Feito na América
Na
década de 80, o piloto Barry Seal (Tom Cruise), um dos melhores da aviação
americana, recebe a proposta de trabalhar para a CIA para investigar o Cartel
de Medellín, mantido pelo colombiano Pablo Escobar. A grana é alta, então ele
aceita. Mas se torna um agente duplo: enquanto investiga o caso para a Central
de Inteligência, atua com a turma de Escobar fazendo o transporte de cocaína da
Colômbia para os Estados Unidos com seu avião.
Três
anos depois da surpreendente fita de ação “No limite do amanhã” (2014), o
diretor Doug Liman voltou a filmar com o astro Tom Cruise, agora numa história controversa
e maluca com assustadora base real. Com perspicácia, Liman e Cruise realizaram esta
biografia com jeitão de farsa, ação e um humor afiado sobre Adler Berriman
"Barry" Seal (1939-1986), um piloto de extrema experiência, que trabalhou
como agente da CIA, traindo a corporação para se tornar um dos braços direitos
do poderoso barão das drogas Pablo Escobar. Enaltece-se a figura de um cidadão
americano comum e batalhador, com família formada, que atuava com ética no ramo
da aviação até se envolver com o crime organizado, no caso tráfico de drogas e
armas, em troca de milhões de dólares. Seal teve vida dupla, enganou a esposa e
os amigos, e por muito tempo voou despercebido pelos céus dos Estados Unidos em
um avião de pequeno porte lotado de toneladas de cocaína...
A
época do caso de Barry Seal era de um contexto caótico: os dois governos de Ronald
Reagan na década de 80. Havia a Guerra Fria, a guerra contra as drogas, greves
pra todo lado, crise política e extenso gasto bélico para promover a invasão
americana em vários países. Seal era fruto desse meio – e o filme busca esses tantos
retalhos de informações, alguns até impossíveis, para criar a figura
controversa dele, o que faz o público duvidar se aquilo realmente ocorreu. A
obra não foi baseada em livro, mas de matérias jornalísticas, que compõem um
roteiro esperto, do estreante Gary Spinelli.
A
fim de realçar os golpes e as proezas desse homem, a fita recorre a uma linguagem
divertida aliada a uma edição explosiva, que tornam especial este filme de 2017
que não teve a repercussão merecida nos cinemas.
Tom
Cruise não parece nada com o verdadeiro Barry Seal, por isso precisou
rejuvenescer, com auxílio de maquiagem, uns 12 anos (Cruise tinha na época 55
anos, enquanto Seal, 43), mas nada disso atrapalha a composição da alma do
personagem.
Tem
até fotografia do uruguaio Cesar Charlone, indicado ao Oscar por “Cidade de
Deus” (2002), que vive bastante no Brasil e em nossas terras dirigiu um episódio
do filme “Rio, eu te amo” (2014) e vários da série “Cidade dos homens” –
Charlone é um cara super bacana, tive a honra de dividir com ele, por uma
semana, a mesa de júri durante o Festival de Cinema da Fronteira, em Bagé, em
2012.
De
2015 para cá a vida do narcotraficante colombiano Pablo Escobar (1949-1993) apareceu
inúmeras vezes em séries de TV e do Netflix, bem como no cinema. Repercutiu o
seriado “Narcos” (2015-2017), com Wagner Moura no papel de Escobar, e ele foi
até indicado ao Globo de Ouro; e também tivemos dois bons dramas para cinema, “Escobar:
Paraíso perdido” (2014 – com Benicio Del Toro) e “Escobar: A traição” (2017,
com Javier Bardem). Na mesma safra veio “Feito na América”, um filme de grande
relevância, cuja diferença para os anteriores é o foco em um novo personagem, tão
polêmico como Escobar.
Feito na América (American made). EUA, 2017, 115 min.
Ação. Colorido. Dirigido por Doug Liman. Distribuição: Universal Pictures
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