sábado, 19 de janeiro de 2019

Viva Nostalgia!


Irmão Sol, Irmã Lua

Descendente de uma família nobre da cidade italiana de Assis, o jovem Giovanni di Pietro di Bernardone abandona as riquezas mundanas para cuidar dos pobres. Reunindo um pequeno grupo de seguidores, caminha por vilarejos em busca da paz espiritual. Giovanni mais tarde se tornaria São Francisco de Assis, que adotou uma vida humilde em defesa da igualdade entre as pessoas, cuidando dos animais e da natureza. Em suas andanças, torna-se amigo fiel de Clara de Assis, futuramente Santa Clara, que o auxiliou em suas peregrinações.

Quando realizou esta contemplativa e gratificante obra-prima do cinema em 1972, o diretor italiano Franco Zeffirelli (que completa 96 anos em 12 de fevereiro), já havia se consagrado com dois filmes de sucesso baseados em peças de William Shakespeare, “A megera domada” (1967) e “Romeu e Julieta” (1968). Neste drama romântico cult com fundo musical focou nos primeiros anos da juventude de São Francisco de Assis (1182-1226), na vida pessoal e nos feitos dele, e os fortes laços que teve com Santa Clara (1194-1253). Sob influência da Contracultura, o filme, na época, recebeu críticas negativas por ter transformado São Francisco num cidadão hippie, assim como Scorsese fez com Jesus em “A última tentação de Cristo”, anos mais tarde. Bobagem, pois o lado hippie que julgaram no personagem nada mais é que o abandono ao apego material, em que o personagem religioso (que morreu novo, aos 44 anos) pregava a igualdade, o bem comum entre os homens e a adoração pelos animais e pela natureza em si.
Com boas opções de cenografia (o filme foi indicado ao Oscar de direção de arte), foi rodado em lindos campos da Itália, como Toscana, Sicília e Umbria, com figurinos condizentes à época em que Francisco viveu (séculos XII e XIII) e um roteiro simpático a quatro mãos – assinam o britânico Kenneth Ross (de thrillers de espionagem como “O dia do chacal” e “O dossiê de Odessa”) e os italianos Zeffirelli, Lina Wertmüller (de “Mimi, o metalúrgico” e “Pasqualino Sete Belezas”) e a falecida Suso Cecchi D'Amico (de obras do Neorrealismo, como “Ladrões de bicicleta” e “Rocco e seus irmãos”). Notória também a trilha sonora, do cantor pop Donovan, que escreveu especialmente canções para o filme, como a emocionante “Brother Sun, Sister Moon”. No elenco, britânicos e italianos trabalham juntos, com destaque para Graham Faulkner e Judi Bowker, respectivamente Francisco e Clara, e participações especiais de Alec Guiness, no desfecho, como papa Inocêncio III, além de Adolfo Celi, Valentina Cortese e a estreia de Peter Firth.


É um dos filmes da minha vida. Assisti quando pequeno pela primeira vez em TV aberta (em 1995), depois revi em VHS e recentemente adquiri o DVD para uma revisão – e continua ótimo, emocionei-me, pra variar. Não tem como não gostar desse bonito tributo a São Francisco. Também há outras obras cinematográficas sobre ele, como “Francisco, arauto de Deus” (1950), magnum opus de Roberto Rosselini, “Francesco” (1989), docudrama com Mickey Rourke, e a básica “São Francisco de Assis” (1961), de Michael Curtiz.
“Irmão Sol, Irmã Lua” saiu em DVD no Brasil por duas distribuidoras: uma pela Paramount, com melhor cópia, em widescreen, áudio original em inglês, mas sem extras, e outra pela Versátil, em fullscreen, baixa qualidade, áudio dublado em italiano e com extras em textos.

Irmão Sol, Irmã Lua (Fratello Sole, Sorella Luna/Brother Sun, Sister Moon). Reino Unido/Itália, 1972, 122 min. Drama. Colorido. Dirigido por Franco Zeffirelli. Distribuição: Paramount Pictures e Versátil Home Video

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