domingo, 27 de abril de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas


A mais preciosa das cargas
 
Comovente animação franco-belga para público adulto, que foi exibida no maior festival de cinema animado do mundo, o Annecy, na França, ainda indicada à Palma de Ouro em Cannes e que infelizmente ficou fora da lista de finalistas ao Oscar de 2025. Digo que é para adultos, porque é um filme sério, triste, com poucos diálogos e se contextualiza no Holocausto. Um simplório lenhador e a esposa residem num casebre na floresta, enquanto o mundo se desespera com a Segunda Guerra Mundial. É frio, tudo está congelado. Um dia, a mulher encontra um recém-nascido abandonado na neve, após ser jogado pelos pais de um trem – trem esse que os levava para o campo de concentração. Ela carrega o bebê para casa, comprando um atrito com o marido, que não quer crianças. Aos poucos, o rude lenhador tem o coração amolecido pela criança, afeiçoam-se e passa a cuidar com carinho dela. A bebê cresce, vira uma menina zelosa, e em breve uma surpresa impensável baterá à porta daquela família. A Segunda Guerra e o Holocausto não eram evidentes até a chegada dos últimos trailers de cinema desse filme peculiar, e de fato essa questão vai se confirmado a partir da metade do filme. Conta com uma técnica de ilustração belíssima, inspirada nos quadros do pintor pós-impressionista francês Henri Rivière (1864-1951). É a primeira animação do diretor Michel Hazanavicius, mundialmente conhecido pelo filme que o consagrou com o Oscar de direção, ‘O artista’ (2011) – ele foi quem pintou os quadros para o longa, que demorou cinco anos para ser finalizado. Prepare-se emocionalmente para a terça parte, que é contundente, toca fundo na alma. Último trabalho de Jean-Louis Trintignant, que é o narrador – ele faleceu durante as gravações, em 2022. Assisti à animação no Festival do Rio de 2024, numa sessão lotada, aplaudida no fim. Curtinho, com apenas 81 minutos, saiu com classificação de 14 anos e está nos cinemas pela Paris Filmes.
 

 
12.12: O dia
 
Adiado três vezes desde janeiro de 2025, quando era para ter estreado nos cinemas brasileiros, o angustiante thriller político sul-coreano acaba de entrar em algumas salas, com distribuição pela Sato Company. Também visto como um docudrama, misturando forte comentário social, parte de uma história verídica, ocorrida em 1979, na capital Seul, logo após o assassinato do presidente do país Park Chung-hee, um general autoritário que ficou no poder por 18 anos. A Lei Marcial é decretada, e entra em curso um Golpe de Estado. Até o golpe ser dado pelos militares em 1980, dois grupos políticos entram em desavença, culminando com uma noite violenta, que marcou a História de Seul. Com imagens da época, cenografia realista que constituiu bunker e salas de generais, fotografia sombria, elenco caprichado e diálogos intensos, é um filme tenso, sobre os rumos de um país dividido, marcado por crises e violência institucional e disputado por facções políticas contrárias. O filme, que é de 2023, tornou-se muito atual e tem paralelo a Coreia do Sul de hoje – o país, desde dezembro de 2024, está sob uma nova Lei Marcial, decretada pelo presidente direitista e recém-impichado Yoon Suk Yeol; as ruas da capital e de outras cidades grandes estão tomadas por manifestações, algumas pacíficas, outras violentas que necessitaram de contenção policial, enquanto as eleições se aproximam, em junho. E tudo indica que o barril de pólvora continua aceso num dos países mais importantes da Ásia. Fez boa bilheteria nos cinemas da Coreia do Sul e agora está em circuito nos cinemas brasileiros. Representante da Coreia do Sul no Oscar 2025, ficou de fora do shortlist de melhor filme estrangeiro. É assinado pelos produtores dos filmes de ação sul-coreanos de sucesso ‘Infiltrados’ (2015) e ‘O homem ao lado’ (2020 – que trata do Presidente Park assassinado em 1979), escrito e dirigido pelo diretor de ‘A gripe’ (2013), Sung Soo Kim – segundo ele, presenciou boa parte dos fatos narrados no longa, quando tinha 19 anos.
 

 
Café, Pépi, Limão
 
Dirigido por Adler Kibe Paz e Pedro Léo Martins, o drama brasileiro narra a amizade de três jovens na periferia de Salvador, na Bahia, apelidados de Café, Pépi e Limão. Café está na capital em busca do pai preso, após fugir do interior por causa de uma vingança; a menina Pépi acaba de ser expulsa de casa pela mãe e está nas ruas; e Limão é um garoto em situação de vulnerabilidade que mora debaixo de um viaduto. O caminho dos adolescentes se cruza, e juntos criam conexão para superar os problemas diários e encontrar um sentido para suas vidas marcadas pela dor e falta de afeto. Com narrativa simples, é um filme delicado, sentimental, com pitadas de humor e que, no desenrolar, ganha intensa carga dramática. O filme marca também o território familiar destruído de cada um, como Café procurando o pai que está na cadeia, Pépi, alvo de estupro do pai/padrasto, mas que não pode falar nada para a mãe, e Limão que convive com uma mulher que cuida dele, mas é viciada em drogas. Infelizmente é um retrato doloroso de muitos jovens brasileiros. Rodado na Bahia, tem um elenco inteiro de lá – são rostos desconhecidos, mas bons atores, como o trio central, João Vitor Souza, Leonardo Lacerda e Mary Nascimento. Produzido pela DocDoma Filmes, chega aos cinemas de São Paulo e Salvador pela Kajá Filmes.



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