quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Cine Cult


3 faces

A atriz Behnaz Jafari, acompanhada do diretor iraniano Jafar Panahi, tenta localizar uma garota proibida por sua família de estudar cinema. Eles viajam de carro até o vilarejo onde ela mora, na fronteira entre o Azerbaijão e o Irã, e lá se esbarram em um povo hospitaleiro e ao mesmo tempo conservador, com suas antigas tradições.

Mais uma fita sagaz do cineasta Jafar Panahi, banido do seu país, o Irã, responsável por obras cult importantes e questionadoras, como “O balão branco” (1995), “Isto não é um filme” (2011) e “Taxi Teerã” (2015). Seu último filme, esse “3 faces”, de 2018, ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes, indicado à Palma de Ouro.
O diretor (também roteirista, produtor, ator e montador de grande parte de seus longas) é perseguido pelo regime iraniano desde 2009, quando apoiou um candidato oposicionista e reformista ao governo nas eleições daquele ano – na época teve a casa invadida e suas películas apreendidas, sendo preso em 2010, ficando 90 dias detido. Na cadeia fez greve de fome, ficou doente e quando solto foi proibido de filmar por 20 anos. De lá pra cá, em exílio domiciliar, já filmou três filmes escondido (ele grava sem ninguém saber, realiza filmes rápidos e caseiros, e o inscreve em festivais de cinema, mas devido ao banimento, não pode participar dos eventos).
Panahi é crítico ao governo extremista do Irã, as histórias escritas por ele falam da opressão dos governantes com o povo, a censura à informação, bem como registra a discriminação das mulheres pelo Estado Islâmico, intensificada após a Revolução de 1979. “Três faces” fala disso tudo; é a história de uma garota banida pela família quando pretende estudar cinema num conservatório em Teerã. Uma atriz renomada do país, Behnaz Jafari, ao receber um vídeo desesperador da menina, que promete se suicidar, resolve ajudá-la, com apoio do diretor Jafar. Eles seguem viagem de carro até a fronteira do Azerbaijão e o Irã, onde ela mora. Nesse longo percurso, esperam o pior, o medo toma conta dos dois viajantes. Não sabem como serão recebidos pelo povo que lá mora nem como será esse encontro. Aos poucos cruzam com pessoas hospitaleiras, gente com fortes crenças, alguns calados, outros com hobbies inusitados, muita gente divertida e com boas histórias para contar.


Panahi faz assim um filme-manifesto à cultura popular e à liberdade, também aos encontros que podem transformar vidas. Mostra um contraste entre a velha e a nova cultura, do Irã milenar das vilas com o Irã atual que tenta a todo custo se modernizar. É um documentário que flerta com a ficção (ou vice-versa) - até o diretor, na abertura do filme, fala que a obra transita entre a realidade e a ficção/representação (como já fez em outras vezes). Sensível, bem narrado e de impressionante capacidade técnica, frente às adversidades de se filmar num país tão intolerante e radical. Vale ver.

3 faces (Se rokh). Irã, 2018, 100 minutos. Drama/Documentário. Colorido. Dirigido por Jafar Panahi. Distribuição: Imovision


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