terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Cine Especial



Tentáculos (1977)


Em um balneário em Ocean Beach, pessoas aparecem mortas de forma enigmática. A guarda costeira inicia uma inspeção nas águas do mar e se depara com um enorme polvo sanguinário.

Cineastas do mundo inteiro já produziram filmes com animais assassinos. Já vimos cachorro, gato, leão, rãs, pássaros, coelhos e até vermes caçando gente. Nas águas, “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg, “Orca, a baleia assassina” (1977), de Michael Anderson, e “Piranha” (1978), de Joe Dante, marcaram época com predadores de dentes afiados que buscavam proteger seu habitat e por vezes se vingar da interferência humana. “Tentáculos” (1977) veio nessa onda de filmes, uma produção italiana (o título original era “Tentacoli”), em parceria com a American Internacional Pictures (AIP) de Samuel Z. Arkoff, lendário produtor de filmes de suspense e terror como “Terror em Amityville” (1979) e “Vestida para matar” (1980). Foi rodado em grande parte na Califórnia, com orçamento caro para a época, U$ 5 milhões - mais para pagar o cachê de astros que desfilaram em pontinhas, um chamariz para o público, dentre eles Shelley Winters, John Huston, Henry Fonda, Claude Akins e Bo Hopkins, do que para gastar com efeitos especiais, até porque não há efeitos grandiosos no filme. O custo técnico mais alto envolveu a construção de uma réplica de um polvo gigante, no valor de U$ 1 milhão, que acabou afundando nas águas no primeiro dia de gravação! E o polvo mostrado na quase totalidade do filme era um molusco de verdade, gravado em aquário e perto de recifes, e o aproximá-lo da câmera, ele parecia enorme e feio – esses eram os truques de filmagem que fizeram do cinema a indústria da magia e dos sonhos!
A história é bem fraquinha, não dá medo, tem muitos erros de continuidade, mas é nostálgica e marcou o gosto do público que segue terror: um gigante polvo mutante ataca uma cidade costeira na Califórnia, e a população se une à guarda costeira para se salvar. Nas entrelinhas, há uma referência (e crítica) à interferência humana no meio ambiente causando poluição e destruição: aqui, uma empreiteira constrói um duto subaquático, gerando lixo químico, que contamina um polvo; este sofre mudanças genéticas e vira um monstro assassino.
O filme investe em longas cenas debaixo d’água, e nos momentos de suspense, a boa trilha sonora sobe o tom - Stelvio Cipriani compôs e assinou como S.W. Cipriani reaproveitando a trilha que fez para o filme de ação italiano “Resgate”, de 1973.



O produtor de cinema Ovidio G. Assonitis, egípcio de nascença, assina a produção ao lado de Arkoff e também dirige o filme – ele fez duas fitas de terror, “Espírito maligno” (1974) e “A casa da escuridão” (1981), e codirigiu “Piranhas 2: Assassinas voadoras” (1981 – seu nome não foi creditado, apenas James Cameron, estreante no cinema).
“Tentáculos” saiu num box especial em DVD duplo pela Classicline com a versão de cinema, de 102 minutos, em boa cópia. Também está presente na caixa o “Tentáculos” de 1998, uma espécie de refilmagem, mas com outra história, com mais ação e terror.

Tentáculos (Tentacoli/ Tentacles). Itália, 1977, 102 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Ovidio G. Assonitis. Distribuição: Classicline


Tentáculos (1998)

Um luxuoso transatlântico inaugura seu primeiro cruzeiro levando a bordo centenas de pessoas. No meio do trajeto, bandidos invadem o navio em alto-mar para roubar joias e dinheiro. O grupo percebe que estranhamente o barco está vazio, ninguém nos quartos, nos salões ou nos corredores. As pessoas foram devoradas por um polvo monstruoso que invadiu o transatlântico, e ele agora irá caçar os criminosos um a um.

Mais movimentado e divertido, com mais cenas do polvo mutante e mortes sangrentas, “Tentáculos”, de 1998, seria uma refilmagem do filme de 1977, porém com outra trama, aproveitando apenas a criatura marinha (que aqui é maior, um verdadeiro monstro gigante, com inúmeras garras e que mata pra valer). O roteiro modificado e ainda mais nonsense é de Stephen Sommers, que dirige o filme também. Ele até mudou o título de “Tentacoli/Tentacles” para “Deep rising” para um tom mais autoral e independente. Criou uma trama de assalto em alto-mar, sem a presença de mocinhos, em que os bandidos lideram um plano criminoso e acabam alvo de algo impensável, um polvo mutante que se alimenta de gente – o filme começa com ação e vai aos poucos se transformando em terror com ficção científica.
Sommers realizou antes “O livro da selva” (1994) e depois faria blockbusters como “A múmia” (1999) e a continuação, “O retorno da múmia” (2001), bem como os horríveis “Van Helsing: O caçador de monstros” (2004) e “G.I. Joe: A origem de Cobra” (2009), ambos vencedores de prêmios de piores produções (tanto o Razzie quanto o Stinkers Bad Movie), e por fim, em 2013, faria seu melhor trabalho (ao lado de “Tentáculos”), “O estranho Thomas”, uma fita bem moderna de terror com ação, que ninguém viu e virou cult. “Tentáculos” também virou cult com o tempo: custou caro (U$ 45 milhões), fracassou nos cinemas, rendendo somente U$ 11 mi, e se popularizou em VHS no fim dos anos de 1990 (lembro que na época foi difícil locá-lo, pois muita gente queria assistir).



Escalaram nomes conhecidos como Treat Williams e Anthony Heald, e novos rostos em ascensão, Famke Janssen (que ganhou destaque três anos antes em “007 contra GoldenEye”), Kevin J. O’Connor, Djimon Hounsou (depois seria indicado a dois Oscars), Cliff Curtis e Jason Flemyng. Eles se divertem em cena e fazem o filme acontecer com perseguições bem boladas, tiros para todos os lados, invenção de esconderijos e loucas escapadas do monstro. Traz elementos precisos de um bom cinemão, mas para entrar nele temos de perdoar sequências completamente absurdas e canastrões dando cartadas. Ajuda a trilha de Jerry Goldsmith, que de 18 indicações ao Oscar ganhou pela de “A profecia” (1976) – ele foi um mestre, fez maravilhas como “Planeta dos macacos” (1968), “Papillon” (1973) e “Chinatown” (1974).
O filme saiu mês passado num box especial pela Classicline, em disco duplo, juntamente com o “Tentáculos” original, de 1977.

Tentáculos (Deep rising). EUA/Canadá, 1998, 106 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Stephen Sommers. Distribuição: Classicline

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