A viagem de meu pai
Aos 80
anos, o aposentado Claude Lherminier (Jean Rochefort) briga com suas
enfermeiras por causa dos lapsos de memória. Tem um lado temperamental forte, que
afugenta amigos e familiares, e por isto insiste em morar sozinho. Um dos poucos
frequentadores de sua casa é a filha mais velha, uma empresária, Carole (Sandrine
Kiberlain), que quer colocá-lo num asilo. Porém os planos de Claude vão além:
ele pretende viajar para a Flórida, nos Estados Unidos, sem que ninguém saiba,
para visitar a filha caçula.
Produzido
pela Gaumont e exibido no Festival Varilux de Cinema Francês 2016 (que ocorre
em 60 cidades brasileiras, na metade do ano), “A viagem de meu pai” aborda um
tema comum no cinema, a velhice, aqui elaborado sem dramalhão pesado, mas com humor
e candura, apropriado para o público que curte filmes mais lentos, reflexivos. Foi
o último trabalho do excelente ator francês Jean Rochefort, falecido em 2017 aos
87 anos. De maneira exata e brilhante, ele interpreta um aposentado que outrora
havia sido um importante industrial em sua cidade. Hoje, senil e rabugento,
enfrenta problemas de memória, não aceita ser cuidado pelos outros, tampouco
pela filha mais velha, que o visita sempre (uma boa Sandrine Kiberlain, com química
com Rochefort). O idoso se vê diante de fantasmas do passado, constantemente à
espera de uma filha que nunca vem, mas deseja ir até ela, em Miami, no estado
da Florida (daí a explicação do título, Floride, como metáfora aos sonhos desse
senhor protagonista) – e nesse ponto haverá uma surpresa em relação à filha caçula,
que o faz ser hostil com a primogênita, aquela que tenta cuidar dele e atualmente
conduz os negócios do pai, na indústria.
Vendido
erroneamente como um road movie (quase não existe esse tema no filme), aparece
num bom momento das comédias dramáticas francesas, de forte aspecto intimista,
sobre relações humanas, conflitos familiares e aceitação (no caso deste, aceitação
da senilidade e a possibilidade da morte).
Mais
um bom trabalho do diretor Philippe Le Guay, de “As mulheres do sexto andar”
(2010) e “Pedalando com Molière” (2013), dois filmes que eu adoro e indico. Em
DVD pela Mares Filmes.
A viagem de meu pai (Floride). França, 2015, 109 min.
Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Philippe Le Guay. Distribuição: Mares
Filmes
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