O último poema do rinoceronte
O poeta curdo Sahel (Behrouz
Vossoughi) é libertado após ficar injustamente preso por 30 anos, perseguido
pelo governo iraniano. Velho e cansado, não desiste de encontrar a esposa, Mina
(Monica Bellucci), que deixou a cidade há muito tempo.
Vencedor de prêmios
técnicos no Festival de San Sebastian, esse belíssimo filme-poema coproduzido
entre Turquia e Irã, e rodado em Beirute, carrega a assinatura de Martin
Scorsese como produtor, o que ajudou o longa-metragem a entrar nos cinemas de
vários países. Não esconde a alma cult e o labor experimental: o diretor Bahman
Ghobadi, de “Tartarugas podem voar” (2004), recorreu a uma linguagem não-linear
curiosa, misturando tempos com imagens surrealistas, e optou por uma intensa fotografia
contrastante. Sem falar da linguagem própria ao propor ao elenco recitação de
poemas, como se os atores estivessem no palco do teatro, cada um em seu momento,
numa espécie de monólogo, para contar uma pequena história de base real, inspirada
nos diários do poeta curdo Sadegh Kamangar, preso durante a Revolução Iraniana (e
que ficou atrás das grades por 27 anos). O filme acompanha a saída do poeta da
cadeia e sua tentativa de reencontrar a esposa, que foi embora após ficar
sabendo da morte dele – a morte é algo constante, os personagens todos são fantasmagóricos
e desalentados. A dupla de atores em cena está brilhante, em papeis humanos, que
são o astro do cinema iraniano Behrouz Vossoughi (de 83 anos) e a atriz
italiana Monica Bellucci (de filmes como “Malèna” e “Irreversível”).
Uma menção importante
para entender o que irei comentar em seguida: o diretor Bahman Ghobadi, assim
como o ator do filme Behrouz Vossoughi, está exilado desde 2009, perseguido
pelo governo do Irã. Percebem-se, assim, traços autorais e autobiográficos na comovente
história do poeta Sahel. Ghobadi utiliza-se de simbologias, metáforas e antíteses,
como um jogo para disfarçar o tom político da obra e assim não sofrer
represália –no Irã o cinema é altamente reprimido, vide a história do cineasta Jafar
Panahi, que teve a casa invadida, seus filmes apreendidos, foi preso e proibido
de gravar por 20 anos (mesmo assim Panahi roda seus longas escondido, como fez recentemente
com “Taxi Teerã” e “3 faces”). Nos créditos finais o diretor dedica o filme aos
presos políticos no regime autoritário do Irã. Ah, e já que falei sobre ele, o
ator Behrouz Vossoughi vive exilado na California com a esposa (ele tem fisionomia
parecida com Omar Sharif). Assista e reflita!
O último poema do
rinoceronte (Fasle
kargadan). Turquia/Irã, 2012, 92 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Bahman
Ghobadi. Distribuição: Imovision
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