domingo, 14 de março de 2021

Cine Especial


Peggy Sue – Seu passado a espera

Peggy Sue (Kathleen Turner) é uma mãe de 43 anos à beira do divórcio. Numa festa de confraternização de velhos amigos de escola, ela desmaia e volta ao tempo, 25 anos antes. Agora ela encontra-se em 1960, na sua cidade natal, e está prestes a conhecer seu namorado, Charlie (Nicolas Cage), com quem vai se casar. Nesse retorno ao passado, Peggy tem nas mãos o poder de decidir os próximos passos de sua vida.

Francis Ford Coppola, que assinou o filme apenas como Francis Coppola, já tinha cinco estatuetas do Oscar quando assumiu esse projeto como diretor. Sem dúvida, é um de seus trabalhos mais corriqueiros, de uma carreira erguida sob alguns dos filmes mais impressionantes do cinema, como “O poderoso chefão” (I e II, de 1972 e 1974), “A conversação” (1974) e “Apocalypse now” (1979). Leve, romântico até a última gota, menos político, “Peggy Sue – Se passado a espera”, na época, foi mal visto pelo público que acompanhava a carreira de Coppola. A pergunta ficou: “Como um cineasta daquele gabarito pudesse ter feito algo tão superficial, despretensioso e açucarado?”. Digo uma coisa: nenhum gênio faz só obras-primas, diretores de alto nível também dão uma escorregada. Não acho “Peggy Sue” um filme ruim, é apenas um momento menos intenso de Coppola no cinema. É um Coppola nostálgico que rememora uma época muito distante da atual (a virada da década de 50 para a 60), com gracejos, humor simplista, um pouco do estilo de vida do interior, a paixão e as possibilidades de escolhas (num tom de fantasia, claro, pois a protagonista volta ao tempo depois de desmaiar). Fica evidente uma distância meteórica entre o imbatível clássico de máfia “O poderoso chefão” e esse projeto menos pessoal do diretor. Com o tempo Coppola foi deixando de dirigir, ficou à frente de muito filme morno e chegou a bombas, como o terror “Virgínia” (2011 – que, olha, até hoje não compreendo como foi se enfiar nisso). Sem contar como produtor, que dentre os 75 títulos da filmografia, existem lá espalhados uns 10 longas desastrosos...


Não seja tão exigente com Coppola, assista “Peggy Sue” sem maior compromisso. É uma fita alegre, romântica, cujo clima ‘up’ se dá graças a Kathleen Turner, uma atriz adorável, que pelo papel recebeu sua única indicação ao Oscar, em 1987. O papel original seria de Debra Winger, que estava no auge, mas devido a um acidente de bicicleta, abandonou o projeto, dando lugar a Kathleen, que vinha do sucesso “Tudo por uma esmeralda” (1984), pelo qual havia ganhado o Globo de Ouro.
É um filme feito entre família, tem lá a filha do diretor em início de carreira, Sofia Coppola, então com 15 anos, além do sobrinho, Nicolas Cage, ainda novo, com 22 anos. Por isso todos estão à vontade em cena (você vai ver ainda Jim Carrey bem adolescente!).

Inspirado na canção “Peggy Sue got married”, de 1957, cantada por Buddy Holly (precursor do rock, que morreu num acidente de avião ao lado de Ritchie Valens, em 1959) – a música toca no filme, e é o título original dele.
Indicado também ao Oscar de fotografia e figurino, o filme saiu em DVD numa excelente cópia pela Obras-primas do Cinema.

Peggy Sue – Seu passado a espera
(Peggy Sue got married). EUA, 1986, 103 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Francis Ford Coppola. Distribuição: Obras-primas do Cinema

Nenhum comentário: