Lola Pater
Zino Chekib (Tewfik
Jallab) tem 27 anos e não sabe quem é seu pai. Ele o abandonou ainda criança. A
mãe morreu há pouco tempo, e Zino, por causa de uma herança, decide procurar
pelo genitor, que hoje mora na Argélia. Ao chegar lá descobre que o pai, Farid,
é uma mulher trans, uma professora de dança independente, de nome Lola Pater (Fanny
Ardant).
A distribuidora Imovision,
fundada no Brasil em 1987, foi uma das porta-vozes em trazer aos cinemas do
nosso país fitas de arte francesas numa época em que o cinema americano
dominava. A partir da metade dos anos 2000, investiu em lançamentos de filmes
de outros países não só nos cinemas como também em DVD e bluray para os
colecionadores, o que faz muito bem até hoje! E todos os lançamentos da
Imovision pertencem ao circuito independente, quase não vemos esses filmes em
TV aberta ou no streaming. Em 2021, no auge da pandemia, a distribuidora, para concorrer
com diversos streaming que se popularizam no período, lançou sua plataforma online,
de assinatura, o “Reserva Imovision”, em parceria com o Reserva Cultural, louvável
cinema de rua de São Paulo que ainda resiste e é mantido pelo grupo da
Imovision. Explico tudo isso por dois motivos: o filme que comentarei, “Lola
Pater” (2017), está tanto no Reserva Imovision para quem quiser assisti-lo (é
necessário assinar um plano) quanto disponível em DVD – há milhares de
colecionadores de DVDs e Blurays no Brasil (eu sou um deles), e a Imovision não
desistiu da mídia física, o que é extremamente positivo!
Não vi “Lola Pater” no
cinema, pude conferir o filme somente agora, em DVD. E é uma das grandes produções
franco-belgas dos últimos anos. Que história bonita, delicada e humana, com
sabor de Almodóvar!
Escrito e dirigido pelo
francês descendente de marroquinos Nadir Moknèche, de “Goodbye Morocco” (2012),
conta com uma das mais belas interpretações de Fanny Ardant, estrela do cinema
francês nos anos de 1980 e 1990, de “A mulher do lado” (1981) e “De repente num
domingo” (1983). Com 68 anos à época, ela se desafia num personagem original,
cheio de camadas, entregando um papel emocionante e sensível como uma mulher
trans (o filme causou falatório na França por não terem convidado uma atriz
trans, e hoje o cinema é mais criterioso nas escolhas do elenco pensando na
diversidade sexual e na inclusão). No passado, Lola era Farid, um homem de
origem argelina, que teve um filho e o abandonou, retornando à terra natal. Nunca
mais teve contato com a família e mudou de sexo e identidade, chamando-se Lola,
que atualmente trabalha como professora de dança. O filho, Zino, de 27 anos, marca
então um encontro com ela para discutirem uma herança e resolverem pontos que
ficaram abertos.
Exibido no Festival de
Locarno, o filme é bem simples na forma, trata de reconciliação, e o ator Tewfik
Jallab, de “A marcha” (2013), que interpreta Zino, tem um bom desempenho como
um jovem dividido entre momentos de dor, frustração, alegria e alívio. Jallab e
Fanny complementam um ao outro, tornando o resultado do filme eficiente e ao
mesmo tempo surpreendente.
Lola Pater (idem). França/ Bélgica, 2017, 95 minutos. Drama.
Colorido. Dirigido por Nadir Moknèche. Distribuição: Imovision
Nenhum comentário:
Postar um comentário