Meu passado me condena
A polícia britânica
prende um homem chamado Jack Barrett (Peter McEnery), acusado de furtar a
empresa onde trabalha. Com ele são encontrados recortes de jornal que estampam a
figura de um influente advogado da cidade, Melville Farr (Dirk Bogarde). Farr também
passa a ser investigado por integrar uma rede de chantagistas que perseguem
homossexuais.
Na época do lançamento,
em 1961, esse filme independente britânico dividiu a opinião por tocar em um
tema tabu, pois fala de uma rede (que realmente existiu) que perseguia gays nos
anos de 1950 e 1960, cuja prática passou a ser considerada crime no país tempos
depois. O filme veio no auge da Nouvelle Vague Britânica, conta com uma
história complexa, cheia de detalhes e grandes atores em cena, com destaque
para Dirk Bogarde, de “O criado” (1963) e “Morte em Veneza” (1971).
Desafiador, faz uma
incisiva crítica social em tom de “filme de denúncia” – a tal rede de
chantagistas enxergava os gays como delinquentes e criminosos, portanto
poderiam puni-los com as próprias mãos (a “chantagem” aqui seriam ameaças, com
grupos organizados que pichavam xingamentos e humilhações contra os
homossexuais nas paredes das casas onde moravam, bem como em carros e enviando cartas
secretas).
O filme rompeu barreiras,
influenciando o comportamento e a mentalidade do público da época. Foi escrito
por John McCormick, de “7 mulheres” (1965), e por uma roteirista visionária,
que tocava em feridas abertas da sociedade, Janet Green, que antes fez um filme
apontando o racismo, “Safira, a mulher sem alma” (1959).
Recebeu indicação ao
Bafta de melhor ator (Dirk Bogarde) e roteiro, e ainda ao Leão de Ouro no
Festival de Veneza.
O diretor, Basil Dearden,
de “Na solidão da noite” (1945), drama de terror sobrenatural codirigido pelo
brasileiro Alberto Cavalcanti, morreu prematuramente em 1971 aos 60 anos,
vítima de acidente de carro em Londres. Ele é pai do diretor e roteirista James
Dearden, de “Um beijo antes de morrer” (1991), e indicado ao Oscar de melhor
roteiro por “Atração fatal” (1988).
O filme ganhou uma ótima
versão em DVD pela Obras-primas do Cinema, com 1h30 de extras, que incluem
entrevista com Dirk Bogarde e um documentário especial.
Meu passado me
condena (Victim).
Reino Unido, 1961, 100 minutos. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por Basil
Dearden. Distribuição: Obras-primas do Cinema
Nenhum comentário:
Postar um comentário