sábado, 14 de julho de 2018

Cine Lançamento


O destino de uma nação

Em 1940, no início da Segunda Guerra Mundial, as tropas nazistas avançam por toda a Europa, com ordem de domínio dos países por Adolf Hitler. No Reino Unido, Winston Churchill (Gary Oldman) é eleito primeiro ministro. Em meio a um clima de insegurança e medo, Churchill assume o comando da nação para lutar contra as forças hitleristas e impedir a tomada do território.

O britânico Gary Oldman ganhou o Oscar de melhor ator pela impressionante interpretação de uma das personalidades políticas mais notáveis do século XX, o primeiro ministro do Reino Unido Winston Churchill (1874-1965), amplamente reconhecido por ter enfrentado Hitler na Segunda Guerra e dado o start na Resistência Britânica, que salvou o país. Debaixo de uma maquiagem pesada, também ganhadora do Oscar este ano, Oldman está irreconhecível, bem parecido com o verdadeiro Churchill – ele mudou a voz e o jeito de olhar, criou um tipo físico grandalhão, digno de méritos – foi o ano de Oldman, ele ganhou o único Globo de Ouro que o filme foi indicado (de ator), e recebeu ainda o Bafta e o SAG.
O trabalho do ator é a alma desse eficiente drama histórico, que privilegia um recorte da vida de Churchill, nos dois primeiros meses como primeiro ministro do Reino Unido, entre maio e junho de 1940, cruciais para a história do país.
Sem patriotismo, retrata como o estadista desistiu de um acordo de paz com a Alemanha para decretar guerra aos nazistas. Numa fala decisiva, abriu os horizontes para a Resistência, reconfigurando o clima político. Pertencente à bancada conservadora, contrariou velhos aliados, mobilizou aos poucos a população receosa e enviou milhares de soldados para o front de batalha. Vale lembrar que pouco antes de Churchill ser eleito, a Grã-Bretanha era um território neutro, com ilhas de difícil acesso, mas quando o avanço nazista deu sinais de ameaça, Churchill, recém-eleito, interveio com punhos cerrados, juntando-se aos Aliados.
O filme mostra dois perfis bem opostos do personagem: de um político indeciso e de um homem brincalhão, cheio de tiradas afiadas, às vezes mal interpretado. Numa conversa mostrada no filme, Churchill assumidamente se posiciona como um cidadão espontâneo e descontrolado (segundo ele, uma herança dos pais), reconhecendo que lhe falta moderação no pensamento – os momentos mais engraçados podem ser vistos nessas alterações do personagem, e Oldman conduziu com maestria.
Também mostra seu lado inteligente de ouvir o povo nas ruas, numa das cenas mais legais, quando o estadista anda pela primeira vez de metrô, para saber a opinião das classes mais simples em suas dificuldades durante a guerra, o que o motivou a expandir a resistência.
Foi baseado no livro homônimo escrito pelo romancista Anthony McCarten, também roteirista, premiado com o Bafta por “A teoria de tudo” – a obra literária, de 2017, pode ser encontrada no Brasil pela editora Crítica, do Grupo Planeta. O autor vasculhou os Arquivos Nacionais, teve acesso a documentos e atas de reuniões de Churchill para contar nos mínimos detalhes novos fatos da biografia do político, homem de personalidade forte, sempre com seu charuto aceso no canto da boca, vestindo chapéu preto e gravata borboleta.
Além do personagem central, há na história figuras importantes e bem recriadas, como George VI, o rei gago (interpretado por Ben Mendelsohn), Clemmie, a esposa de Churchill (Kristin Scott Thomas) e Elizabeth, a jovem escriturária e braço forte do estadista (Lily James).
O filme recebeu um tratamento especial na parte técnica, com uma edição com truques visuais brilhantes. Por trás disso tudo está a genialidade do diretor Joe Wright, num trabalho ímpar, preciso, coeso - tenho carinho especial por ele, gosto muito de “Desejo e reparação” (2007, indicado ao Globo de Ouro de diretor e ao Leão de Ouro em Veneza), da soberba ação “Hanna” (2011) e de sua versão em formato de teatro de “Anna Karenina” (2012, ganhador do Oscar de figurino).
“O destino de uma nação” concorreu também ao Oscar de melhor filme, figurino, design de produção e fotografia (a fotografia é um destaque à parte, uma composição inebriante, sombria, com tons escurecidos, que estende a interpretação do título ambíguo, ‘Darkest hour’, assinado pelo cinco vezes indicado ao Oscar Bruno Delbonnel, das fitas de arte de Jean-Pierre Jeunet).
Curiosidade: é o terceiro filme sobre Churchill em menos de um ano – em 2017 foram lançados nos cinemas o eletrizante “Dunkirk” (que mostra o político, e o conflito de Dunkirk também é citado neste ‘O destino de uma nação’) e “Churchill”, um drama romântico com um grande Brian Cox no papel principal, ao lado de Miranda Richardson.
Já disponível em DVD e em Bluray, pela Universal Pictures. O disco contém extras como documentário sobre a produção e sobre a maquiagem e comentários em áudio do diretor.

O destino de uma nação (Darkest hour). Reino Unido/EUA, 2017, 125 min. Drama. Colorido. Distribuição: Universal Pictures. Dirigido por Joe Wright

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