3 faces
A atriz Behnaz Jafari,
acompanhada do diretor iraniano Jafar Panahi, tenta localizar uma garota
proibida por sua família de estudar cinema. Eles viajam de carro até o vilarejo
onde ela mora, na fronteira entre o Azerbaijão e o Irã, e lá se esbarram em um
povo hospitaleiro e ao mesmo tempo conservador, com suas antigas tradições.
Mais uma fita sagaz do
cineasta Jafar Panahi, banido do seu país, o Irã, responsável por obras cult
importantes e questionadoras, como “O balão branco” (1995), “Isto não é um
filme” (2011) e “Taxi Teerã” (2015). Seu último filme, esse “3 faces”, de 2018,
ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes, indicado à Palma de Ouro.
O diretor (também
roteirista, produtor, ator e montador de grande parte de seus longas) é
perseguido pelo regime iraniano desde 2009, quando apoiou um candidato
oposicionista e reformista ao governo nas eleições daquele ano – na época teve
a casa invadida e suas películas apreendidas, sendo preso em 2010, ficando 90
dias detido. Na cadeia fez greve de fome, ficou doente e quando solto foi proibido
de filmar por 20 anos. De lá pra cá, em exílio domiciliar, já filmou três filmes
escondido (ele grava sem ninguém saber, realiza filmes rápidos e caseiros, e o
inscreve em festivais de cinema, mas devido ao banimento, não pode participar
dos eventos).
Panahi é crítico ao
governo extremista do Irã, as histórias escritas por ele falam da opressão dos
governantes com o povo, a censura à informação, bem como registra a
discriminação das mulheres pelo Estado Islâmico, intensificada após a Revolução
de 1979. “Três faces” fala disso tudo; é a história de uma garota banida pela
família quando pretende estudar cinema num conservatório em Teerã. Uma atriz
renomada do país, Behnaz Jafari, ao receber um vídeo desesperador da menina,
que promete se suicidar, resolve ajudá-la, com apoio do diretor Jafar. Eles
seguem viagem de carro até a fronteira do Azerbaijão e o Irã, onde ela mora.
Nesse longo percurso, esperam o pior, o medo toma conta dos dois viajantes. Não
sabem como serão recebidos pelo povo que lá mora nem como será esse encontro.
Aos poucos cruzam com pessoas hospitaleiras, gente com fortes crenças, alguns
calados, outros com hobbies inusitados, muita gente divertida e com boas
histórias para contar.
Panahi faz assim um
filme-manifesto à cultura popular e à liberdade, também aos encontros que podem
transformar vidas. Mostra um contraste entre a velha e a nova cultura, do Irã
milenar das vilas com o Irã atual que tenta a todo custo se modernizar. É um
documentário que flerta com a ficção (ou vice-versa) - até o diretor, na
abertura do filme, fala que a obra transita entre a realidade e a
ficção/representação (como já fez em outras vezes). Sensível, bem narrado e de
impressionante capacidade técnica, frente às adversidades de se filmar num país
tão intolerante e radical. Vale ver.
3 faces (Se rokh). Irã, 2018, 100 minutos. Drama/Documentário.
Colorido. Dirigido por Jafar Panahi. Distribuição: Imovision
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