Em uma mansão à beira de um lago na região de Wannsee, em Berlim, um grupo de 15 homens do alto escalão do regime nazista marca presença em uma reunião no dia 20 de janeiro de 1942. Durante a conversa, que durou quase duas horas, determinariam o ato derradeiro do extermínio judeu nos campos de concentração. O encontro ficou conhecido como “Conferência de Wannsee”.
Feito para a TV alemã, foi distribuído como filme de cinema em centenas de salas do mundo, inclusive no Brasil, onde também foi exibido no Festival do Rio, no ano passado. "A conferência" (2022) é um drama contundente, difícil de acompanhar até o final, pois trata de um tema complexo, amargo e angustiante, o Holocausto. Mas o Holocausto visto de outra forma, sem morte ou cenas de sofrimento de pessoas. Ele acompanha como se deu a Solução Final, de como foi pensado o assassinato em massa de milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. O genocídio devidamente organizado ocorreu a partir da “Conferência de Wannsee”, em que parte da cúpula nazista se reuniu numa sala fechada e rascunhariam tal atrocidade. Era um dia comum, 20 de janeiro de 1942, quando o diretor do Departamento de Segurança do Reich, Reinhard Heydrich, convidou 14 secretários do alto escalão da SS, como representantes do Ministério da Justiça e das Relações Exteriores, para um encontro seguido de um café da manhã em sua casa, um palacete localizado numa rua tomada por mansões, na Am Grossen Wannsee, idílica vila no sudoeste de Berlim. Era meio-dia, e a conversa teria aproximadamente duas horas de duração, entrando para a História como a reunião mais terrível e desumana já registrada, com consequências inimagináveis. Não houve documentos formais assinados, nem protocolos oficiais – descobriu-se, depois, apenas um papel de 15 páginas, rabiscado por Adolf Eichmann, diretor do departamento que cuidava de questões judaicas na Polícia do Reich. Na reunião/conferência, foi sistematizada a morte de mais de 11 milhões de judeus, ali decretada a “Solução final da questão judaica” - apesar de que o plano de matar judeus teria começado, em menor escala, sete meses antes. A conferência foi, em suma, deu start a um ato administrativo, sistemático, burocrático e organizado para o genocídio judeu, tanto que uma semana depois, Hitler propagaria o ódio publicamente a judeus em seus discursos e em mídias de massa, como campanhas no rádio.
O telefilme, em seus 108 minutos, fica todo dentro da sala mostrando, em ângulos diversos, os 15 homens em suas conversas sobre o plano mortal - parece um teatro filmado, muito bem interpretado e com momentos de tensão. Matti Geschonneck é o diretor, que fez dezenas de fitas para a TV (nenhuma conhecida ou lançada no Brasil); é casado com a atriz e diretora Ina Weisse, que dirigiu em 2019 um filme de destaque, exibido por aqui, “A professora de violino”.
“A conferência” estreou nos cinemas brasileiros em 03 de novembro de 2022, passou no Festival do Rio e acaba de ser lançado em cinco plataformas online: AppleTV, Claro TV+ (antigo Now), GooglePlay, Youtube Movies e Vivo play, e ainda pode ser alugado na Amazon Prime Video.
PS: A Conferência de Wannsee foi tema de dois telefilmes no passado, “A Conferência de Wannsee” (1984, coprodução Alemanha/Áustria, com Gerd Böckmann) e “Conspiração” (2001, de Frank Pierson, coprodução EUA/Reino Unido da HBO, com Stanley Tucci, que ganhou o Globo de Ouro de coadjuvante, e Kenneth Branagh, indicado ao Globo de Ouro de ator). E teve ainda um documentário alemão sobre o tema, o média-metragem “Die Wannseekonferenz - Die Dokumentation” (2022), inédito no Brasil.
A conferência (Die Wannseekonferenz). Alemanha, 2022, 108 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Matti Geschonneck. Distribuição: A2 Filmes
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