49ª Mostra Internacional de Cinema de SP –
Melhores filmes: Parte 8
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo terminou
ontem, dia 30/10, mas a repescagem continua em três cinemas, até dia 05/11. A Mostra
2025 contou com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços
culturais e CEUs de São Paulo, além das exibições gratuitas nos streamings do Itáu
Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play. Confira abaixo mais três bons
títulos da Mostra, conferidos na última semana.

Virtuosas
(Brasil, 2025, de Cíntia Domit Bittar)
Entrei no clima deste filme sem saber o que assistiria...
Começa como drama, assume um estranho humor e aos poucos insere o público numa
trama de mistério, com desfecho de terror B. Ou seja, uma fita de difícil
classificação. Exibido em Cannes, acompanha um pequeno grupo de mulheres em isolamento
num retiro VIP para que possam desenvolver a melhor versão de si. Quem coordena
o projeto é uma coach cristã (Bruna Linzmeyer) que seleciona algumas das fieis
do seu centro religioso para passar dias com ela numa luxuosa casa à beira da floresta.
Elas têm tarefas diárias para cumprir, além de ritos pontuais – até que as
coisas fogem do controle. Vá assistir sem saber de nada, pois a experiência
será melhor. Com Maria Galant e Juliana Lourenção, foi rodado em Santa
Catarina, lugar onde a trama se passa – consta que no estado existe um programa
que transforma mulheres comuns em ‘virtuosas’, dedicadas ao marido e ao lar. O filme
critica a alienação religiosa de forma feroz, com situações que beiram o
absurdo e a extrema violência. Venceu, na Mostra, o prêmio Netflix, que adquire
os direitos de um filme brasileiro de ficção para distribuí-los em mais de 185 países
onde a Netflix está presente. Está na programação da repescagem da Mostra, com
sessão amanhã, dia 02/11, no Cinesesc.
Lua Cambará – Nas escadarias do palácio
(Brasil, 2002, de Rosemberg Cariry) – Versão restaurada
Assisti na seção de filmes restaurados da Mostra este
drama épico brasileiro feito em 2002, que na época não cheguei a ver. O restauro
está lindo, realçando imagem e som – boa parte dos filmes da Retomada, assim
como de outros momentos do cinema brasileiro, apresentam problemas críticos com
nitidez das cenas e diálogos inaudíveis, e o restauro torna-se necessário. Rodado
no sertão de Inhamuns e de outros pequenos municípios cearenses, o filme traz
para a tela a lenda de Lua Cambará, que na tradição nordestina era uma
matriarca temida no século XIX, com ideais escravagistas e que lutava para se
impor aos latifundiários que dominavam a região. Mestiça, era filha de um coronel
com uma escrava preta, e passou a vida rejeitada. Até conquistar o espaço dos
homens por meio da luta e da violência, tornando-se uma mulher rica – mas que
se acabou pela ambição. Dira Paes, em início de carreira, entrega um belo
trabalho como a protagonista; no elenco, Chico Diaz, Cláudio Jaborandy e W. J.
Solha e participações de Nelson Xavier, Via Negromonte e Muriel Racine tornam o
longa ainda melhor. Tem ainda um belo trabalho de fotografia, figurino e direção
de arte, dignos do bom cinema regionalista realizado no Nordeste Brasileiro. É
o segundo filme restaurado de Rosemberg Cariry apresentado na Mostra – em 2023 assisti
lá a bonita cópia em 4K de ‘Corisco e Dadá’ (1996), também com Chico Diaz e
Dira Paes. A restauração em 4K de ‘Lua Cambará’ foi feita a partir de negativos
de imagem e som originais, com apoio do Museu da Imagem e do Som do Ceará
(MIS-CE), Instituto Mirante, MAM Rio, Iluminura Filmes e Sereia Filmes. A produção
executiva da restauração é assinada por Bárbara Cariry, filha do diretor, com supervisão
técnica e color grading de seu irmão, o cineasta Petrus Cariry. Acabaram as
sessões da Mostra, mas deve estrear em breve em cinemas selecionados.
Foi apenas um acidente
(Irã/França/EUA/Luxemburgo, 2025, de Jafar Panahi)
Premiado com a Palma de Ouro em Cannes, o novo filme do
iraniano Jafar Panahi disputa uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro representando
a França, já que o longa é uma produção francesa – Panahi é um perseguido
político em seu país, ficou um ano preso por criticar em seu cinema o regime
teocrático do Irã e esteve por 14 anos proibido de viajar para fora do Irã; atualmente
ele divide residência entre Irã e França. Aos 65 anos ele faz um grande filme,
discutível para alguns, que dialoga com sua fase inicial, depois de uma década
dedicada a docudramas em que ele participava como ator. É uma trama de sucessão
de erros e marcada por dúvidas – as do protagonista são nossas também. Um
acidente na rodovia desencadeia consequências inimagináveis que traz à tona um
terrível plano de vingança, em que um homem é amarrado e torturado por um dia inteiro
em uma van. Entram personagens aleatórios em cena, as subtramas vão sendo
costuradas e explicadas, e a revelação vem no fim. Ação, suspense e comédia num
road movie magistralmente criado pelas mãos de um mestre do cinema iraniano, já
ganhador de Urso de Ouro e Leão de Ouro – e só faltava Cannes, que veio agora.
O filme estreia nos cinemas pela Imovision em 04/12 e depois entra no streaming
do Reserva Imovision.
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