A aparição
Ressurreição: Retalhos de um crime
Numa cidadezinha do Arizona, um jovem é morto pelo líder de uma gangue.
Tempos depois, um homem misterioso de capacete, roupas pretas e portando uma
arma surge em um carro futurista. Ele vem desafiar os membros da gangue com o
intuito de vingar a morte daquele rapaz.
Cultuado pelos jovens nos anos de 1980 e 1990, “A aparição” é uma fita
scifi com terror e ação que mais parece um faroeste sobrenatural, uma mistura de
“O estranho sem nome” (1973, de Clint Eastwood) com “O carro – A máquina do
diabo” (1977, de Elliot Silverstein). Isso porque na trama um homem misterioso
surge numa pequena cidade do Arizona para se vingar da morte de um rapaz, crime
cometido por uma perigosa gangue de rua. Não se sabe a identidade desse cara,
nem se ele é deste mundo; veste roupas pretas de couro com acessórios de metal,
semelhante a um robô, usa um capacete que tapa inteiramente o rosto e os olhos,
e porta uma arma destruidora. Paralelamente à vinda dele, chega à cidade um
jovem em busca de um lar (Charlie Sheen, filho do astro Martin Sheen e irmão de
Emilio Estevez, em início de carreira, meses antes de protagonizar “Platoon”, o
clássico de guerra de Oliver Stone).
A trama fica célere com as brigas entre as gangues de rua e os rachas no
meio da poeira e do deserto (com boas cenas de corridas de carro). A trilha é
embalada em alta frequência por clássicos do rock’n roll, em que ouvimos Ozzy
Osbourne e Lion, por exemplo. No elenco, além de Sheen, tem Nick Cassavetes (filho
do cineasta John Cassavetes e da atriz Gena Rowlands, que viraria diretor
depois), Sherilyn Fenn (atriz da série “Twin Peaks”), Randy Quaid (irmão mais
velho de Dennis Quaid, de “A última missão”) e Clint Howard (de “Um sonho
distante”).
Um dos pouquíssimos filmes dirigidos por Mike Marvin, que realizou mais
séries televisivas e no mesmo ano de “A aparição” estreou com o popular besteirol
“Hamburguer: O filme”.
Quem devorava filmes nas antigas sessões da tarde na TV nos anos 90 vai
se lembrar de “A aparição”, agora lançado em DVD numa boa cópia pela Obras-primas
do Cinema. No disco há 30 minutos de extras, além de capa dupla face e junto
com um card com a capa original do filme.
A aparição (The wraith). EUA/Canadá, 1986, 93 minutos.
Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Mike Marvin. Distribuição: Obras-primas do
Cinema
Ressurreição: Retalhos de um crime
Derivado de “Seven: Os sete crimes capitais” (1995), com forte
semelhança na trama (incluindo a complexidade do caso envolvendo assassinatos
brutais), na fotografia escura e na investigação da identidade do assassino, “Ressurreição”
(1999) fez carreira no circuito de home video, numa distante época na qual o
VHS reinava. O roteiro se apropriava de ideias de “Seven” trazendo com mais ênfase
mortes horrendas, exibidas sem restrições na tela, reforçando a crueldade do assassino.
Foi escrito por Brad Mirman, de fitas policiais com assassinos como “Corpo em
evidência” (1992) e “Face a face com o inimigo” (1992), este com Christopher Lambert,
onde conheceu o ator e voltaria a trabalhar com ele em pelo menos três outros longas-metragens.
Na realidade, o argumento original do filme é de Lambert, que auxiliou Mirman não
script (é o único trabalho de roteiro creditado de Lambert, que foi um dos
produtores aqui). Ou seja, um filme dele, para ele, bem pessoal. Convidou para
dirigir Russell Mulcahy, australiano, velho conhecido de Lambert, que o tornou
famoso quando o dirigiu no cultuado “Highlander: O guerreiro imortal” (1986) –
e depois fariam a continuação, “Highlander 2: A ressurreição” (1991).
O filme foca integralmente na investigação, um caso complicado de
assassinatos cometidos por alguém insano, possivelmente um abitolado religioso,
que inscreve no corpo das vítimas versículos da Bíblia e arranca os membros
delas, levando-os consigo - a ideia do serial killer é recriar o corpo de
Cristo. Traz imagens fortes e até desagradáveis, por exemplo, dos corpos em
decomposição).
Para provocar medo e gerar o clima de estranhamento da história, há uma
fotografia estilizada, amarronzada, com enquadramentos que deformam a tela nos
momentos de sufoco dos personagens (foto de Jonathan Freeman, de séries como
“Game of thrones” e “Boardwalk empire”).
Não acho Lambert bom ator (às vezes é canastrão), mas neste filme faz um
esforço e não desagrada. Atenção para personagens secundários que auxiliam o
tom firme e sinistro da trama: Leland Orser (de “O colecionador de ossos” e que
fez ponta em “Seven”), como o detetive auxiliar de Lambert, e Robert Joy (de “Atlantic
city”), como um cidadão que ajuda os detetives fornecendo pistas para
desvendarem o caso. Há também uma rápida aparição, no papel de um padre, do
diretor David Cronenberg (que fez “A mosca” e “Crash: Estranhos prazeres”).
Lançado em DVD numa boa cópia pela Obras-primas do Cinema. No disco há extras,
além de capa dupla face e junto com um card com a capa original do filme.
Ressurreição: Retalhos de um crime (Resurrection). EUA/Canadá, 1999, 107
minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Russell
Mulcahy. Distribuição: Obras-primas do Cinema
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