segunda-feira, 28 de abril de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 2


O contador 2
 
Nove anos depois de ‘O contador’ (2016), um filmaço de ação com Ben Affleck que dava um nó em nossa cabeça, Gavin O'Connor reuniu a mesma equipe para uma continuação, agora mais excitante. Mesmo com toda a complexidade da trama e das camadas dos personagens, o filme de ação e suspense é uma boa surpresa e acaba de estrear nos cinemas brasileiros pela Warner Bros. O astro Ben Affleck retorna no papel de Christian Wolff, um contador forense de mente brilhante e métodos nada ortodoxos para resolver crimes – agora o caso que cai em seu colo é o assassinato de seu ex-chefe (J.K. Simmons), um estranho crime cometido por bandidos desconhecidos. Ele é recrutado por uma agente do Tesouro americano (Cynthia Addai-Robinson) e para investigar as profundezas do caso se une ao irmão distante (Jon Bernthal), um ex-agente policial especializado em rastrear criminosos. Assim como o original, não é uma fita de consumo fácil, a história é complexa, trata do mundo das corporações e de negócios escusos, com muitos diálogos, e poucas, mas caprichadas sequências de ação. A escalação de elenco está preparada para entrar em jogo, num filme sólido, meticuloso, criativo.
 

 
Serra das Almas
 
Diretor de filmes brasileiros notórios da pós-Retomada, como ‘Baile perfumado’ (1997 – junto de Paulo Caldas) e ‘Árido movie’ (2005), o pernambucano Lírio Ferreira volta com todo seu lirismo e realismo em seu novo trabalho, ‘Serra das Almas’ (2024), thriller violento que se passa no interior de Pernambuco. Começa com um roubo de joias organizado por um grupo de desajustados, cujos líderes são dois amigos de infância, hoje traficantes. Perseguidos pela polícia, procurando esconderijo no meio do agreste, eles são vigiados por fantasmas do passado, e caem numa espiral de tormento. O confronto inicial é com a polícia e depois entre eles mesmos, deixando um rastro de crime. O filme mistura a estética poética do diretor, com fé e misticismo num agreste vivo, lugar de perpétua disputa, que absorve os personagens – ‘Serra das Almas’ foi gravado durante dois meses na região de Bezerros, no Pernambuco, e parte na capital, Recife, com um elenco afinado, que entrega tudo, com destaque para o quarteto central, Ravel Andrade, Davi Santos, Julia Stockler e Mari Oliveira. Nos cinemas pela Imagem Filmes. PS - Exibido em outubro de 2024 no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo, onde ganhou o Prêmio Netflix – depois de passar nos cinemas, a produção será exibida na Netflix de mais de 190 países, em breve.
 

 
Sobreviventes
 
José Barahona (1969-2024) foi um diretor e roteirista português, falecido recentemente no auge da carreira, em novembro do ano passado, após longa doença. Da área técnica de som partiu para a direção; dirigiu curtas no fim dos anos 90, dedicando a carreira ao documentário político/historiográfico, e mesmo doente, conseguiu finalizar seu último trabalho, o filme ficcional de drama coprodução Brasil e Portugal ‘Sobreviventes’ (2024), que acaba de ser lançado nos cinemas. Trazendo atores de lá, como Miguel Damião, e daqui, como Roberto Bomtempo, é uma história conflituosa que se passa no século XIX - um grupo sobrevive ao naufrágio de um navio negreiro e fica à mercê numa ilhota, na espera de resgate. Só que a tensão entre brancos e negros aumenta quando ficam sem comida, em meio a uma ilha inóspita, sem vegetação e pessoas. A discussão central é a tensão racial, uma metáfora do colonialismo e escravidão africana, feita em tom épico, com diálogos que lembram poesia, e encenado numa esplêndida fotografia em preto-e-branco. O roteiro é assinado pelo premiado escritor angolano José Eduardo Agualusa, a partir de uma ideia original de Barahona, que corroteiriza. A trilha sonora é do brasileiro Philippe Seabra, fundador da banda Plebe Rude, e em uma das faixas Milton Nascimento empresta sua voz. Exibido em festivais como IndieLisboa, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e Festival de Cinema Brasileiro de Paris, chega aos cinemas pela Pandora Filmes.
 

 
Família
 
Diretor queer, Francesco Costabile realiza aqui seu trabalho mais pessoal, um filme que é um grito de socorro, inspirado em um complexo caso real. O jovem Luigi Celeste mora com a mãe e o irmão mais velho no subúrbio de Roma. O pai, Franco, está preso há nove anos, e a família rompeu o contato com ele, por ser um homem violento, que batia na esposa e ameaçava os filhos desde pequenos. Só que Franco sai da cadeia após cumprir a pena e tenta se reconciliar com a família, mas Luigi volta a sofrer os traumas da infância abusada. Sempre isolado, Luigi, como maneira de extravasar as tensões, entra em um grupo secreto de skinheads, que prepara uma série de ataques contra diversas minorias. Drama e suspense se intercalam num filme cult de primeira linha, numa história que dura 20 anos na vida dos personagens, entre os anos 90 e 2010 – são dois momentos, a primeira parte com a família em crise e as crianças pequenas, depois com os filhos crescidos e o pai preso, num ambiente marcado por traumas e dores, de abuso psicológico, de violência doméstica. É nessa parte que entra outro tema no filme, as organizações skinheads na Itália durante uma nova onda de neofascismo, quando o protagonista passa a integrar um dos movimentos extremistas. ‘Família’ (2024) é um filme duro, pesado, com resoluções difíceis. Venceu seis prêmios no Festival de Veneza, na Mostra Orizzonti, dentre eles melhor filme e melhor ator, o protagonista, o jovem de 22 anos que dá um show, Francesco Gheghi. Indicado ainda a oito prêmios no David di Donatello, o Oscar italiano, e exibido no Festival do Rio do ano passado. Todo o elenco está formidável, em especial os integrantes da família Celeste, com destaque para Francesco Gheghi, o Luigi, Barbara Ronchi como a mãe, Licia, Francesco Di Leva, o pai abusador, e Tecla Insolia, como Giulia, a namorada de Luigi. Inspirado no livro autobiográfico de Luigi Celeste, ‘Non sarà sempre così: La mia storia di rinascita e riscatto dietro le sbarre’. É da Imovision e está disponível na plataforma de streaming dela em parceria com o cinema Reserva Cultural, o Reserva Imovision.



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