A escolha de Sofia
O aspirante
a escritor Stingo (Peter MacNicol) chega a Manhattan no final da década de 40 para
tentar a vida sozinho e aluga um pequeno quarto de um sobrado. No andar de cima
ao seu moram Sofia (Meryl Streep), uma polonesa sobrevivente do Holocausto, e
seu namorado de temperamento instável, Nathan (Kevin Kline). Stingo vira amigo
do casal, aos poucos testemunha calorosas discussões entre os dois e torna-se confidente
de Sofia, que contará a ele terríveis fatos vividos na Segunda Guerra Mundial,
dentre eles uma escolha que precisou fazer e que a atormenta até hoje.
Trágica
história de amor que marcou o público na época do lançamento, em 1982, e deu à
Meryl Streep seu segundo Oscar, o primeiro de atriz principal - ganhou dois
anos antes como coadjuvante em “Kramer vs. Kramer” (1979), depois veio o
terceiro prêmio por “A Dama de Ferro” (2011), e até hoje é campeã de indicações
na Academia de Hollywood, 21 no total, sem contar 30 indicações ao Globo de
Ouro, 15 ao Bafta e por aí vai.
“A
escolha de Sofia” é um drama amargo e com desfecho choroso, realista na ponta
da agulha, na verdade uma saga moderna, de uma mulher sofrida pelas marcas da guerra.
Foi baseado no romance de William Styron, best seller do New York Times e
vencedor do National Book Award de 1980 (no Brasil lançado pela editora
Geração, em 2012), com roteiro do próprio diretor, Alan J. Pakula, conhecido
por thrillers políticos, como “A trama” (1974), “Todos os homens do presidente”
(1976) e “O dossiê pelicano” (1993) – também fez suspenses afiados sobre “quem
é o assassino?”, a destacar “Klute, o passado condena” (1971), “Acima de
qualquer suspeita” (1990) e “Jogos de adultos” (1992); infelizmente morreu cedo,
aos 70 anos, em um acidente de carro, meses depois de lançar seu último
trabalho, “Inimigo íntimo” (1997).
Meryl
Streep interpreta com maestria e muita dor uma sobrevivente do campo de
concentração de Auschwitz, que hoje reconstrói sua vida no Brooklyn (a história
se passa em 1947). Desconcertada por uma escolha que teve de fazer no
Holocausto, mora com o namorado, um homem violento, festeiro e beberrão (Kevin
Kline, muito bem em início de carreira). Ela sofre nas mãos desse cara dominador
com desvios de humor, submissa em todos os momentos - o relacionamento deles simboliza
os jovens casais do pós-guerra, conflituosos, num mundo incerto, em
transformação, sob nova ordem mundial. Os altos e baixos dos namorados é visto
pelos olhares inquietos de um vizinho, o aspirante a escritor Stingo (Peter
MacNicol, também começando a carreira, fez poucos filmes e sumiu do cinema),
que passa a frequentar a residência deles. Essa é a primeira parte do filme, contada
no tempo atual; a segunda, da metade pra frente, invade as lembranças de Sofia,
e é onde a história escurece, fica pesada, sobre o tempo que a personagem serviu
de empregada a uma família de nazistas e em seguida levada ao campo de Auschwitz
(Sofia abre o coração para Stingo, a quem confia seus segredos mais obscuros,
guardados a sete-chaves. O ápice é a terrível escolha que foi forçada a fazer, um
fato aterrador e insuportável de imaginarmos).
Como
mencionei bem acima, o filme marcou o público na década de 80, passou muitas
vezes na TV aberta e tem um trabalho memorável de Meryl. Recebeu indicação ao
Oscar de melhor roteiro, fotografia (maravilhosa, do gênio Néstor Almendros), figurino
e trilha sonora (inesquecível, de Marvin Hamlisch). Quem quiser rever ou
assistir pela primeira vez existem duas possibilidades: o drama está disponível
em DVD pela Classicline, lançado meses atrás, com nova capa (lembrando que há uns
18 anos ele saiu em DVD pelo selo Europa Multimedia, que nem existe mais), ou
em Bluray pela Universal Pictures, que saiu em 2012 numa edição comemorativa de
30 anos do filme (uma pena não ter extras, só acompanham trailers e spots de TV).
Ambas têm duração de 150 minutos, a única disponível em mídia no Brasil; nunca
vimos a versão exibida no Festival de Toronto em 1982, que tinha sete minutos a
mais.
A escolha de Sofia (Sophie’s choice). EUA/Reino Unido,
1982, 150 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Alan J. Pakula. Distribuição:
Universal Pictures (Bluray) e Classicline (DVD)
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