sábado, 10 de fevereiro de 2024

Cine cult



A casa dos sonhos

Anna (Charlotte Burke), uma menina de 11 anos, tem problemas na escola e vive em conflitos com a mãe (Glenne Headly). Solitária em seu quarto, desenha uma casa numa paisagem distante, onde mora um menino deficiente físico, Marc, (Elliott Spiers). Em seus sonhos, ela invade o desenho, entra na casa e fica amiga de Marc. Até que os dois passam a ser perseguidos por um homem violento e desfigurado (Ben Cross).

Mais um filme esquecido no tempo que a distribuidora Obras-primas do Cinema resgata e traz com exclusividade em DVD aos colecionadores. ‘A casa dos sonhos’ (1988) fracassou na época nos cinemas e virou cult, um filme de drama com suspense, fantasia e pitadas de terror. Nesse conto de fadas sobrenatural, com presságios e figuras sinistras, uma garotinha sofre bullying na escola e vive em conflitos com a mãe. Ela gosta de desenhar, e numa de suas criações, isolada no quarto, rabisca uma casa com um garoto deficiente. Ela tem o poder de, nos sonhos, vagar pelo lugar, e tragada de maneira mágica para o desenho, fica amiga do menino, que não pode andar. Os dois usufruem de uma amizade sem interesse, até que vão precisar um do outro para escapar de um homem cego e desfigurado, que aparece na penumbra os ameaçando com um martelo na mão.
Com certa melancolia, o filme trata dos medos das crianças, a ausência dos pais e de como elas usam a imaginação para fugir de uma realidade perturbadora.
Exibido no Festival de Toronto, ganhou prêmios em festivais de cinema de terror e do cinema fantástico, como Avoriaz e Fantasporto. Foi um dos primeiros trabalhos do diretor londrino Bernard Rose, na época com 28 anos, que já flertava com a temática sobrenatural e iria desenvolvê-la com maestria no terror ‘O mistério de Candyman’ (1992) – ele dirigiu também um filme que admiro bastante e nunca mais encontrei para rever, ‘Minha amada imortal’ (1992), biografia de Beethoven, interpretado por Gary Oldman.
O roteiro, que ora pode parecer confuso, com sonhos, alucinação e realidade se misturando, é de Matthew Jacobs, roteirista de filmes B de ação, como ‘Ninja, a missão’ (1984), e que o escreveu a partir de um romance original do fim da década de 50, ‘Marianne Dreams’, da escritora inglesa de obras de fantasia Catherine Storr.





Único filme de Charlotte Burke, a garota protagonista, que não seguiu carreira. Já o menino Elliott Spiers, que interpreta Marc, seguiu carreira, fez seriados, mas morreu prematuramente seis anos mais tarde, após ficar doente devido a uma reação alérgica a um medicamento – ele tinha 20 anos.
Vemos também no elenco a atriz Glenne Headly, de ‘Os safados’ (1988) e ‘Dick Tracy’ (1990), no papel da mãe de Anna, uma atriz de quem sempre gostei, ex-mulher de John Malkovich e que faleceu há pouco tempo aos 62 anos. Ainda aparecem em papéis secundários Gemma Jones, veterana atriz inglesa, de ‘Razão e sensibilidade’ (1995), como uma médica, e Ben Cross, de ‘Carruagens de fogo’ (1981), no papel do perverso homem dos sonhos de Anna – o papel dele crescerá na reta final e ganhará contornos interessantes. Boa trilha sonora, do premiado Hans Zimmer em parceria com o veterano Stanley Myers, e uma fotografia que dá o tom onírico necessário para a história, de Mike Southon.
PS: No Brasil tem outro filme de mesmo título, um terror ruim e infeliz de Jim Sheridan, com Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts – portanto, não confunda.

A casa dos sonhos (Paperhouse). Reino Unido, 1988, 92 minutos. Suspense/Drama. Dirigido por Bernard Rose. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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