segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Resenha Especial



Feito na América

Na década de 80, o piloto Barry Seal (Tom Cruise), um dos melhores da aviação americana, recebe a proposta de trabalhar para a CIA para investigar o Cartel de Medellín, mantido pelo colombiano Pablo Escobar. A grana é alta, então ele aceita. Mas se torna um agente duplo: enquanto investiga o caso para a Central de Inteligência, atua com a turma de Escobar fazendo o transporte de cocaína da Colômbia para os Estados Unidos com seu avião. 

Três anos depois da surpreendente fita de ação “No limite do amanhã” (2014), o diretor Doug Liman voltou a filmar com o astro Tom Cruise, agora numa história controversa e maluca com assustadora base real. Com perspicácia, Liman e Cruise realizaram esta biografia com jeitão de farsa, ação e um humor afiado sobre Adler Berriman "Barry" Seal (1939-1986), um piloto de extrema experiência, que trabalhou como agente da CIA, traindo a corporação para se tornar um dos braços direitos do poderoso barão das drogas Pablo Escobar. Enaltece-se a figura de um cidadão americano comum e batalhador, com família formada, que atuava com ética no ramo da aviação até se envolver com o crime organizado, no caso tráfico de drogas e armas, em troca de milhões de dólares. Seal teve vida dupla, enganou a esposa e os amigos, e por muito tempo voou despercebido pelos céus dos Estados Unidos em um avião de pequeno porte lotado de toneladas de cocaína...
A época do caso de Barry Seal era de um contexto caótico: os dois governos de Ronald Reagan na década de 80. Havia a Guerra Fria, a guerra contra as drogas, greves pra todo lado, crise política e extenso gasto bélico para promover a invasão americana em vários países. Seal era fruto desse meio – e o filme busca esses tantos retalhos de informações, alguns até impossíveis, para criar a figura controversa dele, o que faz o público duvidar se aquilo realmente ocorreu. A obra não foi baseada em livro, mas de matérias jornalísticas, que compõem um roteiro esperto, do estreante Gary Spinelli.
A fim de realçar os golpes e as proezas desse homem, a fita recorre a uma linguagem divertida aliada a uma edição explosiva, que tornam especial este filme de 2017 que não teve a repercussão merecida nos cinemas.
Tom Cruise não parece nada com o verdadeiro Barry Seal, por isso precisou rejuvenescer, com auxílio de maquiagem, uns 12 anos (Cruise tinha na época 55 anos, enquanto Seal, 43), mas nada disso atrapalha a composição da alma do personagem.


Tem até fotografia do uruguaio Cesar Charlone, indicado ao Oscar por “Cidade de Deus” (2002), que vive bastante no Brasil e em nossas terras dirigiu um episódio do filme “Rio, eu te amo” (2014) e vários da série “Cidade dos homens” – Charlone é um cara super bacana, tive a honra de dividir com ele, por uma semana, a mesa de júri durante o Festival de Cinema da Fronteira, em Bagé, em 2012.
De 2015 para cá a vida do narcotraficante colombiano Pablo Escobar (1949-1993) apareceu inúmeras vezes em séries de TV e do Netflix, bem como no cinema. Repercutiu o seriado “Narcos” (2015-2017), com Wagner Moura no papel de Escobar, e ele foi até indicado ao Globo de Ouro; e também tivemos dois bons dramas para cinema, “Escobar: Paraíso perdido” (2014 – com Benicio Del Toro) e “Escobar: A traição” (2017, com Javier Bardem). Na mesma safra veio “Feito na América”, um filme de grande relevância, cuja diferença para os anteriores é o foco em um novo personagem, tão polêmico como Escobar.

Feito na América (American made). EUA, 2017, 115 min. Ação. Colorido. Dirigido por Doug Liman. Distribuição: Universal Pictures

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