Gauguin:
Viagem ao Taiti
O
pintor francês Paul Gauguin (Vincent Cassel) abandona a família e viaja ao
Taiti para buscar inspiração para suas obras. Instala-se em uma cabana no meio
da floresta, fica próximo do povo maori e logo se apaixona por uma jovem que se
tornará musa de suas pinturas.
Um
belo drama romântico sobre os últimos dez anos de vida do pintor francês
Eugène-Henri-Paul
Gauguin, ou só Paul Gauguin (1848-1903), um dos maiores nomes do
Pós-Impressionismo. Com uma fotografia esplêndida do verdadeiro Taiti
(localizado numa ilha perdida entre a Nova Zelândia e o Hawaí), o filme
acompanha a segunda viagem do artista à Polinésia, ocorrida em 1891. Com o
desejo fervilhante de buscar inspiração artística em novas culturas, Gauguin
deixou a esposa e os cinco filhos na Europa para viver na selva da Mataiera com
o povo maori - ele viajou para lá sozinho em três ocasiões, sendo a última de forma
definitiva, onde viveu até sua morte, em 1903). Isolado do mundo numa cabana
paupérrima, aproximou-se de uma cultura inteiramente oposta da europeia, trazendo
assim um outro olhar para seu processo de criação nas obras plásticas. Nesse
período impõe um colorido especial aos quadros, com uma iconografia exótica do
povo taitiano, das praias paradisíacas e, acima de tudo, das mulheres negras.
Uma de suas marcas do período foi a mistura do erotismo à ingenuidade ao
retratá-las. Nesse segundo momento que esteve no Taiti (e o filme aborda isto
da metade para o final) conheceu sua musa inspiradora, Tehura, 35 anos mais
jovem (ele tinha 48, e ela, 13), com quem teve um filho, que morreu poucos dias
depois de nascer.
Vincent
Cassel encaixou-se bem no papel do protagonista que foi uma figura central da
cena artística parisiense do final do século XIX. Para mim é o ator mais
versátil da França atual - ele vem muito ao Brasil, já filmou várias vezes em
nossa terra.
É o
segundo trabalho do diretor Edouard Deluc, com roteiro dele escrito em parceria
com outros três roteiristas, a partir de um livro desconhecido do próprio
Gauguin, “Noa noa”; dentre os roteiristas estão Thomas Lilti, de “Hipócrates”
(2014), e Etienne Comar, de “Meu rei” (2015), um drama pesadíssimo com o mesmo
Cassel.
Gauguin:
Viagem ao Taiti
(Gauguin - Voyage de Tahiti). França, 2017, 100 minutos. Drama. Colorido.
Dirigido por Edouard Deluc. Distribuição: Focus Filmes
El
Pepe: Uma vida suprema
Documentário
sobre a vida e a carreira do ex-presidente uruguaio José Mujica, o “Pepe”, da
juventude quando integrou o movimento guerrilheiro Tupamaros passando pelos
cinco anos de seu governo (entre 2010 e 2015) até chegar aos dias atuais.
O
Netflix produziu (e acertou em cheio) esse documentário curtinho sobre a
carreira de José Mujica, o “El Pepe”, ex-presidente do Uruguai, recontando uma
série de fatos de sua vida particular entrelaçada à História do país, com forte
menção e crítica à ditadura militar que vigorou lá de 1973 a 1985. Quem dirige
nada mais é que um de meus cineastas favoritos, o iugoslavo Emir Kusturica,
duas vezes premiado com a Palma de Ouro em Cannes - por “Quando papai saiu em viagem
de negócios” (1985) e ”Underground - Mentiras de guerra (1995)”, além do prêmio
de diretor no mesmo festival, por “Vida cigana” (1988). Ele volta seu olhar
mais uma vez para a América Latina, depois do documentário “Maradona by
Kusturica” (2008), que trazia para a cena cinematográfica a carreira do jogador
argentino Diego Maradona.
O
filme já encanta nos créditos de abertura, com Kusturica tomando chimarrão com
o presidente Mujica, os dois sentados num velho banco no sítio do
ex-presidente, onde por alguns minutos só trocam olhares, sem falar nada. E daí
em diante acompanhamos uma jornada poética/romântica em torno do ex-presidente
uruguaio que serviu ao país entre 2010 e 2015. Uma vida marcada por lutas
contra a ditadura, desde quando foi membro dos Tupamaros, um movimento
guerrilheiro marxista-leninista que batia de frente com os militares. Preso por
14 anos, Mujica tornou-se inimigo do Estado, foi torturado diversas vezes,
ficou confinado num poço nos escombros da prisão e por pouco não morreu – esse
assunto originou o grandioso filme “Uma noite de 12 anos” (2018).
Não
há como não admirar Mujica, um homem simples que mora num sítio antigo, que
como político ajudou o povo pobre e inspirou líderes pelo mundo afora. E
adorado pela maioria dos uruguaios (eu estive em Montevidéu três vezes, duas
durante o governo dele, e reparei pelas minhas andanças o quanto é uma figura
reverenciada).
O doc
é sem firulas, é uma análise sobre o protagonismo do ex-presidente na política
uruguaia, fala-se sobre o passado e a família, sempre com imagens raras de
Mujica na prisão. No final o foco muda para sua estreita ligação afetiva com a
esposa Lucía Topolansky, que conheceu no movimento Tupamaros – ela era
guerrilheira também, exerceu cargos políticos (de senadora e ministra), e assim
como Mujica sempre trabalhou como agricultora.
Exibido
em Veneza de 2018, ganhou nesse festival o prêmio CICT-Unesco.
El
Pepe: Uma vida suprema (El
Pepe: Una vida suprema). Argentina/Uruguai/Sérvia, 2018, 73 minutos. Documentário.
Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Emir Kusturica. Distribuição: Netflix