quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Resenha Especial



Marguerite & Julien: Um amor proibido

França, virada do século XVI para o XVII. Os irmãos Marguerite (Anaïs Demoustier) e Julien de Ravalet (Jérémie Elkaïm) cresceram juntos com uma grande afinidade. Na adolescência apaixonam-se perdidamente e iniciam um relacionamento que escandaliza a aristocracia da época. Sob pressão, os dois fogem para viverem juntos, porém são perseguidos pela família com ajuda da polícia.

Empregando uma câmera distanciada e um ritmo lento, a cineasta Valérie Donzelli, de “A guerra está declarada” (2011), recriou um fato verídico com desfecho trágico sobre um caso de incesto que abalou a França no século XVI, envolvendo dois irmãos nascidos em uma família aristocrata. Eles são Marguerite e Julien de Ravalet, uma espécie de “Romeu e Julieta”. Quando crianças, já tinham uma relação próxima, prometeram um ao outro amor eterno. Passados os anos, na juventude, isto se transformou em uma paixão proibida. Mantiveram por várias ocasiões encontros amorosos às escondidas, desafiando principalmente Marguerite, que iria se casar; quando flagrados, fugiram para viverem juntos. E daí são alvo da polícia, de um padre moralista que os acusam de um crime irremediável e por fim da família desesperada. O romance do casal de irmãos terminou de forma brutal, com violência, e o desfecho não nos poupa de nada – é cru e direto, causando um nó na garganta.
O filme tem uma história dentro de outra (abre com uma moça contando à a trajetória dos jovens Ravalet para crianças antes de dormirem), tem liberdade para misturar épocas, dialoga o velho com o novo (a ambientação é entre 1590 e 1603, mas vemos em cena telefone celular, roupas atuais etc), e a montagem é altamente veloz.
A ideia veio de um argumento de Jean Gruault, o roteirista de “Jules e Jim” (1962) e “O garoto selvagem” (1970), que François Truffaut iria filmar quarenta anos atrás, mas não aconteceu (imaginem como teria ficado essa baita história pelas mãos de um dos arquitetos da Nouvelle Vague?). Então a diretora francesa Valérie Donzelli, com ajuda do ator de seus filmes Jérémie Elkaïm (que interpreta aqui o Julien), fizeram a adaptação, que mantem aspectos fieis do original; o resultado é uma obra controversa, desafiadora, um exemplar cult para público específico.


Indicado à Palma de Ouro e ao Queer Palm em Cannes em 2015, foi vaiado no festival e dividiu a opinião dos críticos – maltratado pela imprensa estrangeira, o drama teve pouca adesão do público, aqui no Brasil passou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2016, entrando em seguida em cartaz por duas semanas nas capitais, porém em muitos países importantes sequer esteve em circuito. Uma pena, pois é um trabalho bem finalizado e original, com um tema tabu que nos permite uma série de reflexões. Disponível em DVD pela Mares Filmes e em plataformas digitais.

Marguerite & Julien: Um amor proibido (Marguerite et Julien). França, 2015, 103 minutos. Colorido. Dirigido por Valérie Donzelli. Distribuição: Mares Filmes

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