissário de Mackintosh" (1973).
Atuou também no clássico "Golpe de mestre" (1973), no filme-catástrofe "Inferno na torre" (1974), no thriller "A piscina mortal" (1975), na comédia sobre hockey "Vale tudo" (1977) e no drama "Blaze - O escândalo" (1989). Em 2006 emprestou a voz para o personagem Doc Hudson na animação da Pixar "Carros".
Paul Newman era casado há 50 anos com a premiada atriz Joanne Woodward. O ator teve seis filhos. Por Felipe Brida

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Entrevista especial

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Rubens Ewald Filho: “o cinema foi e continua sendo minha droga” (*)

Felipe Brida


Jornalista e crítico de cinema, Rubens Ewald Filho já assistiu mais de 30 mil filmes – todos eles catalogados – ao longo de meio século dedicados exclusivamente à apreciação do cinema. Considerado o maior conhecedor de cinema do Brasil, Ewald é lembrado também como o “homem do Oscar”, pelo fato de apresentar a mais importante festa do cinema mundial.
Nascido em Santos no dia 7 de março de 1945, o crítico trabalhou como resenhista de cinema na Rede Globo, revista Veja, TV Cultura, Jovem Pan e Folha de S. Paulo. Apresentou programas especiais sobre filmes no Telecine e também na HBO.
Teve uma rápida experiência como roteirista de cinema – “A árvore dos sexos” e “Elas são do baralho”, ambos de 1977, e também adaptou para a TV o romance “Éramos seis”, de Maria José Dupré, n formato de minissérie.
Questionado sobre os grandes de todos os tempos, Ewald não hesita em responder Humphrey Bogart, Bette Davis e Sean Connery. Já os melhores filmes, “2001 – Uma odisséia no espaço” e “Oito e meio”.
Rubens Ewald Filho não abre do seu trabalho e diz que quer continuar por muitos e muitos anos acompanhando cinema. Além de escrever resenhas sobre lançamentos em DVD na UOL, dedica-se atualmente ao teatro, como diretor. Lançou este mês um programa inovador de entrevistas e comentários de filmes, “Cinema com Rubens Ewald Filho”, na TV Click UOL. Lançou há dois meses seu sétimo guia de DVD, que conta com 1800 filmes analisados.
Em entrevista especial ao Notícia da Manhã, Rubens Ewald Filho conta um pouco mais de sua trajetória como crítico e faz um paralelo entre o cinema antigo e o contemporâneo. Confira!


NM – Rubens, nesses 50 anos dedicados ao cinema, o senhor assistiu a mais de 30 mil filmes. De onde veio essa apreciação pela sétima arte?


Ewald – Essa paixão pelo cinema nasceu como resposta a uma infância solitária e reprimida. Nunca tive amigos, não brincava com as outras crianças – aliás, quando pequeno, nunca saía de casa, tudo era proibido pelos meus pais. E o cinema era a minha droga (e continua sendo). Era uma maneira de escapar do dia-a-dia. Via na tela do cinema e na TV um mundo de sonho e fantasia, como se fosse uma mistura de “A rosa púrpura do Cairo” e “A história sem fim”. Outro refúgio também era a leitura. Cinema e literatura representavam, naquele momento específico da minha vida, um universo paralelo para a construção de um mundo diferente. Pra se ter idéia da minha infância sofrida, até completar nove anos de idade, quando nasceu meu único irmão, não me lembro de nenhuma passagem da minha vida. Bloqueei tudo, menos os filmes que eu vi.


NM – E quando surgiu as primeiras críticas de cinema?

Ewald – Logo na infância. A partir dos 10 anos comecei a anotar em um caderno o nome dos filmes que assistia. Colocava também uma sinopse e outros complementos. A crítica nasce justamente porque eu era um observador do mundo e não um participante. Com essa perspectiva comecei a esboçar o meu futuro trabalho. Outro ponto importante é que eu era autodidata; quando entrei na faculdade de cinema, anos mais tarde, já estava praticamente formado.


NM – A crítica influencia como formação de opinião?

Ewald – Sim. A crítica influencia demais, faz o público assistir ou não ao filme no cinema. A crítica ajuda a alimentar a bilheteria de um filme no sentido de chamar a atenção das pessoas para aquela obra lançada.


NM – Diante dessa concepção, qual deve ser o papel de um crítico de arte?

Ewald – Aliada à crítica vem o papel do crítico. Este não deve se restringir apenas em falar bem ou falar mal de um filme. Ser crítico de arte envolve uma gama de elementos. É saber usar sua experiência para levar conhecimento ao público. É quebrar paradigmas e falsas idéias. É colaborar na construção da sociedade. É assim que procuro trabalhar e ser reconhecido.


NM – O cinema contemporâneo segue os passos do cinema antigo?

Ewald – É complicado falar sobre cinema na modernidade, às vezes o assunto me desalenta. O mundo inteiro deteriorou de uns 30 anos para cá, em todos os sentidos. Antes, no cinema havia Truffaut, Pasolini e Fellini, era um luxo só. Um cinema reconhecido e aplaudido de verdade, causador de emoção e questionamentos. Hoje já não existe mais isto. São pouquíssimos os filmes atuais que se tornam clássicos ou obras-prima. Sou feliz de ter me apaixonado pelo cinema nos anos 60, o “cinema de verdade”, quando os filmes italianos eram a expressão máxima, a Nouvelle Vague estourava na França, e Hollywood iniciava a renovação.



NM – Considera-se um nostálgico com um pé no saudosismo?

Ewald – No melhor sentido da palavra eu sou um nostálgico sim. Assisto aos filmes antigos com saudade daquele sabor de época que vivi e que hoje não existe mais. Por isso minha grande paixão é rever obras do cinema antigo.


NM – Rubens, o senhor vem desenvolvendo um notável trabalho como coordenador da elogiada Coleção Aplauso. Como tem sido a aceitação do público quanto às obras publicadas?

Ewald – A Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado, é uma forma de registro da memória da TV e do cinema. São biografias de artistas que fizeram e fazem parte do imaginário do público. Assim como escrevi e organizei o “Dicionário dos Cineastas”, criamos a coleção, a pedido do próprio público, para que jovens e adultos utilizassem o material como consulta sobre a vida dos biografados. Não fizemos os livros para se tornaram best-sellers. Pelo contrário, são livros voltados especialmente à formação de alunos, vendidos a preços acessíveis. Por isso os exemplares são distribuídos às bibliotecas de escolas estaduais. É uma proposta diferenciada da Secretaria de Educação e de Cultura do Estado. Recentemente levei títulos da coleção para o departamento de “estudos brasileiros” na Universidade de Harvard. Estamos com mais de 140 biografados, além de registros do cinema, como a publicação de roteiros de cinema não-adaptados. O projeto continua a todo vapor, e em 2009 deveremos lançar mais títulos. Aguardem!



(*) Entrevista publicada no jornal Notícia da Manhã, periódico de Catanduva, na edição do dia 26/09/2008. Créditos para a primeira foto de R. Ewald Filho: Felipe Brida. Outras fotos: Divulgação.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Cine Lançamento

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Longe dela

Professor universitário aposentado, Grant Anderson (Gordon Pinsent) descobre que a esposa, Fiona (Julie Christie), sofre de mal de Alzhaimer. Ela aceita tratar-se em uma clínica psiquiátrica, e o marido, apesar de relutante no início, acaba internando-a.
No entanto, as regras da clínica são claras: a paciente não deve ter contato com nenhum familiar durante os primeiros 30 dias de internação. Vencido o prazo, na primeira visita Fiona não reconhece mais o marido e demonstra estar apaixonada por um paciente, Aubrey (Michael Murphy).
E chega às locadoras, com atraso de quase dois anos, este sensível drama produzido no Canadá duas vezes indicado ao Oscar 2008 – melhor atriz (Julie Christie), premiada com o Globo de Ouro pela atuação, e roteiro adaptado. A talentosa atriz Sarah Polley faz aqui sua estréia promissora como diretora e roteirista ao adaptar para as telas um de seus contos preferidos, “The bear came over the mountain”, da escritora canadense Alice Munro. E na pré-produção da fita já idealizava Julie Christie como personagem central, ou seja, escreveu o papel para a atriz.
A história aborda um tema bastante discutido hoje em todo o mundo – o mal de Alzhaimer e as conseqüências da doença no círculo familiar do paciente. O que poderia cair em um dramalhão pesado resulta em um sólido poema de amor aos apaixonados e à vida.
E tudo dá certo no filme: há uma química gostosa entre o casal – Julie está esplêndida e Pinsent brilha na pele de um personagem dividido entre a razão e a emoção (que reflete o ser humano indeciso diante de situações tão delicadas e ao mesmo tempo tão comuns de nós) –, uma dose equilibrada de romance, drama e humor, e um desfecho lírico na medida certa para comover os mais sensíveis. Os românticos não devem perder. Por Felipe Brida

Título original: Away from her
País/Ano: Canadá, 2006
Elenco: Gordon Pinsent, Julie Christie, Michael Murphy, Olympia Dukakis, Wendy Crewson, Alberta Watson, Grace Lynn Kung
Direção: Sarah Polley
Gênero: Drama
Duração: 109 min.
Lançamento: Primeira quinzena de setembro
Distribuidora: Lions Gate/ Moviemobz

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Entrevista Especial


“O teatro é o altar do ator”, destaca a atriz Eliana Guttman (*)

Felipe Brida

De origem judaica, a atriz Eliana Guttman é um dos nomes de destaque da nova safra cultural brasileira. Descendente de poloneses, Eliana desenvolve trabalhos em todos os ramos da arte e da comunicação. Seu currículo inclui filmes, telenovelas, seriados e comerciais de televisão. Mas é no teatro que a atriz de 54 anos, paulistana da gema, adquire inspiração para seguir adiante a carreira.
Em entrevista especial ao Notícia da Manhã, Eliana Guttman fez um amplo retrato sobre a situação do teatro do País, tanto pela perspectiva dos artistas quanto do público. Confira abaixo.

NM – Eliana, você vê o teatro como a base da preparação artística e profissional do ator?

Eliana – Sim, o teatro é, sem dúvida, a base do trabalho do ator. Ali, ao vivo, com o público, sentindo a energia das pessoas que compõem a platéia, o ator aprende a compor o seu trabalho. Ele (o ator) não pode errar, tem de ser criativo, concentrado, improvisar, ter jogo de cintura; assim ele acaba moldando seu perfil para atuar em outro ramo além do teatro. Já na TV e no cinema a atuação e preparação do ator tornam-se diferentes. Lá nós podemos errar, pois temos a possibilidade de regravar tudo, depois vem a edição que ajuda a retirar os erros e excessos. Para mim, o teatro é o altar do ator. É onde eu mais me inspiro e me realizo como artista. Graças a Deus (e espero que aconteça pelo resto de minha vida) continuo à frente do teatro.

NM – Sobre o outro lado da moeda – a platéia – qual a situação hoje do público? As pessoas aderem ao teatro?

Eliana – Infelizmente presenciamos situações realmente deprimentes; há vezes em que a peça é exibida para um público de 15, 20 pessoas. A triste realidade é que o público ainda não sabe o que é o teatro e qual a mensagem que ele produz. Isto é conseqüência de um país com cultura deficiente. O fato de não termos expectadores na platéia é diretamente proporcional àquilo que vemos fora do teatro, por exemplo: o povo sofre com a falta de educação e de segurança, no sentido de formação pessoal da população. São algumas das razões estas que geram o problema cultural que o País enfrenta.

NM – Mas nada tem mudado?

Eliana – Pouco se mudou. Mas mudou. Apesar de sempre a mesma elite adquirir o ingresso para as peças, de uns tempos para cá percebi que unidades escolares incentivam os alunos a ir ao teatro. Tal medida é enriquecedora não só para o artista, mas em especial para o próprio público que acaba por experimentar o espaço do teatro. Existem muitos movimentos pró-teatro na contramão desse pouco público que ainda vemos na platéia. Os jovens hoje estão adquirindo o hábito de freqüentar o teatro, uma façanha inédita, podemos assim destacar. Talvez sejam futuros autores ou mesmo atores, mas não importa; esse grupo está lá marcando presença. Confesso que isto me alenta. Tenho esperança que o quadro mude rapidamente.

NM – Eliana, sobre cultura televisiva, aquela que mais atrai audiência no País, como analisa o crescente número de artistas que se formam anualmente e a saturação dos programas de TV, em especial as novelas?

Eliana – O mercado é restrito para a quantidade de artistas que se forma ano a ano no Brasil. Resta a alguns saír em busca de algo no estrangeiro. Recentemente amigos meus foram para atuar em séries de TV na Venezuela. Um ponto positivo quanto à imagem do artista é que, de uns anos para cá, houve aumento no número de programas vendidos para o mundo inteiro. O mercado internacional compra as novelas nossas. Voltei de Israel em abril, e vi que lá tem um canal só com novelas, 24 horas por dia. Duas novelas brasileiras – uma delas “Belíssima“ fazem sucesso no país. Inclusive “Esperança”, em que atuei, passou em Israel há pouco tempo e tornou-se mega-êxito de audiência, por tratar sobre o judaísmo.

NM – Por falar na novela “Esperança”, qual sua visão sobre o Brasil valorizar questões culturais de outros países?

Eliana – Em “Esperança” fiz a Tzipora, personagem do núcleo central – eu era a mãe da protagonista –, um papel de destaque. De imediato aprovei essa preocupação dos autores da novela em focar uma cultura bem desconhecida e não tão familiar dos brasileiros, no caso a dos judeus. Antes a Globo havia investido em “O clone”, na mesma linha, que fez sucesso. Em “Esperança” havia uma mistura de línguas e raças: mostravam-se as colônias judaicas, espanholas e italianas de maneira fenomenal. E o mais interessante é que não deixou de mostrar um pouco de nós, brasileiros, um povo miscigenado e produto dessas culturas. Eu, por exemplo, sou filha de uma judia descendente de poloneses e casada com um católico neto de italianos e portugueses; olha só como o sangue se mistura! O Brasil é essa torre de babel maravilhosa.

Conheça a atriz

Eliana Guttman nasceu em São Paulo no dia 15 de março de 1954. Formada pela EAD/USP (Escola de Arte Dramática) em 1989, trabalhou como secretária bilíngüe e iniciou a carreira em teatro no final dos anos 80. Dentre suas peças premiadas estão “Angels in América”, “O enigma Blavatsky”, “Dorotéia vai à guerra”, “Um violinista no telhado”, “Querida Helena” e “Estranho amor”.
Em novelas atuou em “Xica da Silva” (foto ao lado) e “Mandacaru”, na Manchete; “Meu pé de laranja lima”, na Band; “Torre de Babel”, “Força de um desejo” e “Esperança”, na Rede Globo; “Cristal” no SBT e “Luz do Sol”, na Record.
No cinema, atuou “Feliz ano velho”, “Sabor da paixão”, “Olga”, “Bellini e a esfinge” e “Xangô de Baker Street”. A atriz é casada com o ator Giulio Lopes, que concedeu entrevista ao NM na edição do dia 29 de agosto.

(*) Entrevista publicada no jornal Notícia da Manhã, periódico de Catanduva, na edição do dia 12/09/2008. Fotos: divulgação.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cine Lançamento


Ponto de vista

Na abertura de uma conferência sobre combate ao terrorismo em Salamanca, Espanha, o presidente dos Estados Unidos Ashton (William Hurt) é baleado. Dois agentes do Serviço Secreto, Barnes (Dennis Quaid) e Taylor (Matthew Fox), encarregados da proteção da autoridade política, saem à captura dos criminosos. Na multidão alvoroçada está o turista Howard Lewis (Forest Whitaker), que, com uma câmera portátil, filma todo o crime. A partir daí diversos pontos de vista mostram o que realmente aconteceu naquela fatídica tarde.

Em sua primeira investida em longa-metragem, o diretor de seriados Pete Travis demonstra competência com esta movimentada fita policial, criativa e cheio de peripécias. A proposta do filme trabalha um atentado – e suas conseqüências de âmbito social – sob as diferentes perspectivas dos principais envolvidos no incidente. E a cada etapa do processo, novos detalhes sobre o caso são acrescentados à trama, o que faz da fita um gigante quebra-cabeça.
Basicamente a idéia central está aí. E o resultado só dá certo graças à nervosa edição, concebida pelo especialista Stuart Baird, indicado duas vezes ao Oscar – “Nas montanhas dos gorilas” (1988) e “Superman – O filme” (1978).
Apesar do vai-e-vem da apresentação inicial da história, que parece nunca decolar, a narrativa só se destrincha na metade da fita. É quando o ritmo muda e cai nos exageros, principalmente a partir da reviravolta danada envolvendo o presidente. Por falar em excessos, preparem-se para barulhentas perseguições à la “Ronin”, uma marmelada de tirar o fôlego.
A poderosa temática sobre ataques terroristas emoldura um painel recortado sobre a criminalidade urbana gerada pelo extremismo. Como complemento evidencia-se também uma pequena amostra de uma sociedade multiétnica dominada pela intolerância pós-moderna, sob a ótica do medo dos norte-americanos em decorrência do 11 de setembro. Em razão de um tema tão forte e discutido fica fácil perdoar os exageros e as mensagens patrióticas.
Rodado no México e com vistas aéreas da real Salamanca, na Espanha, o longa é criativo e ainda faz questionar valores sociais. No elenco, importantes nomes do cinema como Dennis Quaid, Forest Whitaker, William Hurt e Sigourney Weaver (ainda que em papel pequeno).
Vale destacar que a “brincadeira” com a linguagem (unir perspectivas passo a passo para chegar à uma verdade unânime) não é inovadora. A técnica é antiga – remete a “Rashomon” (1950, de Kurosawa) – porém atualmente pouco utilizada pelos cineastas. Por Felipe Brida

Título original: Vantage point
País/Ano: EUA, 2008
Elenco: Dennis Quaid, Matthew Fox, Forest Whitaker, William Hurt, Sigourney Weaver, Bruce McGill, Edgar Ramirez, Eduardo Noriega, .
Direção: Pete Travis
Gênero: Policial/Drama
Duração: 90 min.
Lançamento: Segunda quinzena de agosto
Distribuidora: Columbia Pictures

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Especiais Sobre Cinema


Brazilian Film Festival of Toronto encerra programação com 234 filmes inscritos

Cineastas de todo o país enviaram seus filmes para participar da mostra competitiva da segunda edição do Brazilian Film Festival of Toronto (Festival de Cinema Brasileiro em Toronto) que será realizado no Bloor Cinema, em Toronto, sul do Canadá, entre os dias 6 e 9 de novembro. Dos 234 filmes inscritos, sete são de co-produções realizadas com a Bélgica, Estados Unidos, Cuba, Espanha, Canadá, Alemanha e Portugal. A curadoria do Festival é do jornalista e crítico de cinema, Celso Sabadin. O Conselho Consultivo do Festival é formado por Paulo Mendonça (Canal Brasil) e pelos jornalistas Adhemar Altieri, Adriana de Castro, José Roberto Luchetti e Malu Mota.
A mostra engloba filmes de longa, média e curta metragem de todos os gêneros (documentário, ficção, drama, comédia, animação, suspense, terror, experimental, musical e infantil). Os filmes escolhidos concorrerão ao Troféu Golden Maple, desenvolvido pelo designer Nilson J. dos Santos, da Ponto & Letra. São cinco categorias: melhor ator, atriz, diretor, filme e o melhor do público. Conheça mais sobre o festival: http://www.brafft.com

Up to 3

Em sua segunda edição, o Festival de Cinema Brasileiro de Toronto também realiza o UP TO 3´ (http://www.upto3.ca/), mostra de animação de até três minutos de duração, nas categorias autoral e acadêmico. As inscrições estão abertas até o dia 20 de setembro, e a seleção será realizada por um Conselho que reúne profissionais de diversas áreas que se utilizam da animação – games, novas mídias, autoral, publicidade, mercado de entretenimento e quadrinhos – com o objetivo de trazer uma análise de visão multidisciplinar das obras.

Repercussão

Em 2007 foram apresentados 20 filmes na primeira edição do Festival. Como fruto do trabalho desenvolvido em 2007 – o evento está registrado na Ancine e faz parte do Guia Brasileiro de Festivais de Cinema e Vídeo 2008, publicado pela Associação Cultural Kinoforum - os organizadores do Festival foram convidados para co-apresentar filmes no Festival de Cinema de Língua Portuguesa de Toronto. Os filmes indicados foram: "O Rito de Ismael Ivo" e "O Moleque" (foto ao lado), do cineasta Ari Cândido Fernandes, premiado como melhor curta do Festival. Co-apresentaram também uma mini-mostra de filmes brasileiros durante o “Ritmo y Color Festival”, que apresenta a arte e a cultura latino-america no Harbourfront Centre, um dos pólos culturais mais importantes de Toronto. O público aplaudiu cinco filmes: Os dois filhos de Francisco (Breno Silveira), Vinícius (Miguel Faria Júnior), Doutores da Alegria (Mara Mourão), A pessoa é para o que nasce (Roberto Berliner) e À meia-noite levarei a sua alma (José Mojica Marins).

Iniciativa

A iniciativa do festival é fruto de uma parceria entre a empresa brasileira Puente, da jornalista Cecília Queiroz e da canadense Southern Mirrors, da atriz e produtora cultural Bárbara de la Fuente. Segundo as organizadoras, o número de inscritos reforça o aquecimento do mercado e possibilita mostrar ao público canadense a diversidade do cinema nacional e sua interpretação sobre a cultura brasileira.
O Festival possui registro junto à Lei Rouanet e está atualmente em fase de captação de patrocínio para sua segunda edição. Tem apoio das empresas canadenses Mellohawk, Tourism Toronto, Sementeira, A Docuvixen Film, CMichelon, Abacus, PanTV, Wave Magazine, Real Trade Magazine e das brasileiras Miolo, Quanta, Canal Brasil, Revista de Cinema, Abrafic – Association of Brazilian Film Comission, CEC - Centro de Educação Canadense, Planeta Tela, Ponto e Letra, Gráfica Iara, Graffbox Embalagens, SPTuris - São Paulo Turismo, São Paulo Convention Bureau, Roteiro do Imóvel, Instituto Cefac, Castellano, Bono & Peixoto Advogados e Consultores Jurídicos, além do Jornal Centro em Foco, Jornal do Golfe, portal WMulher, Curta o Curta e Projeto 123. Por Felipe Brida (com informações da Puente Agência de Comunicação).

domingo, 7 de setembro de 2008

Resenhas & Críticas


Atos que desafiam a morte

O ilusionista Harry Houdini (Guy Pearce) chega a Edimburgo para uma turnê de mágicas. Lá conhece uma médium trapaceira, Mary McGarvie (Catherine Zeta-Jones), por quem se apaixona. Ambos iniciam um romance secreto.

Em plena safra de filmes sobre ilusionismo – “O ilusionista” e “O grande truque” – surge este novo drama romântico dirigido pela australiana Gillian Armstrong, que optou em dividir a história em duas situações divergentes: por um lado remonta trechos da vida do famoso mágico húngaro Harry Houdini (1874-1926), inclusive seu assassinato, e ao mesmo tempo une na trama elementos ficcionais, como o evento-chave, o romance com a médium. O resultado desta fusão é um bonito filme, desconhecido pelo público e abandonado pela crítica.
O trio central está em forma. Pearce se dá bem na pele de um Houdini sério e misterioso, atualização das versões anteriores; Catherine com sua beleza descomunal segura o papel da médium golpista; e a jovem Saoirse, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante este ano pelo excelente drama de época “Desejo e Reparação”, interpreta a filha da personagem de Catherine. É ela quem narra a história por meio dos conflitos observados.
Outro ponto alto da fita é a retumbante fotografia em três tonalidades – azulada, escura e embaçada – que recria um clima fúnebre e envolve os personagens.
Mas é o público feminino quem deverá apreciar mais esta fita que mistura paixão e tragédia na medida certa. E quando termina fica aquele gostinho de esplendor da refinada produção. Por Felipe Brida

Título original: Death defying acts
País/Ano: Inglaterra/Austrália, 2007
Elenco: Catherine Zeta-Jones, Guy Pearce, Saoirse Ronan, Timothy Spall, Jack Bailey, Aaron Brown, Silvia Lombardo.
Direção: Gillian Armstrong
Gênero: Drama
Duração: 97 min.
Lançamento: Segunda quinzena de junho
Distribuidora: Imagem Filmes/ The Weinstein Company

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Entrevista Especial


Papo de cinema
Luiz Carlos Merten: entre Rocco, dragão, ratos e loura (*)


Felipe Brida

Jornalista e crítico de cinema desde os anos 70, Luiz Carlos Merten “vive” intensamente a sétima arte todo o santo dia, seja na redação de o “Estadão”, onde escreve resenhas e edita reportagens, ou em seu apartamento, quando, sossegado, reserva um tempo para analisar um Resnais, um Glauber e ou mesmo um Hitchcock. Segundo Merten, “o cinema me inspira e instrui a minha vida”.
Confira abaixo um bate papo com o crítico de cinema, em entrevista exclusiva ao Notícia da Manhã, aonde o jornalista relembra os “eternos” filmes e retrata um pouco mais da paixão pela sétima arte.


NM – Merten, o senhor acompanha cinema desde criança ou é daqueles que adquiriu o hábito na faculdade, quando tinha de analisar filmes cults e históricos?

Merten – Sou o do primeiro grupo, que acompanha cinema desde a infância! A localização da minha casa ajudava muito: em Porto Alegre (RS), onde nasci, existiam salas e mais salas de cinema nos quarteirões vizinhos. Era bem acessível. Eu assistia a filmes, mas nunca fui de ser aficcionado (igual o amigo Rubens Ewald Filho) em anotar nomes e sinopses em cadernos. Eu “ingeria” cinema aos montes. Perdi a conta de quantos filmes vi. Na minha infância, fim dos anos 50, era diversão pura acompanhar chanchadas brasileiras, musicais da Metro e western da Republic. Depois, o gosto foi se sofisticando, você começa a ler sobre a sétima arte, a aprender com professores em faculdade e ser estimulado a refletir quando a obra é complexa. Mas o princípio foi o básico: eu mesmo aprendi a gostar de cinema na infância. Não havia tradição familiar, nem tios cinéfilos.

NM – Seria difícil apontar os “eternos” filmes?

Merten – Sem dúvida esta é uma questão difícil. Mas vamos tentar. Todas as pessoas que me conhecem sabem que o filme da minha vida é “Rocco e seus irmãos” (1960). Não que eu viva qualquer situação daquela retratada no filme de Luchino Visconti, porém, quando o assisti pela primeira vez em 1960 – ainda muito criança – a obra, que já era proibida devido à cena do estupro, causou-me um choque que durou semanas. Até hoje não entendo como consegui entrar no cinema, eu tinha 13 anos e era miúdo, franzino. Todas as vezes que revi o filme concebia novas leituras e sempre o teor me atingia. Hoje em dia “Rocco” virou utopia. Por exemplo, no final, quando na dissolução da família na cidade grande, Visconti bota aquela estrada da vida e o discurso de Ciro sobre o irmão pequeno que vai voltar para o país, que vai existir um mundo novo e melhor. Aquilo é de arrasar ainda mais se trouxermos a temática para os dias atuais, em referência a esse mundo caótico e violento que vivemos. “Rocco” faz parte das minhas lembranças mais profundas, meu imaginário mesmo. Não existe só este na lista; adoro “Rastros de ódio”, de John Ford, “Hiroshima, meu amor”, de Alain Resnais, e “Exodus”, de Otto Preminger. Gosto bastante “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”, de Glauber Rocha. Só pra frisar, reconheço a importância da estética de Glauber no cenário do cinema no Brasil, porém este é seu único filme que me arrebata.

NM – E quanto ao cinema recente, quais produções que valem ser destacadas? Como avalia a safra de 2007?

Merten – Adorei o diálogo com o brega que o diretor brasileiro Carlão Reichenbach faz em seu recente “Falsa Loura”, até porque não andava curtindo os últimos filmes do diretor. Ele integra as metáforas visuais de forma genial e criativa. E o fato de o filme ser brega, ter aquele humor escrachado, não impede que as relações familiares da protagonista Silmara (grande interpretação da Rosanne Mulholland) com o pai atinjam maior carga de densidade dramática. Vi um filme em que pude me diverti, mas que também me emocionei. Curti muito “Estômago”, do diretor Marcos Jorge, com o magnífico João Miguel. A safra 2007 foi de bons filmes – não um arraso, mas de poucas e boas fitas que devem ser vistas. O alemão “A vida dos outros” e o chinês “Em busca da vida” podem ser mencionados como exemplo; fiquei embasbacado com “Pecados íntimos”, mas, sem sombra de dúvida, o melhor filme de 2007 foi “Ratatouille”. Amo loucamente esta animação da Pixar, dirigida por Brad Bird e que ganhou o Oscar de animação este ano. Viva “Ratatouille”!

Quem é

Crítico de cinema do Estadão desde 1989, Luiz Carlos Merten nasceu em Porto Alegre na segunda metade dos anos 40 e formou-se em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Autor de livros sobre cinema, Merten foi professor de Semiótica e Teoria da Comunicação na PUC-RS. Mantém, pelo Estadão, o blog “Uma geléia geral a partir do cinema”:
http://blog.estadao.com.br/blog/merten

(*) Entrevista publicada no jornal Notícia da Manhã, periódico de Catanduva, na edição do dia 05/09/2008. Fotos: divulgação.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Morre o ator Fernando Torres


O ator e diretor Fernando Torres morreu na tarde de hoje aos 80 anos em sua residência no Rio de Janeiro. Marido de Fernanda Montenegro e pai da atriz Fernanda Torres e do cineasta Cláudio Torres, ele estava debilitado desde 2006 e locomovia-se com ajuda de cadeira de rodas. A causa da morte não foi divulgada.
Nascido no Rio de Janeiro em 14 novembro de 1927 e formado em Medicina, Torres estreou no teatro em 1949. Um ano depois conheceu Fernanda Montenegro durante a peça “Alegres canções nas montanhas”, e ambos se casaram em 1952. Dois anos mais tarde mudaram-se para São Paulo, onde firmaram sólida carreira tanto no teatro quanto na TV.
No final dos anos 50 o ator fundou, com a ajuda da esposa e dos amigos Gianni Ratto, Ítalo Rossi e Sergio Britto, o “Teatro dos Sete”, bastante notório nos anos 60.
Torres ainda trabalhou em novelas como “Baila comigo” (1981), “Sétimo sentido” (1982), “Amor com amor se paga” (1984), “Zazá” (1997) e “Laços de família” (2000). No cinema fez poucos filmes, dentre eles “Os inconfidentes” (1972), “Tudo bem” (1978), “Inocência” (1983), “O beijo da mulher aranha” (1985), “Ação entre amigos” (1998) e “Redentor” (2004). Pelo drama “A ostra e o vento” (1997) ganhou o prêmio do júri na categoria ator coadjuvante no Festival de Recife (Cine-PE).
Além da esposa e filhos, Fernando Torres deixa quatro netos. Por Felipe Brida

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cine Lançamento


Aventuras no Novo Ártico

Neste novo documentário dos mesmos produtores de “A marcha dos pingüins”, cinegrafistas acompanham a saga de um filhote de urso polar, Nanu, e de Seela, uma morsa recém-nascida, em meio à gélida paisagem do Ártico. Duas criaturas que, apesar de viverem no mesmo ambiente, são caça e caçador, e lutam pela sobrevivência.

Durante 15 anos o casal de cinegrafistas Adam Ravetch e Sarah Robertson, integrantes do National Geographic Society, captaram imagens reais de ursos polares, morsas e leões-marinhos no Ártico para montar este bonito documentário, narrado pela atriz negra Queen Latifah. Segundo os diretores, as gravações totalizam mais de 800 horas! E na montagem optaram em focar dois personagens – um urso polar e uma morsa que, ajudados pelas mães, enfrentam perigos para sobreviver no gelo. No mesmo estilo de narração intimista de “A marcha dos pingüins”, os animais adquirem traços humanizados; os pensamentos de cada um deles ficam expostos para que a narrativa interativa seja criada. Para quem admirou “A marcha” e para os que acompanham National Geographic, o filme deverá agradar.
A partir da metade da fita faz-se menção ao aquecimento global para explicar as transformações no ambiente e fechar os porquês da fuga dos animais polares. Os diretores também aproveitam para cutucar os caçadores como forma de apontar a matança ilegal e a extinção de determinadas espécies.
Em tempos de aquecimento global, efeito estufa e conscientização sobre questões ambientais, vale conferir este novo documentário, curto e com uma bonita mensagem final, que chega sem publicidade às locadoras. Por Felipe Brida

Título original: Arctic tale
País/Ano: EUA, 2007
Elenco: Queen Latifah (narração).
Direção: Adam Ravetch e Sarah Robertson
Gênero: Documentário
Duração: 86 min.
Lançamento: Segunda quinzena de agosto
Distribuidora: Paramount