O rei dos reis
Animação religiosa que alcançou
números impressionantes de bilheteria, obtendo U$ 20 milhões somente no fim de
semana de estreia nos Estados Unidos na semana passada, ‘O rei dos reis’ chega
ao Brasil nos cinemas – e pelo mundo vem fazendo uma boa campanha. Com distribuição
da Angel Studios, distribuidora cristã fundada em 2021 nos Estados Unidos e que
lançou ao mercado a série de sucesso ‘The chosen’ – recém-rompida com a Angel, o
filme traz o escritor britânico Charles Dickens narrando para seu filho Walter,
antes de dormir, a trajetória de Jesus Cristo - e o garoto se imagina dentro
dessa história. Por trás disso, a história é real e pouco conhecida do público,
que se tornou pública e notória apenas recentemente - realmente, Dickens, autor
de ‘Oliver Twist’ e ‘Um conto de natal’, escreveu um livro infantil para seu
filho sobre a vida de Cristo. Isso por volta de 1846, porém a obra foi
publicada apenas em 1934, 65 anos após a morte do autor, de título ‘A vida de
nosso Senhor’. A animação, então, reimagina esses fatos misturando com a
jornada de Cristo, do nascimento até a crucificação. É um filme que carrega – é
de se notar pelo teor das obras cristãs da Angel - um lado moralizante/instrutivo/educativo
que, confesso, não funciona para mim. Mas sei que muita gente consome, assiste
e indica. Dirigido por um sul-coreano, Seong-ho Jang, que faz aqui sua estreia
após trabalhar como animador de efeitos visuais – o filme é produzido por uma
empresa coreana, Mofac Studios, e reúne um time de nomes consagrados: Kenneth
Branagh (como Charles Dickens), Uma Thurman (como Catherine Dickens), Oscar
Isaac (como Jesus Cristo), Ben Kingsley (como Caifás), Forest Whitaker (como o
apóstolo Pedro), Pierce Brosnan (como Pôncio Pilatos) e Mark Hamill (como o Rei
Herodes). No Brasil a dublagem conta com Guilherme Briggs e Luiz Carlos de
Moraes, por exemplo. Quem escreve é Rob Edwards, corroteirista das animações ‘A
princesa e o sapo’ (2009) e ‘Sneaks: De pisante novo’ (2025, que está nos
cinemas também). No Brasil a distribuição nas salas é pela Heaven Content,
outra distribuidora de filmes cristãos.
Bolero – A melodia
eterna
Ex-atriz nos anos 70 e
80, Anne Fontaine se dedica à direção desde a década de 90, e já assinou filmes
franceses admiráveis, como ‘Agnus dei’ (2016) e ‘Marvin’ (2017). No Brasil,
acaba de ser lançado nos cinemas seu novo trabalho, inspirado em fatos
verídicos, ‘Bolero – A melodia eterna’, exibido na última edição do Festival
Varilux de Cinema, em novembro de 2024. Com roteiro dela, adaptado de um ensaio
do musicólogo Marcel Marnat, o drama musical reúne trechos da vida do compositor
e pianista francês Maurice Ravel (1875-1937), focando, como o próprio título induz,
na criação de sua obra-prima, ‘Bolero’. O contexto é a Paris da década de 20,
quando Ravel, apaixonado por música desde criança, agora aos 50 anos, recebe o
convite da dançarina ucraniana Ida Rubinstein para escrever uma parte do balé em
que ela estava envolvida. Sem inspiração, Ravel se agarra a fatos passados, revisita
a infância e juventude, lembrando os traumas da Primeira Guerra e do amor não
correspondido de sua musa, Misia Sert, que era patrona das artes, e assim
começa a planejar ‘Bolero’, que demorou três meses para ser escrito. Concebido
originalmente como uma peça de orquestra sem música, foi lançado em 1928 e se
tornaria uma das músicas mais tocadas no mundo, que já foi tema de vários
filmes – na abertura, temos a dimensão disso, com versões de ‘Bolero’ pelo
mundo, instrumentais e cantadas por indianos, japoneses, espanhóis etc. O filme
tem uma riqueza de figurinos e uma fotografia que realça o visual de Paris dos
anos vibrantes da efervescência cultural. Exibido no Festival de Rotterdã, o
drama, coprodução França/Bélgica, conta com um bom elenco, como Raphaël
Personnaz, de ‘Anna Karenina’ (2012), como Ravel, Doria Tillier, de ‘Monsieur
& Madame Adelman’ (2017), como Misia, Jeanne Balibar, de ‘Os miseráveis’ (2017),
como Ida, e uma breve participação de Vincent Perez, de ‘A rainha Margot’ (1994).
Em cartaz nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília,
Vitória, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Salvador e Recife, com
distribuição da Mares Filmes.
Born in flames
O Sesc Digital,
plataforma de streaming do Sesc lançado em 2020, na pandemia, resgata filmes cult
esquecidos e disponibiliza os títulos de forma gratuita para apreciação do
público. Está no acervo ‘Born in flames’, intitulado no Brasil como ‘Nascidas
em chamas’, um documentário/ficção de 1983 exibido nos festivais de Nova York, Toronto
e Berlim (onde ganhou prêmio especial), cuja trama transcorre num futuro
distópico nem tão longe assim. Com a chamada ‘Segunda Revolução Cultural’, ou ‘Revolução
Cultural, Social e Democrata Norte-americana’, um movimento pacífico, de orientação
socialista, expande-se em Nova York o Exército das Mulheres, após o assassinato
de sua líder, Adelaide Norris (Jean Satterfield), uma mulher negra de ideias
radicais. Figuras femininas de classes sociais e gêneros se juntam para
refundar a sociedade americana, lutando contra o racismo, a homofobia e a misoginia.
Elas fazem manifestações pelas ruas, dão entrevistas e chacoalham a mente das
pessoas com suas novas propostas de se pensar identidade, sexualidade e
liberdade. Misturando videoclipes com fantasia, ficção científica, cenas reais
da agitada Nova York dos anos 80 e entrevistas falsas – é também um ‘mockumentary’,
um falso documentário, que virou um marco do cinema independente, um cinema de
guerrilha/revolucionário e feminista, feito pela diretora Lizzie Borden, que
depois voltaria a fazer filmes provocativos sobre sexismo como ‘As profissionais
do sonho’ (1986). Traz participação das atrizes Florynce Kennedy e Adele Bertei
e uma pontinha da cineasta Kathryn Bigelow como uma editora de jornal. Disponível
no Sesc Digital até hoje, em ótima cópia, preservada pelo Anthology Film
Archives com a restauração financiada pela Hollywood Foreign Press Association
e The Film Foundation.
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