Confira quatro ótimos documentários nessa quarentena!
Memórias de Salinger
Documentário que biografa parte
da vida de J.D. Salinger, o recluso autor de um dos maiores romances de todos
os tempos, “O apanhador no campo de centeio”.
Este é um documentário que
demorou uma década para ser concluído, que biografa vida e carreira do escritor
J.D. Salinger (1919-2010), autor do bestseller “O apanhador no campo de centeio”.
Shane Salerno, o diretor (que até então era um roteirista medíocre, sem nada de
relevante no currículo, por exemplo, “Alien vs. Predador 2” e “Selvagens”), passou
parte da juventude pesquisando e colhendo material para o filme, até o lançar em
2013. Entrevistou os escritores Tom Wolfe e Gore Vidal, atores como Phillip
Seymour Hoffman e Martin Sheen, ex-mulheres e pouquíssimos amigos próximos de
Salinger, um dos escritores mais avessos à imprensa e ao contato com fãs que já
existiu.
Descendente de judeus, Salinger
fez Academia Militar, e nas horas vagas escrevia contos no quartel, ou seja,
desde moço tinha a escrita como sua aliada. Serviu na Segunda Guerra Mundial,
esteve no ‘Dia D’ e voltou traumatizado aos Estados Unidos. Seu maior sucesso surgiu
seis anos mais tarde, com a publicação do romance “O apanhador no campo de
centeio” (1951), uma obra literária marcante sobre o fim da adolescência,
venerada pelos jovens do pós-guerra e que vendeu mais de 65 milhões de cópias
no mundo. Depois disso nunca mais publicou algo tão extraordinário, afastou-se
de qualquer contato humano ficando recluso numa cabana no topo de White
Mountains, no estado de New Hampshire. Viveu lá por cinco décadas até morrer em
2010.
Nesse grandioso documentário
o diretor propõe-se a desvendar a aura misteriosa por trás da figura de
Salinger, e além das entrevistas acima mencionadas, reúne um material inédito dos
arquivos de família do escritor, como fotos e vídeos dele na guerra, e fotografias
de paparazzi - como dele, idoso, saindo de um supermercado. Tem ainda
depoimentos de fãs que tentaram contato com ele, sem sucesso. O escritor era
tão recluso que não existe uma entrevista sequer disponível, algo que é citado
no doc.
Um filmão! Não perca!
Memórias de Salinger (Idem). EUA, 2013, 124 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco.
Dirigido por Shane Salerno. Distribuição: Paris Filmes
Um grupo de fãs sul-africanos
busca pistas de seu ídolo, Sixto Rodriguez, um cantor e compositor que na
década de 70 fez muito sucesso no país deles e depois desapareceu da mídia.
Vencedor do Oscar e do Bafta
de melhor documentário, e ainda do Prêmio do Júri em Sundance, “Procurando
Sugar Man” é um grande filme britânico, coproduzido na Finlândia e Suécia, descoberto
pela Versátil Home Video que o lançou em DVD no Brasil. A tagline diz tudo: “Um
artista esquecido que sem saber inspirou toda uma geração”. Conta a trajetória de
Sixto Rodriguez (1942-), um cantor e compositor de Detroit que gravou dois discos
entre 1970 e 1972, sem fazer sucesso nos Estados Unidos. Mas do outro lado do
mundo, na África do Sul, suas canções bombaram nas rádios criando uma legião
imensa de fãs. Rodriguez nunca soube disso e continuou a pequena carreira em
Detroit cantando em bares, sem mais convites pelas gravadoras. Fora da África
do Sul, ninguém tinha ouvido falar do cantor, havia uma lenda de que tinha se
suicidado no palco ateando fogo no próprio corpo. Até que em 1998 fãs sul-africanos
organizaram uma turnê local para ele, fizeram contato com o ídolo desaparecido,
que vivia num antigo prédio no centro de Detroit, e o tiraram de lá para uma
série de shows naquele país, o que reergueu, pelo menos momentaneamente, sua
carreira. A incrível façanha é o mote desse fantástico documentário, que empolga
e chega a emocionar – e que registra dois dos seis shows da turnê de Sixto pela
África, que lotaram ginásios com milhares de pessoas!
Este é o único filme do jornalista
Malik Bendjelloul, com roteiro próprio, adaptado de um artigo publicado num
jornal sul-africano.
Procurando Sugar Man (Searching for Sugar Man). Reino Unido/Finlândia/Suécia, 2012, 86
minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Malik Bendjelloul.
Distribuição: Versátil Home Video
Woodstock: 3 dias de paz,
amor e música
Documentário sobre os três
dias do Woodstock, em agosto de 1969, um festival que se tornou marco na história
da música.
Marco da Contracultura, a “Woodstock
Music & Art Fair” foi o festival de maior notoriedade no mundo da música,
que revolucionou o campo político e social na época, acentuado por protestos
que pediam fim à Guerra de Vietnã e que deu voz a uma série de movimentos em
prol da igualdade que se consolidariam a partir daí, como o dos negros, o dos
gays e o das mulheres. Pois bem, sobre o tema “Woodstock” há uma dezena de documentários
espalhados no Youtube, Netflix, em plataformas digitais, porém nenhum chega perto
desse trabalho definitivo, que ganhou o Oscar de documentário em 1971 e foi
indicado ainda a dois prêmios da Academia, edição e som. A melhor versão disponível
no Brasil é a chamada “Nova versão do diretor”, de 224 minutos, com 40 minutos
a mais da versão exibida nos cinemas em 1970, montada pelo próprio Michael
Wadleigh em 1994 – a título de curiosidade, existem cinco versões disponíveis, dentre
elas duas outras do diretor, de 216 e 228 minutos, e a mais extensa, de 356
min, nunca lançada no Brasil.
O doc acompanha toda a
produção do Woodstock, desde caminhões terraplanando partes da fazenda de gado na
cidade de Bethel, no estado de Nova York, que serviu de palco para o evento, até
culminar com os três dias de show, entre 15 e 18 de agosto de 1969, que contou
com a presença de 32 músicos famosos do rock (Jimi Hendrix, Arlo Guthrie, Joan
Baez, The Who, Joe Cocker, Santana, Janis Joplin, Richie Havens etc). Eles se apresentaram
num fim de semana chuvoso, para um público de meio milhão de pessoas!
Com a tela dividida, o doc
mostra também os bastidores dos shows, testes de som, entrevistas com o público
presente, e de moradores da cidade que eram contra o evento - com a divisão da tela, há vários
acontecimentos ao mesmo tempo, algo original no campo da montagem.
“Woodstock: 3 dias de paz,
amor e música” é uma obra-prima do documentário musical, feito por um diretor que
dominava a técnica do doc, que só realizou um longa de ficção em toda a carreira,
uma fita de terror que eu adoro, “Lobos” (1981) – ele iniciou como diretor de
fotografia, assinando como Michael Wadley, e fez a fotografia, por exemplo, do
primeiro filme de Scorsese, “Quem bate à minha porta?” (1967).
Woodstock: 3 dias de paz,
amor e música (Woodstock). EUA, 1970, 224
minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Michael Wadleigh. Distribuição: Warner
Bros.
Documentário brasileiro que
mostra histórias de vida de mulheres marcadas pela violência.
Um filme-protesto ecoante em
formato de documentário sobre mulheres brasileiras que combatem o machismo e o
preconceito numa sociedade patriarcal, aquela dominada pelos homens. Realizado
em 2017 pela diretora Sandra Werneck, dos filmes “Pequeno dicionário amoroso”
(1997) e “Sonhos roubados” (2009), com roteiro e direção dela, o filme trata o
tema com impacto, com histórias de vida de mulheres marcadas por violência
doméstica e abusos no trabalho. Dão depoimento pessoas públicas, como a atriz e
modelo Luiza Brunet e a farmacêutica Maria da Penha (que dá nome à lei que
criminaliza a violência contra as mulheres), e muitas mulheres comuns, que tem
histórico de alto grau de violência, ou seja, elas têm o “lugar de fala”.
Entre uma entrevista e
outra, há passagens de atos e manifestações ocorridas em todo o Brasil nos
últimos cinco anos, em defesa à classe feminina contra os abusos.
Em tempos sombrios que vivemos,
onde há aumento constante de casos de estupro e feminicídio (no Brasil uma
mulher é morta pelo companheiro ou pelo ex a cada 7 horas), o doc é um ponto de
partida para reflexões e alerta. Em DVD pela Bretz Filmes, também disponível em
plataformas digitais, como a SPCine Play.
Mexeu com uma, mexeu com
todas (Idem). Brasil, 2017, 70
minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Sandra Werneck. Distribuição: Bretz
Filmes
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