domingo, 30 de julho de 2023

Cine Cult


Street trash

Dono de uma velha loja de bebidas no Brooklyn, em Nova York, encontra, nos fundos do depósito, uma caixa empoeirada contendo garrafas de um estranho licor chamado Viper. Ele os coloca à venda com preço baratinho. Andarilhos que circulam por lá roubam alguns frascos e dividem a bebida entre eles. Mas ninguém imagina que o Viper é tóxico e, ao ser tomado, derrete a pessoa em segundos.



Estranho, escatológico, repulsivo e estranhamente engraçado, “Street trash” é um dos filmes mais bizarros do cinema, também conhecido por “O lixo das ruas”. É um autêntico trash (trash de natureza técnica mesmo, de concepção correta do que é um ‘trash movie’), um terror-comédia maluco, produzido com pouco dinheiro (custou U$ 500 mil) e rapidamente tornou-se cult.
A fita, de 1987, nasceu de um curta-metragem feito quatro anos antes pelo mesmo diretor (J. Michael Muro), elenco e equipe, com menos recursos. Muro aproveitou o plot e as piadas, estendeu a história para projetá-la nas telonas e jogou mais cenas de violência e escatologia. Uma bebida maldita encontrada nos fundos de um depósito de uma loja, de nome Viper, é roubada por mendigos, que acabam dividindo os frascos e bebendo o conteúdo. Porém o Viper derrete quem o bebe. Um andarilho que observa tudo tenta alertar os amigos de rua, sem sucesso. A trama do filme é somente essa, um roteiro superenxuto, que investe em mortes bizarras, com bons efeitos especiais e maquiagem, com gente derretendo e explodindo. Prepara-se para muita nojeira, com líquidos corporais pingando pelas ruas, tripas pulando fora do corpo, o sangue se transformando em uma pasta azulada. No fim, as vítimas do Viper viram uma gosma colorida. Numa cena icônica que virou o pôster original do filme, um mendigo senta-se no vaso sanitário e derrete, e os restos do seu corpo são tragados para dentro da privada.
Tem um forte comentário social: o “lixo das ruas” referindo-se pejorativamente aos andarilhos que povoam o Brooklyn, e o Viper como uma forma de “limpar” a cidade (uma crítica à aporofobia). O derretimento das pessoas por essa bebida colocada com destaque para ser vendida barata também é um alerta quanto à sociedade de consumo (todos querem o Viper vendido por um dólar, mas ninguém sabe o que tem ali no frasco).




“Street trash” tornou-se um marco do cinema trash. Foram 40 dias de filmagem em 1985, todo rodado nas ruas de Nova York. Teve exibição em diversos festivais de cinema terror e de cinema fantástico, como Avoriaz e Bruxelas, e somente dois anos depois lançado no circuito independente.
O filme acaba de sair em DVD numa edição sem cortes, na versão integral de 100 minutos, pela distribuidora Obras-primas do Cinema - por causa das nojeiras e da violência, o filme sofreu cortes de 10 minutos em alguns países, sendo lançado com 91 minutos na Noruega, por exemplo. No disco, além da ótima cópia do filme, há extras, incluindo o curta “Street trash”, de 198, e capa dupla face.
Um crítico de cinema da Inglaterra resumiu bem a fita no lançamento; disse que “Eraserhead” se encontra com “A noite dos mortos-vivos” no set de filmagens de “O massacre da serra elétrica”. Bom divertimento!

Street trash (Idem). EUA, 1987, 100 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por J. Michael Muro. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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