Matinee: Uma sessão muito louca
Em plena crise dos mísseis de Cuba, em 1962, o produtor de fitas B
Lawrence Woosley (John Goodman) pretende lançar seu último filme de terror na
cidade de Key West, na Flórida. Ele aproveita que a população anda tensa com os
novos desdobramentos da Guerra Fria para levar às salas de cinema um filme
sobre um homem que, após uma guerra nuclear, transforma-se em formiga, atacando
quem vê pela frente.
Figura louvável do cinema blockbuster americano da década de 1980,
diretor de filmes memoráveis como “Grito de horror” (1981), “Gremlins” (1984),
“Viagem insólita” (1987) e “Meus vizinhos são um terror” (1989), Joe Dante presta
aqui uma singela homenagem ao cinema de baixo orçamento (os “filmes B”) dos
anos de 1950 e 1960, em especial aqueles de terror e ficção científica, tão
populares nos Estados Unidos, cujas sessões lotavam as salas. Em seu trabalho
menos lembrado (mas muito especial para os cinéfilos que gostam de conhecer os
bastidores do mundo do cinema), acompanhamos as loucuras por trás do lançamento
de um filme nas salas, do marketing para divulgá-lo até caçar gente para
comprar ingresso. Numa cidade da Florida durante a Guerra Fria, os moradores estão
à flor da pele com medo de uma guerra nuclear. Um produtor de um filme B
aproveita o momento para distribui-lo numa grande sala. Será um longa-metragem
preto-e-branco com um homem-formiga assassino, fruto da mutação genética
causada por radiação nuclear (ele é chamado de “Hormiga”, ou em inglês, “Mant”,
junção de “man” e “ant”). Para dar impacto durante a projeção, o produtor
instala nas poltronas do cinema equipamentos para dar choque no público, e
durante a exibição, fumaças saem da tela e ouvem-se estouros como bombas – isso
tudo existiu nos cinemas da época, com poltronas que chacoalhavam, da tela
espirrava água nas pessoas em filmes de naufrágio no mar etc O produtor
contrata por fim um rapaz para se vestir de formiga e assustar o público
perambulando pelas fileiras.
O ator John Goodman (ele está bonachão e à vontade) interpreta esse
destemido produtor de cinema, cujo papel foi inspirado no lendário produtor e
diretor William Castle (1914-1977), realizador de filmes B de terror e scifi
com efeitos especiais altamente inusitados - por exemplo, dirigiu e produziu “Força
diabólica” (1959), com um monstro parasita que estraçalhava as pessoas num
laboratório, e “13 fantasmas” (1960), com espíritos malignos aterrorizantes.
Narrado por um adolescente que é fã de cinema, o filme retrata, em
segundo plano, o medo de uma guerra nuclear - o contexto é a crise dos mísseis
de Cuba, durante 13 dias em outubro de 1962, os tais “13 dias que abalaram o
mundo”, quando os soviéticos, em plena Guerra Fria, em resposta à instalação de
mísseis na Turquia e na Itália pelos Estados Unidos, revidaram colocando ogivas
em Cuba viradas para o país norte-americano; e por pouco não houve uma guerra
atômica com proporções impensáveis!
Tudo isso está nesse passatempo delicioso, inteligente e brincalhão de
Joe Dante, que conta com boas atuações de John Goodman, de “Os Flinstones: O
filme” (1994), e Cathy Moriarty, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por
“Touro indomável” (1980), e participações menores de Dick Miller, John Sayles e
Naomi Watts (numa pontinha em início de carreira).
Sai em bluray pela Obras-primas do Cinema numa cópia excelente, com mais
de duas horas de extras e uma luva especial.
Matinee: Uma sessão muito louca (Matinee). EUA, 1993, 99 minutos.
Comédia/Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Joe Dante. Distribuição:
Obras-primas do Cinema
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