Vá e veja
Em 1943,
o garoto Florya (Aleksey Kravchenko), morador de uma aldeia na Bielorússia, vivencia
os horrores da guerra quando, ao encontrar um rifle na praia, junta-se ao
exército soviético contra os nazistas.
Um
dos dramas de guerra mais chocantes já produzidos no cinema, “Vá e veja” (1985)
ganhou em dezembro passado uma excelente cópia restaurada pela Mosfilm, disponível
no mercado brasileiro em Bluray pela CPC-Umes Filmes. É a melhor que podemos
encontrar, lembrando que há alguns anos o filme saiu em DVD tanto pela Lume
quanto pela própria CPC numa cópia riscada, com granulações, além da metragem
reduzida. Pelo minucioso trabalho de restauração, o filme ganhou um prêmio em
2017 no Festival de Veneza, onde foi exibido em sessão especial - a cópia em BD
realmente está um deslumbre de nitidez e som, com a duração original de 142
minutos.
Existem
muitos filmes sobre o olhar de uma criança sobre a guerra, mas nenhum com tamanho
impacto visual que “Vá e veja”. Próximo dele somente o angustiante “O pássaro
pintado” (2019), que vi no ano passado na Mostra Intl de Cinema de São Paulo,
uma fita húngara pré-selecionada ao Oscar.
Em “Vá
e veja” temos como protagonista Florya (Aleksey Kravchenko, que estreava no
cinema aos 16 anos), um garotinho que, depois de encontrar um rifle enterrado
num corpo na areia da praia, alia-se a um grupo de jovens para lutar na Segunda
Guerra Mundial. Aqueles meninos seguem ao lado da Resistência Soviética rumo ao
campo de batalha. Florya não compreende o que está ocorrendo ali, de início
parece uma aventura pela floresta. Pelo caminho cruzará as linhas inimigas, será
torturado e inevitavelmente verá aldeias inteiras serem consumidas pelas chamas.
Gravado
com câmera em constante movimento, o drama narra um amargo capítulo da Segunda
Guerra Mundial, a ocupação dos nazistas na Bielorrússia, onde milhares de vilas
foram dizimadas e cerca de seiscentos mil soviéticos morreram nessa região - com
o fim da URSS, em 1990, a Bielorrússia, que faz fronteira com a Rússia, Polônia,
Ucrânia, Lituânia e Letônia, tornou-se independente, sob o nome de República de
Belarus. Carrega uma forte mensagem antiguerra, que provoca em nós uma aturdida
reflexão sobre o lado sombrio do ser humano, capaz de cometer atrocidades sem
limites – o filme, quando lançado, chocou pelas cenas violentas, como a do
galpão incendiado com centenas de pessoas dentro enquanto os alemães comem
lagosta e se divertem vendo as pessoas carbonizarem.
O
trabalho do protagonista é ótimo, e a trilha sonora é uma obra-prima à parte,
assim como a fotografia enevoada.
Último
trabalho do diretor de “Agonia Rasputin” (1981) e “A despedida” (1983), Elem
Klimov, ex-marido da cineasta Larisa Shepitko, de “A ascensão” (1977), falecida
em um acidente de carro. Foi o seu trabalho com maior dimensão psicológica e
criativa, impactante desde o título, uma alusão a uma passagem do Apocalipse de
São João, referente ao inferno e ao juízo final. Indicado para público com
nervos de aço.
Vá e veja (Idi i smotri). URSS, 1985, 142
minutos. Drama/Guerra. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Elem Klimov.
Distribuição: CPC-Umes Filmes
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