Documentário sobre o nascimento das primeiras videolocadoras na cidade de São Paulo, na metade dos anos 70, e o fechamento delas quarenta anos depois.
Um dos melhores documentários brasileiros do ano passado, emocionante e nostálgico, que recupera a história das principais videolocadoras de São Paulo, entre os anos 70 e 2010, como a Omni Video, 2001 Video, Hobby, Charada, Real Video, Video Norte, HM, Firefox, Roma, CineMagia (que deu o nome a este filme), Space, Virtual, Top Cine, Splash, entre outras, que marcaram gerações inteiras na era do VHS e depois a do DVD.
Em seu primeiro longa-metragem, os jovens diretores Alan Oliveira e Guilherme Midler, dois amigos queridos, construíram um poético “filme memória”, com extensa pesquisa no assunto e muitas referências cinematográficas, cujo projeto demorou três anos para ser finalizado (começou a ser gravado em 2015 até estrear nas salas de cinema, em novembro de 2017, e agora saiu em DVD pela Versátil).
Oliveira (responsável também pelo roteiro e montagem) e Midler (na assistência de direção e no som) conseguiram registrar com maestria essa saudosa época que durou 40 anos, recorrendo a 50 depoimentos de fundadores e proprietários de locadoras de filmes, funcionários e clientes, além de distribuidoras (como a CIC e a Look) e críticos de cinema. Tudo contado de maneira singela, coesa e inteligente, com evidente paixão da dupla de realizadores.
Eu vivi intensamente o período do home video. Quando pequeno, no final da década de 80, locava filmes em locadoras da minha cidade (Catanduva) nos finais de semana, era uma delícia correr até as prateleiras lotadas de fitas para escolher duas ou três, cresci feliz no circuito de VHS, que foi minha maior formação cinematográfica, e na juventude cheguei a conhecer algumas das locadoras que aparecem no documentário, como a saudosa 2001 Video da Avenida Paulista, a Hobby, a Omni (fundada por Ghaba, que tem espaço especial no filme) e a Paradiso (em Santos). Identifiquei-me com a história aqui tratada, e nas duas vezes que assisti me emocionei ao relembrar a gostosa época do “cinema em casa”.
“CineMagia” segue uma linha cronológica das mídias que existiram no Brasil, primeiro com a Betamax (ou Beta), em seguida o VHS (que reinou por décadas), depois substituído pelo DVD nos anos 2000, em seguida o Bluray, que não pegou direito entre o público - e agora vivemos no mundo do streaming, liderado pelo Netflix, que reformulou o mercado de cinema e contribuiu para o fechamento das locadoras em todo o país. O documentário discute ainda os efeitos da pirataria (outro fator que ajudou na derrocada das vídeos) e um pouco sobre as leis que regulamentam a distribuição de filmes.
Estreou em poucas salas de cinema de São Paulo na primeira quinzena de novembro de 2017, e agora pode ser visto em DVD. Saiu recentemente numa linda edição de luxo, limitada, em dois discos - um com o filme e o segundo com mais de duas horas de material extra, esclarecedor e imperdível, como trailer, teaser, clipe da pré-estreia, bastidores, especial sobre Ghaba (o precursor do VHS no Brasil), agradecimentos dos proprietários aos clientes, esboços de animação da abertura do filme, processo de criação da trilha sonora e homenagem a pessoas que faleceram após a gravação do doc. Destaque também para o projeto gráfico da caixa do DVD, que relembra uma fita VHS, tanto a capa quanto por dentro, com cor envelhecida e selinhos afixados na lateral e na frente. Acompanha quatro cards colecionáveis com dois pôsteres alternativos e dois que homenageiam os antigos cartões de locação que vinham no VHS.
Não deixe de conferir e se emocionar, ainda mais se você viveu a época de ouro das videolocadoras!
CineMagia – A história das videolocadoras de São Paulo (Idem). Brasil, 2017, 100 min. Documentário. Colorido. Dirigido por Alan Oliveira. Distribuição: Versátil Home Video
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