terça-feira, 18 de novembro de 2025

Estreias da semana - Nos cinemas e no streaming

 
Querido trópico
 
Premiada fita de arte produzida no Panamá e Colômbia chega aos cinemas brasileiros, um filme tocante sobre velhice e Alzheimer. Muitos filmes já trataram do tema com certo dissabor e tristeza; aqui a seriedade, com um pequeno toque de humor, toma conta da história, que envolve uma amizade intergeracional. Ana Maria (Jenny Navarrete) é uma jovem imigrante colombiana que trabalha como cuidadora de idosos. Ela atualmente mora na Cidade do Panamá. Sua próxima paciente será Mercedes (Paulina García), uma senhora da classe alta, que enfrenta a demência. Dia a dia Mercedes se atém a lembranças para barrar a evolução da cruel doença. Aos poucos, entre ela e Ana Maria nascerá um vínculo que ultrapassará os limites da relação enfermeiro/paciente. As duas atrizes em cena desenvolvem uma química impressionante, interpretações de uma sinceridade ímpar, com destaque para o discreto charme da atriz chilena Paulina García, protagonista de ‘Gloria’ (2013), papel que rendeu a ela o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim. É um filme de alma feminina, que se constrói nos detalhes, pelos olhares dos personagens, pelo toque entre eles. Escrito e dirigido pela cineasta panamenha Ana Endara Mislov, o filme teve première nos Festivais de Toronto e San Sebastián e aqui no Brasil no Festival do Rio. Está nos cinemas com distribuição do Filmes do Estação.
 

 
Meu pior vizinho
 
A Sato Company, distribuidora especializada em cinema asiático, traz ao Brasil a graciosa comédia romântica sul-coreana ‘Meu pior vizinho’, uma adaptação da fita francesa ‘Blind date’. Com elementos típicos dos doramas que tanto fazem sucesso, o filme se passa em dois apartamentos vizinhos, separados por uma fina parede; no primeiro mora um músico, que acabou de se mudar e precisa de concentração para exercer seu trabalho, enquanto no apê ao lado reside uma jovem designer em crise emocional. A menina chora diariamente, tem poucos amigos, e o barulho das ferramentas que ela usa no trabalho, bem como o chororô, chama a atenção do músico, que passa a ouvir pela parede seus lamentos. Ele então cria coragem para marcar um encontro com a misteriosa vizinha. Os atores, apesar de iniciantes, são carismáticos e entregam o melhor de si numa história leve, apaixonante, mas que não deixa de refletir sobre o isolamento na cidade grande – a parede que separa os dois é uma alegoria para a solidão e o distanciamento da vida moderna. O filme está em circuito em dezenas de cidades brasileiras, dentre elas capitais como Salvador, Brasília, Vitória, Goiânia, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
 

 
Lar
 
Bom documentário na linha do novo cinema independente brasileiro, assinado pelo jovem cineasta Leandro Wenceslau. Um trabalho muitíssimo autoral do diretor, que reflete pontos de sua vida ao tratar das novas formas de amor e cuidado. São três famílias LGBTQIAPN+ que partilham suas relações com os filhos, bem como o preconceito enraizado na sociedade e suas formas de enfrentamento. Quem conduz as histórias são os filhos e as filhas daquelas famílias, que falam de afeto, o percurso da adoção, a rotina na escola e os desafios de se viver num lar diverso. A câmera registra o cotidiano dessas pessoas em suas individualidades, mostra conversas reveladoras em que desabafam e também apontam as inseguranças. O diretor aparece como narrador trazendo colaborações sobre sua jornada de descobertas ao relembrar momentos cruciais da infância e juventude e da vontade em adotar um filho com seu companheiro – algo que motivou a realização do documentário. Um bonito filme sobre vínculo familiar e que levanta também discussão sobre enfrentamento ao preconceito de gênero, reunindo uma gama de histórias que se completam no tema proposto. Produtor, roteirista e diretor, Leandro Wenceslau fez aqui seu bom ‘debut’ em longa-metragem após uma série de curtas-metragens de tema LGBTQIAPN+. Entrega um filme reflexivo e importante para os dias atuais. Estreia nos principais cinemas com distribuição da Embaúba Filmes.
 

 
Maldito Modigliani
 
Chega aos cinemas mais um documentário da série de filmes para cinema das produtoras italianas 3D Produzioni e Nexo Digital, com distribuição no Brasil pela Autoral Filmes – elas rodaram 65 trabalhos entre séries e filmes, de 2014 para cá, e a Autoral já distribui alguns como ‘Picasso – Um rebelde em Paris’ (2023). O filme faz um apanhado das obras do artista italiano Amedeo Modigliani (1884-1920) a partir da análise delas por historiadores de arte e curadores de museu, bem como momentos decisivos de sua vida – como a boemia, a pobreza, a fome, a relação com pintores russos, a incorporação do Expressionismo e Fauvismo e a morte prematura por tuberculose aos 35 anos. Um dos comentadores no documentário é o diretor de cinema Paolo Virzì, fã das obras de Modigliani. O filme foi produzido em 2020, no centenário de morte do artista, um gênio vanguardista que teve reconhecimento somente após a morte. A originalidade do doc está na narração – quem conta é a esposa de Modigliani, Jeanne Hébuterne, musa de seus trabalhos e que cometeu suicídio dois dias após a morte de Modigliani. Um filme rico de informações e bem construído, que vale a pena assistir, principalmente aqueles que curtem artes plásticas.
 

 
Corações jovens
 
A Mares Filmes lança, após grande espera do público, a apaixonante fita belga ‘Corações jovens’, coproduzida nos Países Baixos, que fala do primeiro amor, no caso entre dois meninos que moram na mesma rua. Discreto, é um filme emotivo e bem cuidado, de tema LGBTQIAPN+ que leve para a tela dois personagens não causais no cinema, dois meninos na pré-adolescência que se apaixonam – em seu primeiro longa-metragem, o cineasta e roteirista Anthony Schatteman soube entrar nessa seara cinematográfica com muito afinco, sem pieguice ou melodrama barato. Menos dramático e sem aquela carga de tristeza do conterrâneo ‘Close’ (2022), nem tão complexo e com densidade psicológica do japonês ‘Monster’ (2023), ambos filmes sobre jovens na descoberta do amor, o filme é mais terno e atraente para o grande público. Elias e Alexander acabam de se tornar vizinhos e passam a desenvolver um carinho especial um pelo outro. Da amizade entre as brincadeiras de escola e corrida de bicicleta, nasce ali o amor. Elias é mais intenso, precisa resolver aquele estranho sentimento dentro dele, mas tem medo de falar para a família sobre o assunto – ele tem pai, mãe e irmão mais velho. Já Alexander é mais tímido, fala pouco, é um menino curioso e não esconde o carinho que tem pelo novo amigo. A ambientação do filme é um atrativo para a história romântica, pois se passa numa cidadezinha bucólica, cercada por matas e um enorme silêncio. Os atores mirins nos emocionam com tamanha sensibilidade e tato para os papéis, ambos estreantes, Lou Goossens e Marius De Saeger. É bonita a relação que se constrói entre Elias e sua família e as formas de encontro dos dois meninos, como na cena final na festa que movimenta a cidade. Exibido no Festival de Berlim, onde recebeu menção especial dos jurados na seção Generation Kplus, o filme venceu prêmio especial no Cannes Écrans Juniors. Vem fazendo certo sucesso entre os jovens, principalmente após o filme viralizar nas redes sociais. Que o público o encontre, pois é uma obra linda demais, voltada especialmente para quem quer ver na tela uma história romântica sendo construída nos detalhes.
 
 
Eu, Eddie
 
Aos 64 anos, o astro da comédia Eddie Murphy ganha agora um documentário especial na Netflix, um filme que recupera toda a sua carreira, que completou quatro décadas. Com fotos de arquivo, reportagens e vídeos caseiros, o filme mostra o início de Eddie no humor, quando começou no stand up de Nova York no início dos anos 80, até se tornar ator de filmes populares e queridos pelo público, como ’48 horas’, ‘Um tira da pesada’, ‘Trocando as bolas’ e ‘Um príncipe em Nova York’. Eddie é entrevistado pela equipe do diretor Angus Wall, relembra fatos marcantes da carreira, fala de como foi difícil entrar no cinema - um território de brancos, até se consolidar e abrir as portas para jovens atores negros nos anos 80 – já existiu a Blaxploitation que trouxe o ator negro para a tela, mas a vinda de Eddie marcou um novo momento do cinema pós-Nova-Hollywood, um cinema mais moderno e comercial. Em determinado momento Murphy toca em temas espinhosos, como seu lado temperamental no set de filmagem, quando abandonou o Oscar no meio da cerimônia por não ter ganhado a estatueta em sua única indicação – por ‘Dreamgirls: Em busca de um sonho’ (2006), as duras críticas recebidas com seus filmes que andaram na corda bamba nos anos 90, além de entraves que culminaram em mal estar com colegas atores de sua geração. A Netflix produz bons documentários em formato de filme, e este é um deles.



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