‘Jardim dos desejos’ (2022)
Paul Schrader já foi um dos nomes mais fortes do cinema autoral norte-americano, roteirista de ‘Taxi driver’ (1976) e ‘Touro indomável’ (1980), e diretor de ‘Hardcore – No submundo do sexo’ (1979), ‘A marca da pantera’ (1982), ‘Mishima – Uma vida em quatro tempos’ (1985), ‘O dono da noite’ (1992), entre outros. Nos últimos 20 anos rodou vários filmes banais, salvando um ou outro trabalho. ‘Fé corrompida’ (2017), ‘O contador de cartas’ (2021) e esse ‘Jardim dos desejos’ são seus últimos melhores filmes, e podem ser entendidos como uma trilogia. ‘Jardim dos desejos’ acaba de estrear no Brasil, nos cinemas, é um drama que carrega, ao longo da história, um fundo de cinema policial violento e suspense, que se revela aos poucos. Conta a história de um dedicado jardineiro, papel muito bom de Joel Edgerton, que trabalha nos jardins de uma elegante proprietária de terras, uma viúva interpretada por Sigourney Weaver. A rotina tranquila do lugar muda com a chegada da problemática sobrinha-neta da dona das terras, papel de Quintessa Swindell, que vira aprendiz do jardineiro no cuidar das flores. O jardineiro guarda segredos perturbadores, de um passado envolvendo crimes e assassinatos brutais. Exibido no Festival de Veneza, não é um memorável Schrader, mas está nessa nova fase do diretor, que retoma temas que outrora o consagraram, como a brutalidade nas relações, a figura do anti-herói solitário lutando contra o passado sombrio, a redenção etc. Está nos cinemas pela Pandora Filmes.
‘Por trás da verdade’ (2023)
Depois de adiar a estreia por dois meses, a A2 Filmes lançou nesse final
de semana nos principais cinemas brasileiros o eficiente suspense policial ‘Por
trás da verdade’ (2023), com a duas vezes ganhadora do Oscar Hilary Swank, de
‘Menina de ouro’ (2004). Ela interpreta uma jornalista que investiga o
assassinato do filho, ao lado da namorada dele. Juntas, adentram o hostil mundo
do tráfico das drogas. Quando as investigações avançam, a vida das duas corre perigo.
Marcam presenças no longa Olivia Cooke, de ‘Jogador número 1’ (2018), e Jack
Reynor, de ‘Midsommar: O mal não espera a noite’ (2019). A fotografia,
principalmente no ambiente noturno e em lugares fechados, ajuda a condução
desse filme de suspense envolvente, dirigido por Miles Joris-Peyrafitt, de "Dreamland:
Sonhos e ilusões" (2019).
‘1798 – Revolta dos Búzios’ (2022)
Nesse documentário didático, simples na forma e repleto de conteúdo informativo/histórico, conhecemos por dentro a ‘Revolta dos Búzios’, também chamada de ‘Revolução dos Alfaiates’ e ‘Conjuração Baiana’. Foi um levante popular contra o governo colonial no estado da Bahia, nascido em 1798, sob influência da Revolução Francesa, ocorrida nove anos antes, e utilizando os ideais do Iluminismo. De caráter emancipacionista, foi um movimento popular, com participação de sapateiros, alfaiates e escravos, que pregava a igualdade racial, e procurava estabelecer no país um governo republicano, democrático, com liberdades plenas, além de acabar com a escravidão. O movimento foi denunciado, o governo prendeu e torturou os conspiradores, com penas de açoite público e morte, resultando em quatro homens assassinados, que foram enforcados e esquartejados em praça pública em Salvador. O diretor Antonio Olavo, pesquisador do tema, trabalhou no filme por 13 anos, e segundo ele, é uma obra para lembrar e preservar a memória do povo negro. O filme utiliza como base o famoso documento ‘Autos da Devassa’ e insere ao longo do filme desenhos, ilustrações e encenação de atores. Produzido pela Portfolium Laboratório de Imagens, tem distribuição da Abará Filmes e está em exibição nos principais cinemas brasileiros.
‘A filha do palhaço’ (2022)
De Pedro Diógenes, diretor de ‘Pajeú’ (2019), o filme brasileiro é uma das melhores estreias nos cinemas desse final de semana. Um drama familiar bem moldado, que acompanha a relação de uma menina adolescente com o pai, que trabalha como humorista em bares de Fortaleza, onde se pinta e se veste de palhaço e de mulher. Pai e filha sempre tiveram pouco tempos juntos, e um final de semana será derradeiro para reatar laços perdidos. O filme é inspirado na vida do comediante e humorista Paulo Diógenes, nascido no Rio e criado no Ceará, que criou o famoso personagem Raimundinha e faleceu em fevereiro desse ano. Premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, tem dois atores excelentes em cena, a estreante Lis Sutter no papel da adolescente e Demick Lopes (dos filmes ‘Greta’ e ‘Inferninho’) como o humorista, e rápida participação especial de Jesuíta Barbosa. No filme o diretor Pedro Diogenes procura trazer reflexões sobre paternidade, sexualidade e aceitação, a partir do relacionamento distante entre pai e filha. Com produção da Marrevolto Filmes, juntamente com a Pique-Bandeira Filmes, tem distribuição nos cinemas pela Embaúba Filmes.
‘Toda noite estarei lá’ (2023)
Outra boa estreia de filme brasileiro é ‘Toda noite estarei lá’ (2023), um documentário contundente e necessário, que fala de transfobia. O filme, gravado entre 2018 e 2022, acompanha a vida de Mel Rosário, de 58 anos, transexual que sofreu uma série de agressões transfóbicas e foi proibida de frequentar uma igreja neopentecostal que costumava ir. Sozinha, levanta faixas de protesto contra os pastores daquela igreja, reivindicando seu direito de voltar aos cultos. A sua voz por justiça se choca com o Brasil agressivo e ultraconservador da era Bolsonaro. Duas diretoras estão a frente do longa, Suellen Vasconcelos e Tati Franklin, que utilizaram como base um curta-metragem que contava a história da luta de Mel contra a igreja, feita por Thiago Moulin, agora um dos produtores do longa. Premiado em festivais como Olhar de Cinema e exibido no Mix Brasil e no Festival do Rio. Produção da Graúna Digital, em associação com Filmes Fritos, distribuído nos cinemas pela Descoloniza Filmes.
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