O primeiro homem
A trajetória do astronauta norte-americano
Neil Armstrong (Ryan Gosling) contada em oito anos (1961-1969), quando ele integrou
os projetos Gemini e Apollo, na Nasa, para viajar até a Lua. Cercado por
dilemas familiares, Armstrong foi o primeiro homem a colocar os pés no solo
lunar numa arriscada missão que durou oito dias.
Produzido por Steven Spielberg, o filme tinha a intenção de ser um épico
contemporâneo que resgatasse a biografia do célebre astronauta Neil Armstrong
(1930-2012), o primeiro homem a pisar na Lua. Havia por trás uma forte campanha
da Universal Pictures e chegou a abrir o Festival de Veneza, indicado ao Leão
de Ouro. Até Clint Eastwood iria dirigir, porém abandonou o projeto, assumindo Damien
Chazelle, o diretor mais jovem da História a ganhar um Oscar – em 2017, por “La
La Land: Cantando estações” (2016), com apenas 32 anos. Ele convidou o ator desse
seu ótimo filme musical, Ryan Gosling, para ser o protagonista, optando por uma
produção ambiciosa, com mais drama do que ação. Infelizmente a campanha não gerou
os resultados esperados, muita gente reclamou da duração, chiou da lentidão da
história, pois aguardavam uma fita de aventura espacial, e tudo isto refletiu
na bilheteria (arrecadou U$ 100 milhões, num orçamento de U$ 60 milhões). O
reflexo negativo também se deu no Oscar, onde recebeu este ano menos indicações
do que se almejava (foram quatro ao todo, de prêmios técnicos: melhor direção
de arte, efeitos visuais, edição de som e mixagem de som, portanto nada nas
categorias principais).
Na verdade,
tem o porquê dessa lentidão, da poesia, de um lado mais íntimo da história:
Chazelle quis uma fita de dramas existenciais, conflitos internos, algo sentimental
com um pano de fundo de ficção científica não tão ficção científica assim, com
um ar filosófico, como a moda dita hoje obras desse estilo. Beira a linha de “Interestelar”
(2014) e “A chegada” (2016), sabe?
Bem
acabado, o roteiro de Josh Singer, ganhador do Oscar por “Spotlight: Segredos
revelados” (2015), baseou-se na biografia do astronauta detalhada no livro “O
primeiro homem: A vida de Neil Armstrong”, do historiador James R. Hansen (disponível
no Brasil pela editora Intrínseca). Singer desenhou os oito anos que antecederam
a viagem dele à Lua, um exaustivo período de preparação do piloto a nível psicológico,
espiritual e físico, focando suas angústias enquanto se dividia entre a esposa
e o filho com o trabalho na Nasa. É menos a missão espacial e mais sobre o
homem (matéria-sentimento) Armstrong, em busca de respostas para os
acontecimentos de sua vida pessoal.
Gosling
interpreta um cidadão discreto, calado, de olhar temeroso, que sofria com a
morte da filha pequena. Discutia com a esposa, Janet (Claire Foy, indicada ao
Globo de Ouro pelo papel), que tentava convencê-lo a não participar da
arriscada missão Apollo 11, em nome do filho que poderia perder o pai no espaço.
Armstrong também viu amigos morrerem em treinamentos espaciais, e tudo isto pesava
em sua decisão, mas que no fim aceitou a imprevisível missão rumo à Lua, considerada
arriscada para a época. Seus sacrifícios tiveram um custo altíssimo, no entanto
mudou o rumo da nação e consequentemente da humanidade – ele disse a famosa
frase, “É um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade”.
Contado sob o ponto de vista do astronauta, o filme chama a
atenção pela câmera
observadora, muito detalhista, que capta sensações do ambiente, pormenores dramáticos,
trazendo luz para uma história triste, que nos
emociona. E ausente de heroísmo e patriotismo.
Intercalaram
nas cenas áudios reais de Armstrong gravados na missão Apollo 11, outro ponto
alto do filme, e o melhor para mim é a admirável trilha sonora, de Justin
Hurwitz, parceiro de Damien Chazelle e duas vezes ganhador do Oscar, ambas por
‘La La Land: Cantando estações” (2016) – a trilha recebeu o Globo de Ouro este
ano, e estranhamente ficou fora do Oscar. Vai entender...
Boa
parte das sequências foi rodada em cenários gigantes, com uma técnica pioneira de
telas de LED com imagens impressionantes que simulavam as viagens fora da órbita
terrestre, provocando alto grau de realidade, além da reconstituição perfeita de
naves e módulos espaciais (veja nos extras que acompanham o DVD e o Bluray). Também
foi filmado na Nasa e na Força Aérea Americana, que apoiaram o filme.
Repare
no elenco de bons coadjuvantes do cinema atual, como Lukas Haas, Jason Clarke,
Corey Stoll, Ciarán Hinds, Pablo Schreiber, Patrick Fugit, Brian d'Arcy James e
Kyle Chandler.
Indicado
também ao Bafta e a dezenas de prêmios em festivais internacionais, “O primeiro
homem” é o grande lançamento do mês em DVD e Bluray pela Universal, com um
disco inundado de extras, como cenas excluídas, making ofs e comentários do
diretor.
O primeiro homem (First man). EUA/Japão, 2018, 141
min. Drama. Colorido. Dirigido por Damien Chazelle. Distribuição: Universal
Pictures