domingo, 9 de novembro de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming


Dollhouse
 
Um sinistro J-horror (horror japonês), com uma boneca amaldiçoada, chega aos cinemas neste fim de semana, lançamento exclusivo da Sato Company. Quem tem medo com filmes de brinquedos malditos irá curtir a pegada desse terror que também é um drama sobre luto. Yoshie (Masami Nagasawa) entra em depressão profunda após a morte da filha de cinco anos, Mei (Totoka Honda). Ela e o marido tentam, pouco a pouco, superar a perda. Um dia, Yoshie encontra numa loja de antiguidades uma boneca com traços que lembram Mei, então a adquire. Encontra na boneca uma forma de superar o luto, integrando-a como membro da família. Tempos depois nasce a nova filha do casal, Mai (Aoi Ikemura), e a boneca é deixada de lado. Quando Mai completa cinco anos, a garotinha desenvolve uma certa atração pela boneca, dando início a estranhas ocorrências sobrenaturais. Em seu novo projeto, o diretor e roteirista Shinobu Yaguchi muda radicalmente de gênero, saindo das habituais comédias para atingir um outro nível na cinematografia, o horror sobrenatural – ele dirigiu 14 filmes, como o premiado sucesso de público ‘Garotas do balanço’ (2004). Ele se saiu bem, por ser um bom contador de histórias, fazendo uma obra assustadora, com jumpscares de pular da cadeira; o horror se divide com um drama psicológico, uma preocupação do diretor, que trouxe reflexões sobre luto, perda e reparação, com um triste assombroso. Yaguchi conta em entrevistas que sempre quis realizar uma fita de horror, já que é fã do gênero – em alguns aspectos ‘Dollhouse’ lembra ‘Annabelle’, com melhor refinamento artístico, pois trata de uma boneca que, quando jogada fora, retorna de maneira inexplicável e guarda uma maldição. Disponível em vários cinemas brasileiros, incluindo o Sato Cinema - fundada em 1985, a Sato Company é pioneira na distribuição de animes e tokusatsu, referência aos cinéfilos; a Sato lançou no Brasil filmes e séries asiáticos de sucesso de público e crítica, como ‘Akira’, ‘Ghost in the shell’, ‘National Kid’, ‘Ultraman’, ‘Godzilla Minus One’ e ‘O menino e a garça’.
 

 
Meu nome Hitchcock
 
Documentário monumental do diretor, roteirista, pesquisador e professor de cinema Mark Cousins, que esteve no Brasil no ano passado para lançar uma retrospectiva de oito filmes seus e fazer masterclass no festival ‘É Tudo Verdade’. Produção britânica, exibida em festivais como Telluride e Hong Kong e na Mostra de Cinema de SP de 2022, o documentário de Mark Cousins está disponível gratuitamente no Sesc Digital até o dia 19/11. Em 2022 houve a comemoração dos 100 anos de lançamento do primeiro trabalho de Alfred Hitchcock, ‘Number 13’ (também conhecido por ‘Mrs. Peabody’), comédia muda rodada no Reino Unido, considerada perdida, já que os rolos da película foram destruídos, o roteiro datilografado sumiu, e há hoje uma ou outra cena por aí no Youtube, em péssima qualidade. Para celebrar o centenário do primeiro filme de um dos diretores mais conhecidos e influentes do planeta, Cousins lançou este longa que é resultado de uma ampla pesquisa feita por ele ao longo dos últimos anos ele criou um filme super bem montado para estudiosos e fãs de Hitchcock, uma preciosidade que dá prazer em assistir. Com seu olhar crítico e direto, Cousins, só com trechos das 70 obras de Hitchcock, compõe um rico painel sobre os processos de criação do cineasta falecido em 1980; ele divide o filme em pontos de vista de Hitchcock, como o controle e os planos das cenas, a altura da câmera e os elementos escondidos, que se transformaram em obsessões do cineasta, e assim um virtuosismo que inspiraria diretores como Brian De Palma e M. Night Shyamalan. Um recurso curioso, que chama demais nossa atenção, é a narração - quem fala a todo momento em primeira pessoa é o próprio Hitchcock, como se estivesse nos dias atuais – no crédito final é explicado como isto foi feito. É uma viagem supersônica ao cinema de Hitchcock, com 80% do filme composto por imagens de seus filmes, e o restante com fotos raras de Hitchcock em bastidores, dando entrevistas e posando para capas de revistas e matérias jornalísticas. Cousins está no rol dos enormes documentaristas contemporâneos; ele completou 60 anos recentemente, e dele há trabalhos imprescindíveis para quem quer estudar o cinema, como a minissérie ‘A História do Cinema – Uma odisseia’ (2011), e os longas ‘Uma História de crianças e cinema’ (2013), ‘Os olhos de Orson Welles’ (2018), o díptico ‘A História do olhar’ e ‘A História do Cinema – Uma nova geração’  - lançados em 2021, e ‘O cinema tem sido o meu amor: O trabalho e a vida de Lynda Myles’ (2023). Conheçam ‘Meu nome é Hitchcock’.
 

 
Você é o universo
 
Poucos sabem, mas a Ucrânia, bem antes da guerra com a Rússia, tem investido em um cinema autoral, com filmes sobre debate social, conflitos étnicos-culturais e disputa de território. Mesma com a crise financeira que se arrasta há pelo menos três décadas, o país faz coproduções e realiza longas independentes de altíssima qualidade, com uma ampla cinematografia, infelizmente desconhecida – a Ucrânia era uma das 15 repúblicas socialistas da URSS, o país foi invadido pela Rússia e continua sendo devastado desde 2014, com intensificação do conflito a partir de 2022. O cinema ucraniano tem mínima projeção fora da Europa, e talvez os dois filmes mais conhecidos de lá foram os documentários ‘Winter on fire: Ukraine's fight for freedom’ (2015), indicado ao Oscar, e o vencedor do Oscar de doc do ano passado, a coprodução EUA/Ucrânia ’20 dias em Mariupol’ (2023), excelente por sinal. Uma das salvações para ver cinema ucraniano é acessar o catálogo da Reserva Imovision, que apresenta sete produções do país e coproduções de 2019 a 2024, como este curiosíssimo filme de ficção científica ‘Você é o universo’ (2024). É um drama scifi que se passa num futuro próximo. O mundo acabou depois das guerras que assolaram o planeta – dentre ela a Russo-Ucraniana. Só existe um sobrevivente, um astronauta viajando pelo espaço, o ucraniano Andriy Melnyk (Volodymyr Kravchuk). Ele está a trabalho, sozinho na nave, transportando lixo nuclear em um cargueiro para Calisto, uma lua abandonada de Júpiter. Sem saber o que fazer quando a Terra vira cinzas, procura na nave jogos e brincadeiras para ocupar o tempo e planejar um pouso. Até que, por meio de sinais do rádio, descobre que uma astronauta francesa, de nome Catherine (Alexia Depicker), está também em viajando no espaço solitariamente. Andriy se sente aliviado por não estar só, então combina com Catherine uma forma de as naves se aproximarem para se conhecerem. Um personagem em cena, uma ambientação somente, e um vazio absoluto dominam a cena, num filme de esplêndidas fotografia e direção de arte. O drama scifi se torna aos poucos uma pequena aventura espacial em que dois estranhos buscam se encontrar para viver uma história de amor, apesar dos milhares de obstáculos. Destaco a direção de arte bem cuidada do interior da nave espacial do protagonista, além do bom trabalho dele. A direção de Pavlo Ostrikov é segura – é seu filme de estreia, escrito e dirigido por ele, que demorou 10 anos para realizá-lo, devido ao orçamento apertado, a pandemia e a guerra que prorrogaram a produção. Totalmente rodado e produzido na Ucrânia, o filme prende a atenção e é um belo exemplar do cinema autoral do país. Há, da metade para o final, uma reviravolta impressionante que mudará o humor do filme. Vi por acaso após comentários positivos na internet e gostei muito – o longa integrou a seleção oficial do Festival de Toronto e da primeira edição do Festival de Cinema Europeu Imovision, lançado neste ano em São Paulo.



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