sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Cine Lançamento


A árvore

Após a súbita morte do pai, a garotinha Simone (Morgana Davies) acredita que o espírito dele está habitando uma antiga figueira localizada na casa de campo onde vive com a família, no interior da Austrália. Para ela, o pa
i voltou para protegê-la. Convence então a mãe, Dawn (Charlotte Gainsbourg), a se comunicarem, juntas, com a árvore, para aliviar a dor da perda.

Um belíssimo poema cinematográfico filmado com orçamento mínimo, todo rodado em locações autênticas, nos campos australianos. Sem melodrama, essa pequena joia co-produzida entre França e Austrália explora a relação de uma família diante da perda. Na história, um pai jovem morre de repente, de um provável infarto fulminante enquanto dirigia seu carro de volta para casa. Como ele estava na direção, o veículo encosta levemente em uma figueira, a poucos metros da varanda de sua residência (relação que faz supor, depois, do morto com a árvore). Deixa esposa e quatro filhos, dentre eles a simpática e sonhadora garotinha Simone (um excepcional trabalho da atriz mirim Morgana Davies, que ganhou prêmios europeus pela atuação). A menina passa a se comunicar com as folhas e com os troncos dessa antiga figueira. O comportamento dela muda, assim como a mãe também passa a acreditar que o espírito do marido retornara do além e se instalara na árvore.
Esse é o resumo da tocante história, uma espécie de fantasia contemporânea, que nunca explica a sucessão dos acontecimentos em torno da árvore. O que vemos é a garotinha e a mãe tendo conversas imaginárias com a figueira, sinônimo do recomeço. O comportamento de todos ali, inclusive dos filhos rebeldes, sofrem alterações, no caso o estreitamento dos laços.
A “presença” do pai na árvore também provoca uma série de fenômenos estranhos, como tempestades, ventos fortes, as raízes destruindo tudo ao redor, bem como atrai para a família animais de todos os formatos – morcegos, sapos etc. Outro indício das notórias mudanças.
Mais do que ficar explicando, é um filme para ser sentido.
A escolha certeira do elenco contribuiu para o resultado: além da mirim Morgana Davies, temos a excelente Charlotte Gainsbourg, filha do falecido cantor francês Serge Gainsbourg com Jane Birkin; ela ganhou destaque com a soberba interpretação da mãe enlouquecida com a morte do filho em “Anticristo”, cujo papel lhe rendeu o prêmio de atriz em Cannes. As duas dão um show, de arrasar!
Outro charme do filme (e por que não um dos personagens mais importantes da trama?) é a frondosa figueira: no processo de escolha da locação, mais de 100 árvores foram visitadas, tudo para que o cenário se enquadrasse na ideia dos produtores. E escolheram uma que deslumbra, na área rural de em Boonah, Austrália.
Foi a estreia da diretora Julie Bertuccelli, premiada em Cannes por “Desde que Otar partiu” em 2003, uma cineasta sensível que aprendeu muito sobre o bom cinema com o mestre Krzysztof Kieslowski – foi assistente de diretor em “A igualdade é branca” e “A liberdade é azul”.
Baseado em um livro bem conhecido na França, da escritora Judy Pascoe, “A árvore” é falado em inglês, e encerrou com chave de ouro o Festival de Cannes do ano passado.
Um filme de arte de primeira, de bom gosto, que fala direto às mulheres. Por Felipe Brida.

A árvore
(The tree). Austrália/França/Itália/Alemanha, 2010, 100 min. Drama. Dirigido por Julie Bertuccelli. Distribuição: Imovision

Nenhum comentário: