quarta-feira, 29 de abril de 2020

Dos livros para as telas


"Stahr foi para a mesa onde era esperado e se sentou com o grupo do Café Society - de Wall Street, Grande Street, Loudon County, Virginia, Odessa, Rússia. Eles estavam todos falando com entusiasmo a respeito de um cavalo que havia corrido muito rápido, e o Sr. Marcus era o mais entusiasmado de todos. Stahr supôs que os judeus haviam adotado a adoração de cavalos como um símbolo - por muitos anos, os cossacos haviam cavalgado, e os judeus, andado a pé".

Trecho de "O último magnata" (1941), romance inacabado do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald, publicado um ano após sua morte. Assim como em sua obra-prima, "O grande Gatsby", Fitzgerald volta a falar do desencanto do sonho americano e do fim da Era de Ouro de Hollywood.
Conta a história de um poderoso produtor de cinema que destrói sua carreira quando cria uma série de inimizades em Hollywood.
O livro teve como inspiração parte da vida do célebre produtor Irving Thalberg e as brigas travadas com Louis B. Mayer, fundador da MGM. Deu origem a um filme homônimo indicado ao Oscar (de 1976, dirigido por Elia Kazan) e à série indicado ao Emmy, de mesmo nome, produzida pela Amazon (2016-2017).
O romance acaba de ser lançado no Brasil pela editora Martin Claret (202 páginas), em capa dura especial. Vale conhecer!






Nota do Blogueiro


Faleceu hoje aos 53 anos o ator indiano Irrfan Khan, de fitas célebres como "Quem quer ser um milionário?" (2008) e "As aventuras de Pi" (2012). Ele lutava contra um câncer desde o ano passado.
Fez dezenas de filmes da Bollywood, como o sucesso de público "Paan Singh Tomar" (2012), esteve em produções independentes premiadas, com destaque para "The lunchbox" (2013), "O preço da coragem" (2007) e "Nome de família" (2006), e participou ainda dos blockbusters americanos "Inferno" (2016), "Jurassic World: O mundo dos dinossauros" (2015) e "O espetacular Homem-Aranha" (2012). Deixa esposa e filhos.


sábado, 25 de abril de 2020

Cine Lançamento



Os irmãos Willoughby

Abandonados pelos pais egocêntricos, quatro irmãos, os Willoughby, embarcam numa grandiosa aventura à procura de uma família perfeita.

Estreou no último dia 22 essa animação alegre com toques de humor negro e inicialmente com ar excêntrico, produzida pelo Netflix, do mesmo diretor de “Tá chovendo hamburguer 2” (2013), Kris Pearn, que trabalhou a vida toda em departamentos de animação, de filmes como “Operação presente” (2011). Em seu segundo longa-metragem (codirigido com Rob Lodermeier e Cory Evans), ele cria um mundo repleto de emoções à flor da pele, encarando uma aventura de quatro irmãos em busca do verdadeiro significado de “família”. Compõe o quarteto Willoughby um garoto, uma menina e duas irmãs gêmeas pequenas, que abandonam o lar comandado pelos pais egoístas para se encontrarem no mundo. No caminho cruzam com tipos transformadores: um menino órfão, um gato (narrador da história) e uma babá gordinha meio doida, que vão ensiná-los o valor da amizade, da companhia, do afeto, ou seja, tudo aquilo que faltava em casa (é também uma animação para adultos, com uma crítica sobre a ausência dos pais, que abandonam os filhos). Até as piadas e os diálogos são mais para jovens e adultos do que crianças.


O roteiro é bom, escrito pelo próprio Kris Pearn, o diretor, adaptado do livro infanto-juvenil “The Willoughbys”, da escritora e roteirista de cinema Lois Lowry. Vale a pena também pela dublagem, com vozes originais de astros do cinema de comédia como Will Forte, Maya Rudolph, Martin Short, Ricky Gervais (que é produtor também), e participação da cantora Alessia Cara, que canta a música dos créditos finais, “I choose”.
Animação inteligente, com graça e teor reflexivo! Até ontem era sucesso total no Netflix Brasil, atingindo o Top #2.

Os irmãos Willoughby (The Willoughbys). EUA/Reino Unido/Canadá, 2020, 92 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por: Distribuição: Netflix

Resenha Especial



LBJ: A esperança de uma nação

A acirrada eleição do presidente americano Lyndon B. Johnson (Woody Harrelson) em 1964, que ocupou o cargo quando do assassinato de Kennedy, ficando no poder até 1969, numa época marcada pela Guerra do Vietnã, protestos e extrema divisão da opinião pública.

Drama político sobre a trajetória do presidente americano Lyndon B. Johnson (1908-1973), de sua entrada na política até a escalada meteórica após o assassinato de John Kennedy – ele era vice de JFK, completou o mandato de novembro de 1963 a novembro de 64, quando ocorreu a nova eleição, vencendo com grande margem, num total de 61% dos votos populares; ficou na presidência até janeiro de 1969, abandonando para sempre a política.
É um tema de nicho pequeno, para quem curte bastidores da política, e ainda mais a americana, que é bem diferente do Brasil, com as primárias, voto em cada estado etc. Como cinema funciona pela atuação de Woody Harrelson, debaixo de uma maquiagem que mal o reconhecemos (ele ficou bem parecido com Johnson), pela edição caprichada e a direção do mestre cineasta Rob Reiner, realizador de filmes políticos como “Meu querido presidente” (1995) e “Choque e pavor: A verdade importa” (2017), e de fitas sérias com engajamento social, com destaque para o soberbo “Fantasmas do passado” (1996).
O filme foca na disputa interna entre Johnson e Bobby Kennedy, antes mesmo da morte de JFK. Passeia pelos ideais de LBJ, que colocou em prática os pensamentos de Kennedy, por exemplo, a promulgação da Lei de Direitos Civis (que dava aos negros o poder de voto), a consolidação de outros direitos ligados à igualdade de gênero/raça, a ampliação do sistema de seguro de assistência médica, leis duras ambientais, por isso ele brigou com um monte de políticos oposicionistas. Por outro lado, mostra a postura anticomunista do presidente (em seu governo os EUA invadiram o Vietnã, com envio de mais de 500 mil soldados para uma terra desconhecida, ponto alto da Guerra Fria), houve em seu governo um aumento exorbitante da violência nas principais metrópoles do país, e no final das contas não conseguiu indicação do Partido Democrata (que estava bem dividido) para concorrer à reeleição (quem entrou em seguida foi Richard Nixon). Em suma, um presidente que ajudou na construção da cidadania, atrapalhou-se em outras questões, incentivou uma guerra sem noção do outro lado do continente, perdeu apoio político, e acabou dividindo a opinião do povo.


No elenco de apoio, nomes como Richard Jenkins (como o senador Richard Russell Jr.), Jennifer Jason Leigh (coberta de maquiagem, no papel da esposa de LBJ, Bird Johnson), Bill Pullman (como o senador Ralph Yarborough), Jeffrey Donovan (o presidente JFK) e C. Thomas Howell (o assessor de LBJ, Walter Jenkins), todos bem caraterizados, mas em participações menores.
Tremendo fracasso nos cinemas, custou U$ 26 milhões e não rendeu nem U$ 2,5 mi no mundo inteiro – no Brasil, nem passou nos cinemas, só saiu em DVD, pela California Filmes, em 2017, no mesmo período que saiu um telefilme da HBO (e ainda melhor) sobre o ex-presidente, intitulado “Até o fim” (2016), produzido por Steven Spielberg, com Bryan Cranston no papel de LBJ (ele recebeu indicação ao Globo de Ouro).

LBJ: A esperança de uma nação (LBJ). EUA 2016, 96 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Rob Reiner. Distribuição: California Filmes

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Nota do Blogueiro


Faleceu ontem aos 83 anos a premiada atriz norte-americana Shirley Knight. Segundo familiares, a causa da morte foram causas naturais.
Indicada a dois Oscars - melhor atriz coadjuvante por "Sombras nofim da escada" (1960) e "Doce pássaro da juventude" (1962), Shirley atuou em mais de 180 produções, no cinema, em telefilmes e séries.
Destacam-se seus papéis nos filmes "Prisão de mulheres" (1962), "O grupo" (1966), "Caminhos mal traçados" (1969), "Juggernaut: Inferno em alto-mar" (1974), Amor sem fim" (1981), "A cor da noite" (1994), "Melhor é impossível" (1997) e "Divinos segredos" (2002). 
Ganhou o Globo de Ouro de atriz coadjuvante pelo telefilme "Acusação" (1995), o Emmy pela participação especial na série "Nova York contra o crime" e o prêmio de atriz no Festival de Veneza pelo filme "Dutchman" (1966).
Viúva, deixa duas filhas.


terça-feira, 21 de abril de 2020

Cine Documentário



Confira quatro ótimos documentários nessa quarentena!

Memórias de Salinger

Documentário que biografa parte da vida de J.D. Salinger, o recluso autor de um dos maiores romances de todos os tempos, “O apanhador no campo de centeio”.

Este é um documentário que demorou uma década para ser concluído, que biografa vida e carreira do escritor J.D. Salinger (1919-2010), autor do bestseller “O apanhador no campo de centeio”. Shane Salerno, o diretor (que até então era um roteirista medíocre, sem nada de relevante no currículo, por exemplo, “Alien vs. Predador 2” e “Selvagens”), passou parte da juventude pesquisando e colhendo material para o filme, até o lançar em 2013. Entrevistou os escritores Tom Wolfe e Gore Vidal, atores como Phillip Seymour Hoffman e Martin Sheen, ex-mulheres e pouquíssimos amigos próximos de Salinger, um dos escritores mais avessos à imprensa e ao contato com fãs que já existiu.
Descendente de judeus, Salinger fez Academia Militar, e nas horas vagas escrevia contos no quartel, ou seja, desde moço tinha a escrita como sua aliada. Serviu na Segunda Guerra Mundial, esteve no ‘Dia D’ e voltou traumatizado aos Estados Unidos. Seu maior sucesso surgiu seis anos mais tarde, com a publicação do romance “O apanhador no campo de centeio” (1951), uma obra literária marcante sobre o fim da adolescência, venerada pelos jovens do pós-guerra e que vendeu mais de 65 milhões de cópias no mundo. Depois disso nunca mais publicou algo tão extraordinário, afastou-se de qualquer contato humano ficando recluso numa cabana no topo de White Mountains, no estado de New Hampshire. Viveu lá por cinco décadas até morrer em 2010.
Nesse grandioso documentário o diretor propõe-se a desvendar a aura misteriosa por trás da figura de Salinger, e além das entrevistas acima mencionadas, reúne um material inédito dos arquivos de família do escritor, como fotos e vídeos dele na guerra, e fotografias de paparazzi - como dele, idoso, saindo de um supermercado. Tem ainda depoimentos de fãs que tentaram contato com ele, sem sucesso. O escritor era tão recluso que não existe uma entrevista sequer disponível, algo que é citado no doc.
Um filmão! Não perca!

Memórias de Salinger (Idem). EUA, 2013, 124 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Shane Salerno. Distribuição: Paris Filmes


Procurando Sugar Man

Um grupo de fãs sul-africanos busca pistas de seu ídolo, Sixto Rodriguez, um cantor e compositor que na década de 70 fez muito sucesso no país deles e depois desapareceu da mídia.

Vencedor do Oscar e do Bafta de melhor documentário, e ainda do Prêmio do Júri em Sundance, “Procurando Sugar Man” é um grande filme britânico, coproduzido na Finlândia e Suécia, descoberto pela Versátil Home Video que o lançou em DVD no Brasil. A tagline diz tudo: “Um artista esquecido que sem saber inspirou toda uma geração”. Conta a trajetória de Sixto Rodriguez (1942-), um cantor e compositor de Detroit que gravou dois discos entre 1970 e 1972, sem fazer sucesso nos Estados Unidos. Mas do outro lado do mundo, na África do Sul, suas canções bombaram nas rádios criando uma legião imensa de fãs. Rodriguez nunca soube disso e continuou a pequena carreira em Detroit cantando em bares, sem mais convites pelas gravadoras. Fora da África do Sul, ninguém tinha ouvido falar do cantor, havia uma lenda de que tinha se suicidado no palco ateando fogo no próprio corpo. Até que em 1998 fãs sul-africanos organizaram uma turnê local para ele, fizeram contato com o ídolo desaparecido, que vivia num antigo prédio no centro de Detroit, e o tiraram de lá para uma série de shows naquele país, o que reergueu, pelo menos momentaneamente, sua carreira. A incrível façanha é o mote desse fantástico documentário, que empolga e chega a emocionar – e que registra dois dos seis shows da turnê de Sixto pela África, que lotaram ginásios com milhares de pessoas!
Este é o único filme do jornalista Malik Bendjelloul, com roteiro próprio, adaptado de um artigo publicado num jornal sul-africano.

Procurando Sugar Man (Searching for Sugar Man). Reino Unido/Finlândia/Suécia, 2012, 86 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Malik Bendjelloul. Distribuição: Versátil Home Video


Woodstock: 3 dias de paz, amor e música

Documentário sobre os três dias do Woodstock, em agosto de 1969, um festival que se tornou marco na história da música.

Marco da Contracultura, a “Woodstock Music & Art Fair” foi o festival de maior notoriedade no mundo da música, que revolucionou o campo político e social na época, acentuado por protestos que pediam fim à Guerra de Vietnã e que deu voz a uma série de movimentos em prol da igualdade que se consolidariam a partir daí, como o dos negros, o dos gays e o das mulheres. Pois bem, sobre o tema “Woodstock” há uma dezena de documentários espalhados no Youtube, Netflix, em plataformas digitais, porém nenhum chega perto desse trabalho definitivo, que ganhou o Oscar de documentário em 1971 e foi indicado ainda a dois prêmios da Academia, edição e som. A melhor versão disponível no Brasil é a chamada “Nova versão do diretor”, de 224 minutos, com 40 minutos a mais da versão exibida nos cinemas em 1970, montada pelo próprio Michael Wadleigh em 1994 – a título de curiosidade, existem cinco versões disponíveis, dentre elas duas outras do diretor, de 216 e 228 minutos, e a mais extensa, de 356 min, nunca lançada no Brasil.
O doc acompanha toda a produção do Woodstock, desde caminhões terraplanando partes da fazenda de gado na cidade de Bethel, no estado de Nova York, que serviu de palco para o evento, até culminar com os três dias de show, entre 15 e 18 de agosto de 1969, que contou com a presença de 32 músicos famosos do rock (Jimi Hendrix, Arlo Guthrie, Joan Baez, The Who, Joe Cocker, Santana, Janis Joplin, Richie Havens etc). Eles se apresentaram num fim de semana chuvoso, para um público de meio milhão de pessoas!
Com a tela dividida, o doc mostra também os bastidores dos shows, testes de som, entrevistas com o público presente, e de moradores da cidade que eram contra o evento -  com a divisão da tela, há vários acontecimentos ao mesmo tempo, algo original no campo da montagem.
“Woodstock: 3 dias de paz, amor e música” é uma obra-prima do documentário musical, feito por um diretor que dominava a técnica do doc, que só realizou um longa de ficção em toda a carreira, uma fita de terror que eu adoro, “Lobos” (1981) – ele iniciou como diretor de fotografia, assinando como Michael Wadley, e fez a fotografia, por exemplo, do primeiro filme de Scorsese, “Quem bate à minha porta?” (1967).

Woodstock: 3 dias de paz, amor e música (Woodstock). EUA, 1970, 224 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Michael Wadleigh. Distribuição: Warner Bros.


Mexeu com uma, mexeu com todas

Documentário brasileiro que mostra histórias de vida de mulheres marcadas pela violência.

Um filme-protesto ecoante em formato de documentário sobre mulheres brasileiras que combatem o machismo e o preconceito numa sociedade patriarcal, aquela dominada pelos homens. Realizado em 2017 pela diretora Sandra Werneck, dos filmes “Pequeno dicionário amoroso” (1997) e “Sonhos roubados” (2009), com roteiro e direção dela, o filme trata o tema com impacto, com histórias de vida de mulheres marcadas por violência doméstica e abusos no trabalho. Dão depoimento pessoas públicas, como a atriz e modelo Luiza Brunet e a farmacêutica Maria da Penha (que dá nome à lei que criminaliza a violência contra as mulheres), e muitas mulheres comuns, que tem histórico de alto grau de violência, ou seja, elas têm o “lugar de fala”.
Entre uma entrevista e outra, há passagens de atos e manifestações ocorridas em todo o Brasil nos últimos cinco anos, em defesa à classe feminina contra os abusos.
Em tempos sombrios que vivemos, onde há aumento constante de casos de estupro e feminicídio (no Brasil uma mulher é morta pelo companheiro ou pelo ex a cada 7 horas), o doc é um ponto de partida para reflexões e alerta. Em DVD pela Bretz Filmes, também disponível em plataformas digitais, como a SPCine Play.

Mexeu com uma, mexeu com todas (Idem). Brasil, 2017, 70 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Sandra Werneck. Distribuição: Bretz Filmes

sábado, 18 de abril de 2020

Viva Nostalgia!


Fomos os sacrificados

Em 1942, logo após o ataque de Pearl Harbor, um esquadrão da Marinha Americana enfrenta tropas japonesas na Península de Bataan.

Indicado a dois Oscars em 1946 (melhor som e melhor efeitos especiais), esse poderoso filme de guerra dirigido pelo fantástico John Ford em mais uma parceria com seu astro-amigo John Wayne retrata um dos momentos-chave da “Guerra do Pacífico”, a Batalha de Bataan, quando o Japão invadiu as Filipinas, dias após atacar a base de Pearl Harbor, e destruiu as tropas americanas. Os japoneses ganharam num primeiro momento, mas logo em seguida o intrépido General McArthur, dos Estados Unidos, revidou rendendo o Japão. São os dois momentos da história dessa superprodução aclamada, que tem longas sequências de batalha naval, brilhantemente fotografadas, e para a época um primor de edição (daí as indicações ao Oscar). Mistura bem drama e ação. Como grande parte das produções americanas sobre a Segunda Guerra feitas nos anos seguintes do conflito, traz um ponto de vista patriótico, uma visão da supremacia dos Estados Unidos e do esforço dos soldados no campo de batalha - repare no próprio título, uma maneira de homenagear seus heróis.


John Ford, famoso por westerns, assinou a direção com a insígnia USNR (United States Navy Reserve) – ele lutou na Segunda Guerra à frente da Reserva da Marinha. E também dirigiu o filme, mas sem ser creditado, o ator Robert Montgomery (duas vezes indicado ao Oscar), que tem papel fundamental aqui ao lado de John Wayne - na Segunda Guerra, Montgomery trabalhou como motorista de ambulância. Ou seja, uma fita de guerra com atores que vivenciaram o terror da época.
Disponível em DVD por duas distribuidoras, ambas com a metragem original de cinema, de 135 minutos - tem pela Classicline, recém-lançada, e pela Versátil, no box “A Segunda Guerra no Cinema”, contendo cinco outros títulos, como “Proibido!” (1959) e “Mercenários sem glória” (1969).


Fomos os sacrificados (They were expendable). EUA, 1945, 135 minutos. Guerra. Preto-e-branco. Dirigido por John Ford. Distribuição: Classicline (DVD, de 2019) e Versátil (no box “A Segunda Guerra no Cinema”, de 2015)

Resenha Especial



A história do amor

Um velho manuscrito atravessa o tempo unindo duas pessoas de gerações opostas, um judeu teimoso e uma garota que procura ajudar a mãe solitária.

Um bonito drama romântico que volta a dialogar sobre o universo das mulheres criados pelo diretor romeno Radu Mihaileanu, numa de suas fitas menores e menos impactantes (mas ele é um cineasta autoral curioso, que merece ser reconhecido, mesmo nas obras pequenas). Em “O concerto” (2009) e “A fonte das mulheres” (2011), a classe feminina detinha voz própria num mundo dominado pelos homens, visando quebrar barreiras. Em “A história do amor” (2016) ecoa-se a perspectiva da mulher, que busca identidade em duas épocas distintas.
Pode-se dizer que quem protagoniza é um antigo livro, perdido, viajante no tempo e espaço, que atravessa continentes e invade o âmago de duas pessoas diferentes, um velho judeu e uma garota de Nova York. O que o tal romance intitulado “A história do amor” tem, afinal, em comum para mexer tanto com eles dois?
A fotografia iluminada em campos de Bucareste (Romênia) e partes pelas ruas de Manhattan é um show, assinada pelo francês Laurent Dailland, que havia trabalhado anteriormente com o diretor.
O roteiro é um tanto confuso, por correr duas histórias em dois tempos paralelos (por isso preste atenção), escrito por Radu Mihaileanu adaptado do bestseller homônimo da escritora norte-americana Nicole Krauss (lançado em 2005) – do diretor você deve conhecer duas obras-primas do cinema cult, “Trem da vida” (1998 – que saiu na mesma época de “A vida é bela”, com tema semelhante) e “Um herói do nosso tempo” (2005).


A fita dramática traz um elenco ilustre, como os veteranos octogenários Elliott Gould e Derek Jacobi, e as lindas atrizes Gemma Arterton e Sophie Nélisse. Curiosidade: Jacobi substituiu John Hurt, que estava com câncer e precisou abandonar as gravações.
Infelizmente fracassou nos cinemas estrangeiros – pouca gente viu, e de um custo de 15 milhões de euros, não chegou a U$ 450 mil dólares! No Brasil saiu direto em DVD, pela California. Vale conferir, em seguida descubra a filmografia desse autêntico diretor que admiro muito.

A história do amor (The history of love). França/ Bélgica/Canadá/ Romênia, 2016, 132 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Radu Mihaileanu. Distribuição: California Filmes

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Cine Lançamento



Downton Abbey: O filme

Em 1927, os aristocratas britânicos da família Crawley receberão a visita do rei e da rainha da Inglaterra na mansão Downton Abbey. Os preparativos começam a todo vapor, mobilizando o intrépido grupo dos criados e cozinheiros. Até a aguardada hora, uma série de escândalos, intrigas e uma tentativa de assassinato colocarão em cheque as relações dos Crawley com a realeza.

Esse é o primeiro filme da consagrada série britânica “Downton Abbey”, um fenômeno mundial que existiu por seis temporadas, entre 2010 e 2015, ganhando três Globos de Ouro dos 11 que concorreu (venceu melhor série em 2012, melhor atriz coadjuvante em 2013, para a fantástica Maggie Smith, que rouba as cenas – na época com 80 anos, e depois melhor coadjuvante para Joanne Froggatt, em 2015). Para quem segue a trama dos Crawley no seriado, é formidável; quem nunca ouviu falar, vai ficar perdido nesse filme que mais parece um episódio esticado da franquia – o longa estreou em setembro de 2019, com bilheteria surpreendente por ser uma fita de época britânica (custou U$ 13 milhões, e rendeu, no mundo todo, quase U$ 200 mi). Ou seja, há público para produções assim, sem contar os fãs da Terceira Idade (uma fita típica para eles) – quando vi no cinema, a sessão estava cheia de senhoras felizes por ver na telona personagens da sua série favorita.
O diretor, Michael Engler, havia feito episódios da série, assim como de seriados famosos, como “Sex and the city”, “30 rock” e “The affair”. Teve a feliz ideia de convidar o roteirista-criador da franquia, Julian Fellowes, ganhador do Oscar pelo roteiro de “Assassinato em Gosford Park” (2001), e manteve o incrível time principal de atores e atrizes, como Maggie Smith (que volta a roubar as cenas), Elizabeth McGovern, Jim Carter, Michelle Dockery, Joanne Froggatt e Hugh Bonneville. Eles estão em perfeita sintonia! E tem a entrada de uma personagem bem legal, feita pela veterana Imelda Staunton. É um glamour as festas, danças, banquetes, tem o humor tipicamente britânico que muitos não compreendem, e como novidade, uma trama policial com crime e conspiração.
Particularmente gosto do baita elenco e da parte técnica, que flui bem, como a fotografia, direção de arte, cenários e figurino – as externas foram rodadas na zona rural do condado de Yorkshire, e a mansão Downton Abbey é na verdade o real Castelo de Highclere (em Berkshire).


Uma prova de que filme e seriado podem andar juntos, vide a bilheteria!
Já em DVD pela Universal Pictures com bons extras no disco.

Downton Abbey: O filme (Downton Abbey). EUA/Reino Unido, 2019, 122 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Michael Engler. Distribuição: Universal Pictures

Nota do Blogueiro


Faleceu anteontem aos 77 anos o diretor de fotografia Allen Daviau, revelado por Steven Spielberg e que trabalhou em vários filmes do cineasta. Ao longo da carreira recebeu cinco indicações ao Oscar - por "E.T. - O extraterrestre" (1982), "A cor púrpura" 91985), "Império do sol" (1987 - pelo qual ganhou o Bafta), "Avalon" (1990) e "Bugsy" (1991). Ainda fez a fotografia de "Um hóspede do barulho" (1987), "Sem medo de viver" (1993), "Congo" (1995), "Enigma do espaço" (1999), dentre outros.
Segundo familiares, faleceu vítima de complicações da Covid-19.


quinta-feira, 16 de abril de 2020

Nota do Blogueiro


RIP: Brian Dennehy (1938-2020). E foi-se um grande ator, com papéis memoráveis no cinema, como em "Rambo: Programado para matar"(1982), "Os lobos nunca choram" (1983), "Silverado" (1985), "Cocoon" (1985), "A barriga do arquiteto" (1987), "A marca da corrupção" (1987) e "Romeu + Julieta"(1996).


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Resenhas Especiais




Força maior

Uma família em viagem aos Alpes Franceses fica presa no hotel após uma avalanche. Enclausurados por vários dias, o marido e a esposa travam longas discussões sobre o relacionamento, enquanto traumas vêm à tona.

Indicado ao Globo de Ouro e ao Bafta de melhor filme estrangeiro, ganhou o prêmio do Júri em “Un Certain Regard” em Cannes essa coprodução Suécia/Dinamarca/Noruega que trata com simbologias o desmoronamento familiar. Vi em 2014 quando saiu em DVD, apostei como um dos melhores filmes europeus daquele ano, e ontem pude revê-lo – ele continua com a mesma força!
É a jornada claustrofóbica de um marido, a esposa e os dois filhos presos num hotel quando vão esquiar nos Alpes na França, depois de uma assustadora avalanche tomar o local.  Hóspedes se machucam, uns ficam receosos com novos casos de desmoronamento de neve, e aquela família, aparentemente em paz, entra em colapso. O incidente provoca no casal uma série de desentendimentos, discussões calorosas, conversas por meio de ironias e exposições na mesa para desconhecidos. A avalanche não representa apenas o fenômeno da natureza, vai além, o do declínio do casamento.
No meio da delicada temática, somos invadidos por lindas paisagens da neve dos Alpes, numa fotografia belíssima de Fredrik Wenzel – grande parte da filmagem ocorreu em estações de esqui de Les Arcs, Savoie (França), na temporada de gelo. E sem falar da trilha sonora, de Ola Fløttum, magnânime!
Uma obra autoral de um cineasta sueco de destaque no atual mundo do cinema de arte, Ruben Östlund, que fez “Involuntário” (2008) e “The Square – A arte da discórdia” (2017 – ganhador da Palma de Ouro), e que novamente volta a trazer personagens egoístas, mentirosos e em declínio moral. Ele também assina o roteiro ponta-firme (com humor ácido e diálogos afiadíssimos).

Força maior (Force Majeure/ Turist). Suécia/ França/ Noruega/ Dinamarca, 2014, 119 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Ruben Östlund. Distribuição: California Filmes

 
O ídolo

O garoto Mohammed Assaf (Kais Attalah) sonha em ser um cantor famoso. Abandona a cidade onde mora, Gaza, uma região tomada por guerras, e foge sozinho para o Egito, para tentar a carreira musical. Anos se passam, depois de muito lutar ganha o “Arab Idol”, principal programa de música para descobrir novos talentos, tornando-se rapidamente ídolo do mundo árabe.

Cativante drama palestino, coproduzido em outros seis países (como Holanda e Inglaterra), que nada mais é que a honestíssima biografia de Mohammed Assaf, um jovem cantor que lutou horrores para ascender na música e como recompensa venceu em primeiro lugar o disputado programa televisivo Arab Idol, a versão árabe de “American Idol”. Sonhador, quando pequeno teve um grupinho musical com a irmã e uma amiga, detentor de uma voz poderosa. Chegou a cantar em festas de casamento, dedicando-se da infância à adolescência (o filme retrata sua trajetória entre 2005 a 2013), de corpo e alma para tentar trabalho real na música – por morar em Gaza, uma região controlada, de eternos conflitos bélicos, fugiu para um país mais aberto, o Egito, onde as condições eram mais favoráveis.
A história de Assaf é inspiradora, de superação, e conta com um ótimo protagonista na frente das câmeras, Tawfeek Barhom (ele na fase adulta). Pra dizer a verdade, todo o elenco brilha e é simpático, com rostinhos amigáveis, como Kais Attalah (o Assaf criança), a garotinha Hiba Attalah (a melhor amiga dele), e participações especiais da atriz e diretora Nadine Labaki e dos astros Ali Suliman e Ashraf Barhom. No desfecho prepare os lencinhos para cenas reais da premiação de Assaf, na época acompanhada pela TV por milhões de pessoas no mundo árabe.
Dois dramas do diretor israelense Hany Abu-Assad foram indicados ao Oscar de filme estrangeiro, “Paradise Now” (2005) e “Omar” (2013), e este era para ter sido também – era o indicado da Palestina para disputar uma vaga no prêmio da Academia, mas não prosseguiu. Foi indicado em Rotterdam e exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP, onde assisti pela primeira vez em 2016 (e agora revi em DVD). Assista e inspire-se com essa linda história!

O ídolo (Ya tayr el tayer). Holanda/ Inglaterra/ Qatar/ Argentina/ Egito/ Palestina/ Emirados Árabes, 2015, 98 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Hany Abu-Assad. Distribuição: California Filmes

Nota do blogueiro


E se foi hoje o escritor Rubem Fonseca, aos 94 anos. Adorava seus romances policais - alguns viraram séries, como "Agosto", outros filmes, como "Lúcia McCartney - Uma garota de programa", "A grande arte", "Bufo & Spallanzani". Ele também escreveu roteiros para cinema, em que se destacam "A extorsão", "Stelinha" e "O homem do ano".


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Resenhas Especiais


Vamos de Netflix nessa quarentena? Conheça esses cinco bons títulos que estão disponíveis na plataforma!

O declínio

Num campo de treinamento de sobrevivência no meio da neve na província de Quebec, um estranho acidente desencadeia uma caçada mortal entre os participantes.

Thriller canadense no melhor estilo “fervura máxima”, a primeira investida do Netflix Quebec, portanto falado em língua francesa. Em seu primeiro longa-metragem, o jovem diretor Patrice Laliberté escala um elenco de atores locais promissores, nenhum conhecido nosso, e parte de um roteiro próprio, sobre caçada e sobrevivência no meio do gelo. Demora um pouco para desenrolar a ideia, depois de apresentados os personagens o filme dá um up com perseguições sem fim, tiros, mortes, com plot twist e sacadas legais, tudo fotografado em maravilhosas locações, em florestas congeladas no meio do nada (as lindas paisagens são das montanhas de Quebec).
Curtinho, com apenas 83 minutos, é um autêntico e estranho jogo de gato e rato, onde pouquíssimos irão se manter em pé... Programa adequado para quem gosta de suspense e ação, que acabou de “estrear” no Netflix.

O declínio (Jusqu'au déclin/ The decline). Canadá, 2020, 83 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Patrice Laliberté. Distribuição: Netflix


Paddleton


Michael (Mark Duplass), um homem de meia-idade solitário, descobre um câncer agressivo. Seu único contato é o vizinho Andy (Ray Romano), que também vive só, e acaba se solidarizando a ele. Ambos partem sem destino para uma última viagem de carro pelos Estados Unidos.

Mark Duplass, ator americano de vários filmes independentes, como “Creep” (2014), também roteirista e produtor, protagoniza esse bonito drama ao lado de Ray Romano, indicado a dois Globos de Ouro pela série “Everybody loves Raymond”, e que recentemente apareceu no filme de máfia “O irlandês” (2019). Eles formam a dupla de amigos solitários que, depois da descoberta do câncer de um deles, resolvem seguir viagem pelos EUA, sem rumo, sem prumo. Pelas estradas, aprofundam a relação, conversam sobre o passado, o futuro e a morte. Haverá momentos ternos, outros cômicos, sempre tratados com um lado humano, realista, sem cair em dramalhões pesados, por mais que o tema possa parecer. Já vimos diversas histórias assim no cinema, mas esse aqui é honesto, tocante e merece ser descoberto (essa modesta produção do Netflix entrou no catálogo em fevereiro de 2019).
Exibido no Festival de Sundance, tem roteiro assinado por Duplass junto de Alex Lehmann, que dirigiu o filme.

Paddleton (Idem). EUA, 2019, 89 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Alex Lehmann. Distribuição: Netflix


Loja de unicórnios

Kit (Brie Larson) é uma jovem alegre e sonhadora, pressionada pelos pais para ter um emprego digno. Um dia, de maneira mágica, recebe a ilustre visita do proprietário de uma loja que vende unicórnios de verdade (Samuel L. Jackson). Ele oferece a Kit o poder de realizar seus sonhos de criança.

Passou no Festival de Toronto em 2017 e só dois anos depois entrou no Netflix essa produção original deles, uma fita bem com cara de cinema independente. É uma comédia dramática up, bonitinha, leve, que beira o fantástico (devido aos toques de fantasia), com a presença marcante de Brie Larson, que dessa vez não só atua como estreia na direção, dois anos após ter ganhado o Oscar de melhor atriz pelo impactante “O quarto de Jack” (2015). Samuel L. Jackson aceitou mais um papel excêntrico para sua galeria de personagens meio over, meio loucos, agora usando ternos rosas, com adornos coloridos (ele é famoso por caricaturas), esbanjado graça, super à vontade como o vendedor de unicórnios. O filme é uma inspiração para adolescentes, fala sobre a realização de sonhos de crianças (aqueles sonhos impossíveis), e encanta pela forma que conduz a história. Conta com uma ajuda extra do bom time de coadjuvantes, como Joan Cusack e Bradley Whitford, que interpretam os pais da protagonista.
Não quebre a cabeça procurando explicações palpáveis, entre na onda e divirta-se com esse entretenimento meio maluquinho do Netflix.

Loja de unicórnios (Unicorn store). EUA, 2017, 92 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Brie Larson. Distribuição: Netflix


Gente de bem


Anders (Ben Mendelsohn), um americano de 60 anos, está cansado da vida que leva. Acaba de abandonar o trabalho, separou-se há pouco da esposa, tem uma difícil relação com o filho adolescente. Meio perdido, ocupa o tempo decorando a casa, enquanto tenta se reaproximar do filho e inicia uma amizade com um jovem usuário de drogas.

Muita gente não conhece Ben Mendelsohn, e muitos que o conhecem não gostam dele pelo ar de antipático, sempre em papéis fechados, sérios. Eu gosto dele por causa dessas particularidades – é um ator australiano, indicado ao Globo de Ouro pela série “Bloodline”, fez cerca de 40 longas, dentre eles um personagem fortíssimo no drama “Una” (2016), o vilão de “Jogador número 1” (2018), participações em blockbusters como “Rogue One: Uma história Star Wars” (2016), “Robin Hood: A origem” (2018), “Capitã Marvel” (2019) e “Homem-Aranha: Longe de casa” (2019). Em suma, um cara que está em voga.
Nessa produção original do Netflix, ele dá um show como Anders, um homem que tem a vida bagunçada nos aspectos “família” e “trabalho”, não se encontra de jeito nenhum. Separado, tenta se reconciliar com o filho-problema, pensa na ex-esposa na hora que transa com outras mulheres. E arruma uma solução para se organizar internamente quando fica fissurado em decorar a casa.
O drama mostra a dificuldade dele em reajustar o seu interior e as relações que o cercam, tornando-se um retrato das famílias americanas de classe média em crise. O filme se segura principalmente pelo trabalho de Mendelsohn – apesar que tem coadjuvantes bons, como a grande atriz Edie Falco, pouco aproveitada (ela é mais vista em séries de sucesso, como “Nurse Jackie” e “The Sopranos”, pelo qual ganhou dois Globos de Ouro), Thomas Mann (que tem o mesmo nome do famoso escritor alemão, o garoto fez filmes como “Eu, você e a garota que vai morrer”), e a premiada Connie Britton.
Não é para todos os públicos... é uma história dura tratada com certo humor, baseado no romance de Ted Thompson, adaptado para as telas e dirigido pela cineasta Nicole Holofcener, de “À procura do amor” (2013), indicada ao Oscar de roteiro pelo fantástico drama real “Poderia me perdoar?” (2018).

Gente de bem (The land of steady habits). EUA, 2018, 98 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Nicole Holofcener. Distribuição: Netflix


Amizades improváveis

Trevor (Craig Roberts) é um garoto de 19 anos, cadeirante, portador de distrofia muscular. Seu novo cuidador é Ben (Paul Rudd), um homem 20 anos mais velho, com depressão devido à morte do filho pequeno, e inexperiente na área de cuidados médicos. Nessa amizade improvável, farão juntos uma viagem pelo interior dos Estados Unidos, em busca de redescobertas.

Agradável comédia dramática produzida pelo Netflix na linha do emotivo filme francês “Intocáveis” (2011 - que teve remake e imitações), sobre a amizade de um homem com um garoto cadeirante que tem pouco tempo de vida. Em primeiro plano temos um escritor recém-divorciado que trata de uma depressão, pois se sente culpado pela morte do filho pequeno (Paul Rudd, em bom momento). Então inicia um job diferente, para ajudar nos cuidados diários de um garoto cadeirante, agitado, que fala pelos cotovelos, cheio de piadas na ponta da língua e adora fazer adivinhações com números (outro bom ator, o jovem Craig Roberts). Com a permissão da mãe do menino (a ótima Jennifer Ehle), viajam sozinhos de carro para o interior do país, onde terão longos momentos para conversar sobre si, acerca da vida, do futuro, sonhos, ou seja, vão se autodescobrir e entrar em sintonia. No caminho até arrumam uma companheira de estrada (a cantora e também atriz Selena Gomez).
Tudo é previsível, agridoce, a história cativa, emociona, servindo de reflexão sobre o tema “Nada está perdido”!
Dirige Rob Burnett, produtor de “Late show with David Letterman”, ganhador de cinco Emmys pelo programa, que escreveu o roteiro baseado no romance de Jonathan Evison, de 2015.

Amizades improváveis (The fundamentals of caring). EUA, 2016, 97 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Rob Burnett. Distribuição: Netflix

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Resenhas Especiais


Faroeste na quarentena

Cinco filmes de faroeste para assistir em casa. Em DVD pela Classicline! Confira aí!

Duelo sangrento

No Novo México, o jovem pistoleiro Billy the Kid (Audie Murphy) é perseguido por capangas quando decide se vingar pela morte do patrão.

Modesto faroeste de início de carreira de Audie Murphy, em seu quatro longa-metragem, e o primeiro western, que retrata a saga do lendário pistoleiro Billy the Kid (1859-1881), o gatilho mais rápido do Oeste. Centra-se na chamada Guerra do Condado de Lincoln (ocorrida em 1878), quando o tímido garoto Billy, com apenas 21 anos, armou uma revolta com seu grupo de 20 homens contra fazendeiros e comerciantes que mataram seu patrão. O conflito durou três anos, mobilizou xerifes de vários estados, encerrando-se com a morte de Billy três anos depois.
Murphy, marcante no cinema faroeste, protagonizou pela primeira vez aqui, na época com 26 anos, atraindo a atenção do público – o ator morreu cedo, aos 46 anos, em 1971, vítima de acidente de avião.
O filme é ingênuo, de baixo orçamento, com cenários cafonas, no entanto empolga pelas cenas de tiroteio, sendo assim um bangue-bangue regular. Tem argumento original de Robert Hardy Andrews, com roteiro dele, que fez “No velho Colorado” (1948), e direção de Kurt Neumann, de “A mosca da cabeça branca” (1958). Originalmente da Universal, saiu em DVD pela Classicline.

Duelo sangrento (The kid from Texas). EUA, 1950, 74 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Kurt Neumann. Distribuição: Classicline


Terra do inferno


O vaqueiro Owen (Randolph Scott) passa a ser alvo de atiradores contratados por um rancheiro que disputa suas terras com ele.

Original da Columbia Pictures, feito num bonito Technicolor, é um dos bons faroestes com a marca de André De Toth, cineasta e roteirista austro-húngaro realizador de cinema noir, destacando-se também em faroestes, por exemplo recebeu indicação ao Oscar de melhor roteiro por “O matador” (1950). Com um rosto típico dos westerns da época, Randolph Scott (de “Resgate de bandoleiros”), o filme tem um roteiro bem amarrado, no patamar das fitas da época, com ótimos momentos de suspense, drama e até romance (quando há uma disputa entre o vaqueiro e o rancheiro pelo amor da mesma mulher) – o roteiro foi baseado no romance rancheiro de Ernest Haycox, roteirista de um dos faroestes mais aclamados do cinema, “No tempo das diligências” (1939).
Rodado em vales reais da California, como o belíssimo Lone Pine, tem como atrativo a marcante canção, de mesmo título do filme, “Man in the saddle”, composta pelo cantor country Tennessee Ernie Ford (que até faz uma pontinha na metade, tocando violão). Ah, não nos esqueçamos das atuações femininas: Joan Leslie e Ellen Drew fazem bonito!
Sou fã de faroeste, e este é um pequeno achado, disponível em DVD pela Classicline (que fez bem em resgatá-lo).

Terra do inferno (Man in the saddle). EUA, 1951, 86 min. Faroeste. Colorido. Dirigido por André De Toth. Distribuição: Classicline


E três exemplares com o astro Glenn Ford

Império da desordem

Ex-caçador de recompensas, Cheyenne (Glenn Ford), que hoje leva uma vida fora dos crimes, é preso acusado de assaltar um banco. Seu melhor amigo é o xerife Steve (Randolph Scott), da cidade onde o local foi roubado. Ele tenta provar a inocência de Cheyenne procurando pelo verdadeiro bandido.

Lançado em 1943, é um dos primeiros filmes Technicolor da Columbia Pictures, que chacoalhou o mercado cinematográfico americano da época com a novidade tecnológica! A imagem no Technicolor era realçada, as cores carregavam nova perspectiva, o enquadramento melhorava, enfim, o campo de visão do público submetia-se a outra configuração. Em “Império da desordem”, percebe-se especialmente a qualidade da fotografia, mas o que viria em filmes futuros marcaria mais a memória das pessoas.
Trazia o astro do western Randolph Scott, e tinha ainda um Glenn Ford novinho em folha, então com 27 anos - depois atuaria em uma dezena de faroestes, como “A pistola do mal”. O roteiro empolgante de Robert Carson, ganhador do Oscar de roteirista pela primeira versão de “Nasce uma estrela” (1937), segura o telespectador na cadeira, aliado à formidável direção do icônico Charles Vidor, dos clássicos “À noite sonhamos” (1945) e “Gilda” (1946). A trama segue os ingredientes do western: rivalidade, vingança, brigas com bala por todo lado, o mocinho versus o bandido. E No meio disso tudo, há um romance entremeado (no papel feminino, a da condessa, Claire Trevor), e para fechar o trio masculino, outro nome do cinema faroeste, Edgar Buchanan (de “Pistoleiros do entardecer”, de novo com Randolph Scott). Para apreciadores do gênero, uma boa pedida!

Império da desordem (The Desperadoes). EUA, 1943, 86 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Charles Vidor. Distribuição: Classicline


O pistoleiro do Rio Vermelho

Prestes a se casar com a dona de um saloon no Velho Oeste, o ex-pistoleiro, hoje assistente de xerife, Dan Blaine (Glenn Ford), trava um duelo mortal com um jovem atirador, recém-chegado à sua cidade.

Um digno faroeste de um dos mais profícuos cineastas do cinema americano, Richard Thorpe, realizador de 185 filmes entre as décadas de 20 e 60, como o clássico “Ivanhoé, o vingador do rei” (1952). E foi também seu último trabalho – Thorpe aposentou-se depois de “O pistoleiro do Rio vermelho”, morrendo em 1991 aos 95 anos.
No padrão das produções de bangue-bangue da época, ao contrário de Império da desordem” (1943) que tinha Glenn Ford novinho, aqui o ator envelheceu, estrelando no papel de um ex-pistoleiro cheio de rugas, cansado da vida de crime (na época ele tinha 53 anos), disposto a recomeçar de forma diferente ao lado de uma mulher (Angie Dickinson, linda e elegante). Mas nada é como planejado; um duelo cara a cara com um garoto bom de gatilho fará com que empunhe novamente sua arma. Como diz o título original, será “o último desafio” do fora-da-lei aposentado.
Com longas cenas no interior de saloon, nem tantas de tiroteio, misturando romance e drama, o “far-west” da MGM é um exemplar requintado, bem feito, para os saudosistas do gênero (eu me encaixo nessa). Em DVD pela Classicline.

O pistoleiro do Rio Vermelho (The last challenge). EUA, 1967, 95 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Richard Thorpe. Distribuição: Classicline


A pistola do mal

Quando retorna para casa depois de cumprir sua jornada de pistoleiro, Lorn (Glenn Ford) encontra seu rancho em ruínas e descobre que a esposa e as filhas foram raptadas por apaches. Em busca de pistas, junta-se a um velho que negociava com índios, Owen (Arthur Kennedy), para localizarem a família raptada.

Clássico faroeste da MGM, “A pistola do mal” conta com atuações memoráveis de Glenn Ford, astro do gênero, e de Arthur Kennedy, um de meus atores favoritos (indicado a cinco Oscars), numa trama envolvendo pistoleiros contra índios apaches. Não tem como não lembrar de “Rastros de ódio” (1956), o filme até pode ter recorrido à obra-prima de John Ford, com resultado menor. Porém isso não rebaixa a qualidade desse bangue-bangue caprichado, por vezes down, angustiante, que trazia na direção o filho de Richard Thorpe, Jerry (assim como o pai, viveu até os 90 anos, falecendo em 2018) – ele era um atuante produtor, dirigiu menos filmes, mais seriados. Como de praxe nos westerns americanos das décadas passadas, o índio é tratado com o mal da vez (sendo que eles revidam por terem sido expropriados de suas próprias terras!). Há ganchos com tramas paralelas, com direito a reviravoltas no desfecho. Prepara-se para uma grande aventura no Oeste selvagem.

A pistola do mal (Day of the evil gun). EUA, 1968, 92 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Jerry Thorpe. Distribuição: Classicline