O congresso futurista
A atriz norte-americana Robin Wright (Robin Wright) passa por maus
bocados. Com quase 50 anos nas costas, está desempregada, e seus últimos filmes
não foram recebidos com satisfação. Ela aceita participar de um último filme,
produzido por um grande estúdio, porém com uma condição: terá de ser escaneada
para que sua imagem seja usada em filmes futuros. Robin inicialmente reluta, no
entanto acaba cedendo às pressões, já que ganhará um bom dinheiro, fora a
promessa de ser mantida “jovem” em todas aquelas produções. Tempos depois, ela se
depara com um mundo distópico, tomado por cores, formas e personagens
inusitados, totalmente controlado pela indústria de entretenimento.
Uma das animações para adultos mais complexas do cinema, uma fita
pessoal do diretor Ari Folman recheada de cifras e enigmas, que discorre sobre
temas que vão da área da saúde ao mundo das artes, como clonagem, farmacologia,
indústria cultural, crise de identidade, bloqueio criativo e direito de imagem.
Folman, natural de Israel, surpreendeu com o documentário em animação sobre a
Guerra do Líbano “Valsa com Bashir” (2008), que recebeu indicação ao Oscar de
melhor filme estrangeiro e acabou vencendo o Globo de Ouro na categoria, além
de ter sido indicado à Palma de Ouro em Cannes. Passados cinco anos, inovou,
mais uma vez, o universo das animações com esse filme diferentaço, que faz referências
ao mundo pop e recorre à linguagem da ficção científica para contar uma
história – é inspirado no livro do escritor ucraniano Stanislaw Lem, de
“Solaris”, intitulado “O incrível congresso de futurologia”, lançado em 1971. Parecem
as discussões existenciais de Charlie Kaufman, misturando formatos usados no
psicodelismo dos anos de 1970. Há também junção de variadas modalidades de
desenho, como as animações clássicas à mão, computação gráfica, e ainda uso de
cores fortes intercalado com quadros em preto-e-branco. Lembrou-me também não
só a forma como o conteúdo dos filmes de animação de Richard Linklater, especialmente
“O homem duplo” (2006).
Robin Wright se desafia num papel autocrítico, que fala da própria atriz
em crise. Na época, ela, que fez sucessos como “A princesa prometida” (1987),
“Forrest Gump: O contador de histórias” (1994) e “Corpo fechado” (2000),
enfrentava sérios problemas pessoais, aparecia em poucos papeis importantes no
cinema e reclamava de ter vivido por 15 anos à sombra do ex-marido, o premiado
ator Sean Penn. Por isso seu papel de protagonista é real e ao mesmo tempo
irônico.
Ao falar do scanner/clonagem para a vida eterna na tela, o filme toca
num ponto crucial, motivo de discussões intermináveis: de como o cinema vem
utilizando as tecnologias que tornam tudo superficial, efêmero e rápido.
Além de Robin Wright, há participações de Harvey Keitel, Danny Huston e
Paul Giamatti, bem como Jon Hamm como o narrador.
Veja, mas vá preparado: é um filme de arte para poucos, que intriga,
desafia a nossa mente e propõe discussões fundamentais sobre a indústria do
cinema na atualidade.
O congresso futurista (The congress). Israel/ Alemanha/
Polônia/ Luxemburgo/ Bélgica/ França/ Estados Unidos/ Índia, 2013, 122 minutos.
Animação/Ficção científica. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Ari Folman.
Distribuição: Imovision
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