quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Resenha Especial


Cría cuervos

* Crítica reeditada

Em Madri, três irmãs, todas menores, são criadas pela austera tia. Uma delas é Ana (Ana Torrent), garotinha pensativa e fascinada pela morte. Presenciara a mãe agonizar na cama até morrer, e logo depois encontrara o pai caído no chão, sem vida. Só que um mistério ronda o passado da pequena menina.

Obra máxima do diretor espanhol Carlos Saura, vencedora do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 1976 e indicada ao Globo de Ouro de filme estrangeiro. Aparentemente o filme é um retrato sobre a infância. Porém a psicologia é mais profunda. Saura esteve engajado contra o regime totalitário de Francisco Franco (conhecido como “El Caudillo”) na Espanha; por isso, “Cria cuervos” é uma fita de amparo político, que carrega uma aura de mistério, metáforas e inúmeras simbologias, dando indícios pelo próprio título – uma alusão ao ditado espanhol “Crie corvos e eles te comerão os olhos”. A mãe agonizando na cama remete à ideia da pátria doente, assim como o envolvimento do general franquista com a amante implica na concepção implícita da traição do país – e a morte dele por veneno sugere a revolta popular que pode depor um presidente.


A música-tema, cantada por Jeanette, “Por que te vas”, sucesso na época, é cínica e ambígua. No elenco, destacam-se a garotinha Ana Torrent, em início de carreira, com nove anos – hoje uma mulher belíssima e importante atriz, além de Geraldine Chaplin (filha de Charles Chaplin), em papel duplo feito em tempos diferentes – a mãe e a filha na fase adulta.
Um clássico de nossos tempos, que acaba de sair em excelente cópia pela Obras-Primas do Cinema, no box “Carlos Saura” – a caixa contém três discos, vem ainda com os filmes “A prima Angélica”, “Ana e os lobos”, “Depressa, depressa” e “Peppermint Frappé”, além de horas de extras e cards especiais.

Cría cuervos (Idem). Espanha, 1976, 109 min. Drama. Colorido. Dirigido por Carlos Saura. Distribuição: Obras-Primas do Cinema

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