terça-feira, 21 de abril de 2020

Cine Documentário



Confira quatro ótimos documentários nessa quarentena!

Memórias de Salinger

Documentário que biografa parte da vida de J.D. Salinger, o recluso autor de um dos maiores romances de todos os tempos, “O apanhador no campo de centeio”.

Este é um documentário que demorou uma década para ser concluído, que biografa vida e carreira do escritor J.D. Salinger (1919-2010), autor do bestseller “O apanhador no campo de centeio”. Shane Salerno, o diretor (que até então era um roteirista medíocre, sem nada de relevante no currículo, por exemplo, “Alien vs. Predador 2” e “Selvagens”), passou parte da juventude pesquisando e colhendo material para o filme, até o lançar em 2013. Entrevistou os escritores Tom Wolfe e Gore Vidal, atores como Phillip Seymour Hoffman e Martin Sheen, ex-mulheres e pouquíssimos amigos próximos de Salinger, um dos escritores mais avessos à imprensa e ao contato com fãs que já existiu.
Descendente de judeus, Salinger fez Academia Militar, e nas horas vagas escrevia contos no quartel, ou seja, desde moço tinha a escrita como sua aliada. Serviu na Segunda Guerra Mundial, esteve no ‘Dia D’ e voltou traumatizado aos Estados Unidos. Seu maior sucesso surgiu seis anos mais tarde, com a publicação do romance “O apanhador no campo de centeio” (1951), uma obra literária marcante sobre o fim da adolescência, venerada pelos jovens do pós-guerra e que vendeu mais de 65 milhões de cópias no mundo. Depois disso nunca mais publicou algo tão extraordinário, afastou-se de qualquer contato humano ficando recluso numa cabana no topo de White Mountains, no estado de New Hampshire. Viveu lá por cinco décadas até morrer em 2010.
Nesse grandioso documentário o diretor propõe-se a desvendar a aura misteriosa por trás da figura de Salinger, e além das entrevistas acima mencionadas, reúne um material inédito dos arquivos de família do escritor, como fotos e vídeos dele na guerra, e fotografias de paparazzi - como dele, idoso, saindo de um supermercado. Tem ainda depoimentos de fãs que tentaram contato com ele, sem sucesso. O escritor era tão recluso que não existe uma entrevista sequer disponível, algo que é citado no doc.
Um filmão! Não perca!

Memórias de Salinger (Idem). EUA, 2013, 124 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Shane Salerno. Distribuição: Paris Filmes


Procurando Sugar Man

Um grupo de fãs sul-africanos busca pistas de seu ídolo, Sixto Rodriguez, um cantor e compositor que na década de 70 fez muito sucesso no país deles e depois desapareceu da mídia.

Vencedor do Oscar e do Bafta de melhor documentário, e ainda do Prêmio do Júri em Sundance, “Procurando Sugar Man” é um grande filme britânico, coproduzido na Finlândia e Suécia, descoberto pela Versátil Home Video que o lançou em DVD no Brasil. A tagline diz tudo: “Um artista esquecido que sem saber inspirou toda uma geração”. Conta a trajetória de Sixto Rodriguez (1942-), um cantor e compositor de Detroit que gravou dois discos entre 1970 e 1972, sem fazer sucesso nos Estados Unidos. Mas do outro lado do mundo, na África do Sul, suas canções bombaram nas rádios criando uma legião imensa de fãs. Rodriguez nunca soube disso e continuou a pequena carreira em Detroit cantando em bares, sem mais convites pelas gravadoras. Fora da África do Sul, ninguém tinha ouvido falar do cantor, havia uma lenda de que tinha se suicidado no palco ateando fogo no próprio corpo. Até que em 1998 fãs sul-africanos organizaram uma turnê local para ele, fizeram contato com o ídolo desaparecido, que vivia num antigo prédio no centro de Detroit, e o tiraram de lá para uma série de shows naquele país, o que reergueu, pelo menos momentaneamente, sua carreira. A incrível façanha é o mote desse fantástico documentário, que empolga e chega a emocionar – e que registra dois dos seis shows da turnê de Sixto pela África, que lotaram ginásios com milhares de pessoas!
Este é o único filme do jornalista Malik Bendjelloul, com roteiro próprio, adaptado de um artigo publicado num jornal sul-africano.

Procurando Sugar Man (Searching for Sugar Man). Reino Unido/Finlândia/Suécia, 2012, 86 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Malik Bendjelloul. Distribuição: Versátil Home Video


Woodstock: 3 dias de paz, amor e música

Documentário sobre os três dias do Woodstock, em agosto de 1969, um festival que se tornou marco na história da música.

Marco da Contracultura, a “Woodstock Music & Art Fair” foi o festival de maior notoriedade no mundo da música, que revolucionou o campo político e social na época, acentuado por protestos que pediam fim à Guerra de Vietnã e que deu voz a uma série de movimentos em prol da igualdade que se consolidariam a partir daí, como o dos negros, o dos gays e o das mulheres. Pois bem, sobre o tema “Woodstock” há uma dezena de documentários espalhados no Youtube, Netflix, em plataformas digitais, porém nenhum chega perto desse trabalho definitivo, que ganhou o Oscar de documentário em 1971 e foi indicado ainda a dois prêmios da Academia, edição e som. A melhor versão disponível no Brasil é a chamada “Nova versão do diretor”, de 224 minutos, com 40 minutos a mais da versão exibida nos cinemas em 1970, montada pelo próprio Michael Wadleigh em 1994 – a título de curiosidade, existem cinco versões disponíveis, dentre elas duas outras do diretor, de 216 e 228 minutos, e a mais extensa, de 356 min, nunca lançada no Brasil.
O doc acompanha toda a produção do Woodstock, desde caminhões terraplanando partes da fazenda de gado na cidade de Bethel, no estado de Nova York, que serviu de palco para o evento, até culminar com os três dias de show, entre 15 e 18 de agosto de 1969, que contou com a presença de 32 músicos famosos do rock (Jimi Hendrix, Arlo Guthrie, Joan Baez, The Who, Joe Cocker, Santana, Janis Joplin, Richie Havens etc). Eles se apresentaram num fim de semana chuvoso, para um público de meio milhão de pessoas!
Com a tela dividida, o doc mostra também os bastidores dos shows, testes de som, entrevistas com o público presente, e de moradores da cidade que eram contra o evento -  com a divisão da tela, há vários acontecimentos ao mesmo tempo, algo original no campo da montagem.
“Woodstock: 3 dias de paz, amor e música” é uma obra-prima do documentário musical, feito por um diretor que dominava a técnica do doc, que só realizou um longa de ficção em toda a carreira, uma fita de terror que eu adoro, “Lobos” (1981) – ele iniciou como diretor de fotografia, assinando como Michael Wadley, e fez a fotografia, por exemplo, do primeiro filme de Scorsese, “Quem bate à minha porta?” (1967).

Woodstock: 3 dias de paz, amor e música (Woodstock). EUA, 1970, 224 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Michael Wadleigh. Distribuição: Warner Bros.


Mexeu com uma, mexeu com todas

Documentário brasileiro que mostra histórias de vida de mulheres marcadas pela violência.

Um filme-protesto ecoante em formato de documentário sobre mulheres brasileiras que combatem o machismo e o preconceito numa sociedade patriarcal, aquela dominada pelos homens. Realizado em 2017 pela diretora Sandra Werneck, dos filmes “Pequeno dicionário amoroso” (1997) e “Sonhos roubados” (2009), com roteiro e direção dela, o filme trata o tema com impacto, com histórias de vida de mulheres marcadas por violência doméstica e abusos no trabalho. Dão depoimento pessoas públicas, como a atriz e modelo Luiza Brunet e a farmacêutica Maria da Penha (que dá nome à lei que criminaliza a violência contra as mulheres), e muitas mulheres comuns, que tem histórico de alto grau de violência, ou seja, elas têm o “lugar de fala”.
Entre uma entrevista e outra, há passagens de atos e manifestações ocorridas em todo o Brasil nos últimos cinco anos, em defesa à classe feminina contra os abusos.
Em tempos sombrios que vivemos, onde há aumento constante de casos de estupro e feminicídio (no Brasil uma mulher é morta pelo companheiro ou pelo ex a cada 7 horas), o doc é um ponto de partida para reflexões e alerta. Em DVD pela Bretz Filmes, também disponível em plataformas digitais, como a SPCine Play.

Mexeu com uma, mexeu com todas (Idem). Brasil, 2017, 70 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Sandra Werneck. Distribuição: Bretz Filmes

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