Florbela
A poetisa portuguesa
Florbela Espanca (Dalila Carmo) se vê presa em um casamento de puro tédio. Ela
não enxerga mais o marido com os mesmos olhos de quando o conheceu. Um dia
recebe uma carta do irmão, Apeles (Ivo Canelas), com quem tem muita afinidade,
e resolve abandonar o lar para encontrá-lo na capital, Lisboa. Na cidade
grande, Florbela aproxima-se de escritores importantes, cria um forte laço com o
irmão, por quem desenvolve uma paixão, e produz suas poesias inspiradoras. Até
que é forçada pelo marido a voltar para casa, no interior.
O cinema português é
pouco apreciado no Brasil, talvez por não termos aqui uma distribuição das obras
de forma efetiva. Lá na terrinha há cineastas de qualidade impressionante,
sendo Manoel de Oliveira o maior representante, seguido de Miguel Gomes, João
Cesar Monteiro, Teresa Villaverde e um que gosto especialmente, Miguel
Gonçalves Mendes, com quem passei uma tarde quando estive em Lisboa no Festival de Cinema Itinerante da
Língua Portuguesa, o Festin, em 2013. E nessa lista incluo Vicente Alves do Ó,
o diretor e roteirista de “Florbela” (2012), um filme poético, de beleza e textura
admiráveis, inspirado na vida da escritora e poetisa portuguesa Florbela
Espanca (1894-1930).
Foi a produção mais vista
nos cinemas de Portugal naquele ano, acredito que pelo fato de a poetisa
exercer forte tradição na cultura popular do país. De narrativa lenta (próprio
de um cult português), o longa se passa na década final de vida da escritora, 1920-1930,
colocando a poetisa como uma mulher à frente de seu tempo. Entediada no casamento,
cheia de inquietações, ela deixa o marido para seguir com o irmão (com quem é
apegada) para Lisboa. Uma tragédia (que não vou contar, apesar de o fato ser
notório na biografia da escritora) faz o mundo de Florbela ruir, então escrever
se torna sua salvação, uma maneira de expurgar os sentimentos dolorosos e
também de fugir da pressão da realidade.
Como disse, o roteiro não
segue a biografia de cabo a rabo da personagem-título, muitos fatos da infância
e meninice dela ficam nos diálogos e entrelinhas, como seu nascimento fruto de
um casamento extraconjugal, e o abandono pelo pai, que não a reconheceu em vida.
É bom dizer que o filme
é bem formal, de extremo rigor técnico, que beira o literário, e conta com locações
bem cuidadas, dentro de uma fotografia iluminada – várias locações são da
cidadezinha onde Florbela nasceu, Vila Viçosa, na região de Évora, além de
externas em Lisboa.
Como muitos escritores
por aí, Florbela só ficou conhecida em seu país depois de seu falecimento. No
caso, foi uma morte prematura - ela era suicida, tentou a morte várias vezes,
até que conseguiu aos 36 anos, por overdose de remédios. Sem sombra de dúvida permanece
no topo das maiores escritoras de Portugal, ao lado de Mariana Alcoforado,
Agustina Bessa-Luís e Maria Gabriela Llansol.
Ganhador de mais de 20
prêmios em festivais pelo mundo, o longa está disponível em DVD pela Imovison.
Florbela (Idem). Portugal, 2012, 114 minutos.
Drama. Colorido. Dirigido por Vicente Alves do Ó. Distribuição: Imovision
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