quarta-feira, 6 de junho de 2018

Resenha Especial


12 cadeiras

Na Rússia Soviética, um ex-aristocrata, Kisa Vorobyaninov (Sergei Filippov), batalha para uma vida mais digna. Numa visita à sogra, que está no leito de morte, descobre um segredo inimaginável – a idosa havia escondido por décadas os diamantes da família em uma das doze cadeiras que possuía – e muitas delas já foram vendidas. Com o auxílio do vigarista Ostap Bender (Archil Gomiashvili), Vorobianinov segue uma longa jornada, de muitas confusões e trapalhadas, para capturar as pedras preciosas.

Comédia impagável, de arrancar risos, que foi campeã de bilheteria na União Soviética em 1971. É uma farsa de inspiração surrealista, com piadas divertidas, baseada no romance satírico “12 stulev”, dos jornalistas Ilia Ilf e Evgueny Petrov. O livro foi publicado em 1928, na implantação da Nova Política Econômica (NEP), que introduzia práticas capitalistas na URSS, reverberando na história uma série de equívocos e acontecimentos burlescos, como a centralização do poder e o acúmulo de riqueza – fatos vistos no filme vieram de casos verídicos sobre empresários trapaceiros, cujos dados foram levantados pelos autores quando trabalharam em jornais da época. Ou seja, o fio condutor apresenta eventos possivelmente reais.
Dividido em duas partes, a comédia trata da ganância e do individualismo, dois temas cada vez mais apropriados para estudar o ser humano em sociedade. Na história, um homem de vida miserável se corrompe para encontrar as joias da falecida sogra, escondida em uma cadeira sabe-se lá aonde. Ele e um amigo dão golpes, mentem e criam situações favoráveis para obter as pedras, mesmo que tenham de passar a perna nos outros.
Célebre na União Soviética, o filme abriga técnicas cinematográficas brilhantes: há uma mistura do colorido ao preto-e-branco e sequências em ritmo acelerado, como se assistíssemos a um desenho animado.
Até agora houve 20 versões de “12 stulev”, rodadas em diversos países, como as norte-americanas “Está no papo” (1945, com Don Ameche) e a de Mel Brooks com um título horroroso, “Banzé na Rússia” (1970), incluindo ainda a chanchada brasileira “Treze cadeiras” (1957, com Oscarito), além de adaptações em Cuba, Suécia, Polônia, Alemanha e Irã. Esta soviética de 1971 é a mais famosa e a melhor, dirigida pelo siberiano Leonid Gayday (1923-1993), um verdadeiro mestre do humor, superpopular na Rússia – é dele outra obra-prima do gênero, “Braço de diamante” (1969). Suas comédias venderam mais de 600 milhões de ingressos na URSS, quebrando recordes de público.
Legal também é a trilha sonora, do compositor Aleksandr Zatsepin (1926-), parceiro de trabalho de Gayday - juntos realizaram uma dezena de filmes.
Licenciada pela Mosfilm, “12 cadeiras” teve distribuição em DVD no Brasil pela CPC-Umes Filmes na série “Cinema Soviético”. Oportunidade única de assistir à cópia integral e restaurada dessa Magnum opus da comédia soviética.

12 cadeiras (12 stulev). URSS, 1971, 162 min. Comédia. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Leonid Gayday. Distribuição: CPC-Umes Filmes



* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de maio/junho de 2018


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