Braço de diamante
Semyon
(Yuriy Nikulin) é um cidadão soviético que retorna à URSS após um cruzeiro. Ele
carrega, sem saber, moedas valiosas e diamantes no gesso que protege seu braço,
após ter sofrido uma queda. Bandidos fizeram isso para contrabandear joias,
passando a seguir o coitado. No entanto um capitão de polícia suspeita do caso
e utiliza Semyon como isca para capturar a organização criminosa.
Comédia
soviética de enorme sucesso na URSS na época, “Braço de diamante” saiu em DVD
no Brasil pela CPC-Umes Filmes numa cópia excelente, que comprova a qualidade
dos filmes produzidos lá nas décadas de 60 e 70 (e infelizmente pouco visto no
Brasil). Dividido em duas partes, com prólogo e epílogo, o filme é um pastelão afinado
com crítica social – a primeira parte dura praticamente o filme inteiro,
intitulada “Diamante que não se vê”, quando se apresenta o protagonista (o
ótimo ator Yuriy Nikulin), um cidadão comum viajando num cruzeiro e se
encontrando com diversos tipos no navio, dentre eles um impostor, e a partir tem-se
início as aventuras com seu braço de diamante; e a segunda parte, nos minutos
finais, quando os malfeitores tentam subtrair as joias do personagem principal.
Produzido
pelo maior estúdio da Rússia, Mosfilm (ele ainda sobrevive), tem direção e roteiro
de Leonid Gayday, realizador de comédias em tom farsesco, com aventura e um
ritmo acelerado, muitas delas campeã de audiência na URSS, como “As 12 cadeiras”
(1971, que teve diversas versões, inclusive uma brasileira, com Oscarito). “Braço
de diamante” possui estrutura, narrativa e roteiro semelhante a “As 12 cadeiras”,
sobre roubo de joias, uma espécie de farsa moderna que dialoga com o inusitado
e o surreal, sem contar o elenco sendo repetido (como Yuriy Nikulin e Nina
Grebeshkova, esposa do diretor na vida real).
Mistura
gêneros, tem até números musicais cantados pelos próprios atores em cena e sequências
inventivas – destaco a da pescaria e a do sonho, com uso estridente de filtros
vermelhos. A trilha sonora é marcante, com ritmo frenético, do compositor Aleksandr
Zatsepin, que compôs a de todos os filmes de Gayday.
Preste
atenção nos detalhes desse roteiro anárquico, cheio de ciladas, corre-corre com
espiões, que funciona bem – ele foi escrito por Gayday e dois roteiristas
parceiros dele, Moris Slobodskoy e Yakov Kostyukovskiy.
Braço de diamante (Brilliantovaya ruka). URSS, 1969, 94
minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Leonid Gayday. Distribuição: CPC-Umes
Filmes
O cão dos Baskervilles
Sherlock
Holmes (Alwin Neuß) investiga a estranha morte de um milionário inglês chamado Charles
Baskerville, ocorrida próximo a um pântano pertencente ao solar de sua família.
Moradores da região acreditam que a vítima foi morta por um cão fantasma que
assombra a região e que o mesmo assassinara gerações da família Baskerville.
Uma das
primeiras versões para o cinema do romance policial “O cão dos Baskerville”, do
escritor e médico Sir Arthur Conan Doyle, publicado em 1902 e que se tornou o livro
mais conhecido com o personagem do investigador britânico Sherlock Holmes. O
filme é uma adaptação do livro e da peça de Richard Oswald (roteirista,
produtor e diretor austro-húngaro, que realizou filmes na Alemanha e nos
Estados Unidos, inclusive dirigiu uma das versões de “O cão dos Baskerville”, de
1929).
Considerado
perdido, essa produção alemã de 1914 foi reconstruída em 2005 a partir de uma
cópia com cenas deterioradas, que estavam em Moscou. É um típico exemplar do
cinema mudo, tão distante do que vivemos hoje: preto-e-branco, com trilha no
fundo, cenas rápidas, variedade de filtros (dourado, roxo, azul), entremeadas
por caixas de textos que explicam passagens e situações. Ou seja, uma relíquia cinematográfica
para apreciadores, somente agora disponibilizada no Brasil, numa cópia boa para
os padrões da época.
É uma
história policial com suspense e que incursiona pelo terror sobrenatural –
Sherlock investiga um caso de assassinato possivelmente envolvendo um cachorro
diabólico, que aparece pelo pântano e some sem deixar vestígios. No meio da
trama haverá outros conflitos do universo de Holmes, como disputa de bens materiais
do falecido, traições etc
Houveram
dezenas de versões do livro, as mais famosas são a norte-americana de 1939, de Sidney
Lanfield, com Basil Rathbone, e a britânica de 1959, dirigida por Terence
Fisher, com Peter Cushing e Christopher Lee; teve até no gênero da comédia, além
de telefilmes e minisséries. Esta aqui, de 1914, é curiosa e pouco conhecida;
foi dirigida e produzida por Rudolf Meinert, um cineasta austro-húngaro dos
primórdios do cinema, de origem judia, que realizou muitos filmes na Alemanha
entre 1913 e 1935. Morreu os 60 anos no Holocausto, quando levado ao campo de
concentração de Majdanek, na Polônia, em 1943.
Saiu
no box “Sherlock Holmes no cinema mudo”, lançado mês passado pela Obras-primas
do Cinema, contendo duas versões de “O cão dos Baskerville” (1914 e 1929) e duas
de “Sherlock Holmes” (1916 e 1922). Nos discos, muitos extras e também
acompanham cards.
O cão dos Baskervilles (Der hund von Baskerville). Alemanha,
1914, 65 minutos. Suspense. Preto-e-branco. Dirigido por Rudolf Meinert.
Distribuição: Obras-primas do Cinema
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