sábado, 16 de setembro de 2017

Resenha especial


O fascismo de todos os dias

Ascensão e queda do Nazi-Fascismo contada com criatividade neste importante documentário soviético.

E para a comemoração dos cinéfilos sai em DVD no Brasil mais um incrível filme da série ‘Cinema Soviético’, distribuído pela CPC-Umes Filmes, numa cópia muito boa. Produzido pela Mosfilm, este documentário histórico de 1965 faz uma revisão cautelosa e dramática do surgimento do Nazismo e do Fascismo no mundo, com imagens impressionantes de Benito Mussolini e Adolf Hitler flagrados em caretas e discursos cabulosos, intercaladas com registros de “hoje” (no caso, o hoje era 1965), de como as pessoas encaravam o cotidiano após a guerra. Todo o material utilizado veio do Ministério de Propaganda do III Reich, outros da coleção particular de Hitler e muitos capturados de soldados alemães da SS, para remontar temas tétricos cruciais da Segunda Guerra Mundial, como o genocídio dos judeus, o ideal do Arianismo e a alienação das massas pelo regime totalitário. Perceba que a narração ácida e extasiante, feita pelo próprio diretor, Mikhail Romm, em seu penúltimo trabalho no cinema, é pontuada com comentários cínicos, ora com comicidade ora com duplos sentidos, numa construção cabalmente inusitada, daí a alta criatividade desse filme soviético.
Dividido em duas partes com uma gama incontável de capítulos entre eles, o doc mantém-se atual e deflagra reflexões constantes do dia a dia, sobre abuso de autoridade, preconceito, idolatrias em excesso, individualismo, censura e poder sem mensuração. Uma obra inigualável, para ser assistida com urgência, revista e discutida.



O fascismo de todos os dias (Obyknovennyy fashizm). URSS, 1965, 130 min. Documentário. PB. Dirigido por Mikhail Romm. Distribuição: CPC-Umes Filmes

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de outubro/novembro de 2017.

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