quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Viva Nostalgia!



Braço de diamante

Semyon (Yuriy Nikulin) é um cidadão soviético que retorna à URSS após um cruzeiro. Ele carrega, sem saber, moedas valiosas e diamantes no gesso que protege seu braço, após ter sofrido uma queda. Bandidos fizeram isso para contrabandear joias, passando a seguir o coitado. No entanto um capitão de polícia suspeita do caso e utiliza Semyon como isca para capturar a organização criminosa.

Comédia soviética de enorme sucesso na URSS na época, “Braço de diamante” saiu em DVD no Brasil pela CPC-Umes Filmes numa cópia excelente, que comprova a qualidade dos filmes produzidos lá nas décadas de 60 e 70 (e infelizmente pouco visto no Brasil). Dividido em duas partes, com prólogo e epílogo, o filme é um pastelão afinado com crítica social – a primeira parte dura praticamente o filme inteiro, intitulada “Diamante que não se vê”, quando se apresenta o protagonista (o ótimo ator Yuriy Nikulin), um cidadão comum viajando num cruzeiro e se encontrando com diversos tipos no navio, dentre eles um impostor, e a partir tem-se início as aventuras com seu braço de diamante; e a segunda parte, nos minutos finais, quando os malfeitores tentam subtrair as joias do personagem principal.
Produzido pelo maior estúdio da Rússia, Mosfilm (ele ainda sobrevive), tem direção e roteiro de Leonid Gayday, realizador de comédias em tom farsesco, com aventura e um ritmo acelerado, muitas delas campeã de audiência na URSS, como “As 12 cadeiras” (1971, que teve diversas versões, inclusive uma brasileira, com Oscarito). “Braço de diamante” possui estrutura, narrativa e roteiro semelhante a “As 12 cadeiras”, sobre roubo de joias, uma espécie de farsa moderna que dialoga com o inusitado e o surreal, sem contar o elenco sendo repetido (como Yuriy Nikulin e Nina Grebeshkova, esposa do diretor na vida real).


Mistura gêneros, tem até números musicais cantados pelos próprios atores em cena e sequências inventivas – destaco a da pescaria e a do sonho, com uso estridente de filtros vermelhos. A trilha sonora é marcante, com ritmo frenético, do compositor Aleksandr Zatsepin, que compôs a de todos os filmes de Gayday.
Preste atenção nos detalhes desse roteiro anárquico, cheio de ciladas, corre-corre com espiões, que funciona bem – ele foi escrito por Gayday e dois roteiristas parceiros dele, Moris Slobodskoy e Yakov Kostyukovskiy.

Braço de diamante (Brilliantovaya ruka). URSS, 1969, 94 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Leonid Gayday. Distribuição: CPC-Umes Filmes


O cão dos Baskervilles

Sherlock Holmes (Alwin Neuß) investiga a estranha morte de um milionário inglês chamado Charles Baskerville, ocorrida próximo a um pântano pertencente ao solar de sua família. Moradores da região acreditam que a vítima foi morta por um cão fantasma que assombra a região e que o mesmo assassinara gerações da família Baskerville.

Uma das primeiras versões para o cinema do romance policial “O cão dos Baskerville”, do escritor e médico Sir Arthur Conan Doyle, publicado em 1902 e que se tornou o livro mais conhecido com o personagem do investigador britânico Sherlock Holmes. O filme é uma adaptação do livro e da peça de Richard Oswald (roteirista, produtor e diretor austro-húngaro, que realizou filmes na Alemanha e nos Estados Unidos, inclusive dirigiu uma das versões de “O cão dos Baskerville”, de 1929).
Considerado perdido, essa produção alemã de 1914 foi reconstruída em 2005 a partir de uma cópia com cenas deterioradas, que estavam em Moscou. É um típico exemplar do cinema mudo, tão distante do que vivemos hoje: preto-e-branco, com trilha no fundo, cenas rápidas, variedade de filtros (dourado, roxo, azul), entremeadas por caixas de textos que explicam passagens e situações. Ou seja, uma relíquia cinematográfica para apreciadores, somente agora disponibilizada no Brasil, numa cópia boa para os padrões da época.
É uma história policial com suspense e que incursiona pelo terror sobrenatural – Sherlock investiga um caso de assassinato possivelmente envolvendo um cachorro diabólico, que aparece pelo pântano e some sem deixar vestígios. No meio da trama haverá outros conflitos do universo de Holmes, como disputa de bens materiais do falecido, traições etc
Houveram dezenas de versões do livro, as mais famosas são a norte-americana de 1939, de Sidney Lanfield, com Basil Rathbone, e a britânica de 1959, dirigida por Terence Fisher, com Peter Cushing e Christopher Lee; teve até no gênero da comédia, além de telefilmes e minisséries. Esta aqui, de 1914, é curiosa e pouco conhecida; foi dirigida e produzida por Rudolf Meinert, um cineasta austro-húngaro dos primórdios do cinema, de origem judia, que realizou muitos filmes na Alemanha entre 1913 e 1935. Morreu os 60 anos no Holocausto, quando levado ao campo de concentração de Majdanek, na Polônia, em 1943.


Saiu no box “Sherlock Holmes no cinema mudo”, lançado mês passado pela Obras-primas do Cinema, contendo duas versões de “O cão dos Baskerville” (1914 e 1929) e duas de “Sherlock Holmes” (1916 e 1922). Nos discos, muitos extras e também acompanham cards.

O cão dos Baskervilles (Der hund von Baskerville). Alemanha, 1914, 65 minutos. Suspense. Preto-e-branco. Dirigido por Rudolf Meinert. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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