O destino de uma nação
Em
1940, no início da Segunda Guerra Mundial, as tropas nazistas avançam por toda
a Europa, com ordem de domínio dos países por Adolf Hitler. No Reino Unido,
Winston Churchill (Gary Oldman) é eleito primeiro ministro. Em meio a um clima
de insegurança e medo, Churchill assume o comando da nação para lutar contra as
forças hitleristas e impedir a tomada do território.
O
britânico Gary Oldman ganhou o Oscar de melhor ator pela impressionante interpretação
de uma das personalidades políticas mais notáveis do século XX, o primeiro
ministro do Reino Unido Winston Churchill (1874-1965), amplamente reconhecido por
ter enfrentado Hitler na Segunda Guerra e dado o start na Resistência Britânica,
que salvou o país. Debaixo de uma maquiagem pesada, também ganhadora do Oscar
este ano, Oldman está irreconhecível, bem parecido com o verdadeiro Churchill –
ele mudou a voz e o jeito de olhar, criou um tipo físico grandalhão, digno de
méritos – foi o ano de Oldman, ele ganhou o único Globo de Ouro que o filme foi
indicado (de ator), e recebeu ainda o Bafta e o SAG.
O trabalho
do ator é a alma desse eficiente drama histórico, que privilegia um recorte da
vida de Churchill, nos dois primeiros meses como primeiro ministro do Reino
Unido, entre maio e junho de 1940, cruciais para a história do país.
Sem
patriotismo, retrata como o estadista desistiu de um acordo de paz com a
Alemanha para decretar guerra aos nazistas. Numa fala decisiva, abriu os
horizontes para a Resistência, reconfigurando o clima político. Pertencente à
bancada conservadora, contrariou velhos aliados, mobilizou aos poucos a população
receosa e enviou milhares de soldados para o front de batalha. Vale lembrar que
pouco antes de Churchill ser eleito, a Grã-Bretanha era um território neutro, com
ilhas de difícil acesso, mas quando o avanço nazista deu sinais de ameaça, Churchill,
recém-eleito, interveio com punhos cerrados, juntando-se aos Aliados.
O
filme mostra dois perfis bem opostos do personagem: de um político indeciso e de
um homem brincalhão, cheio de tiradas afiadas, às vezes mal interpretado. Numa
conversa mostrada no filme, Churchill assumidamente se posiciona como um
cidadão espontâneo e descontrolado (segundo ele, uma herança dos pais), reconhecendo
que lhe falta moderação no pensamento – os momentos mais engraçados podem ser
vistos nessas alterações do personagem, e Oldman conduziu com maestria.
Também
mostra seu lado inteligente de ouvir o povo nas ruas, numa das cenas mais legais,
quando o estadista anda pela primeira vez de metrô, para saber a opinião das classes
mais simples em suas dificuldades durante a guerra, o que o motivou a expandir
a resistência.
Foi
baseado no livro homônimo escrito pelo romancista Anthony McCarten, também
roteirista, premiado com o Bafta por “A teoria de tudo” – a obra literária, de
2017, pode ser encontrada no Brasil pela editora Crítica, do Grupo Planeta. O
autor vasculhou os Arquivos Nacionais, teve acesso a documentos e atas de
reuniões de Churchill para contar nos mínimos detalhes novos fatos da biografia
do político, homem de personalidade forte, sempre com seu charuto aceso no
canto da boca, vestindo chapéu preto e gravata borboleta.
Além
do personagem central, há na história figuras importantes e bem recriadas, como
George VI, o rei gago (interpretado por Ben Mendelsohn), Clemmie, a esposa de Churchill
(Kristin Scott Thomas) e Elizabeth, a jovem escriturária e braço forte do
estadista (Lily James).
O
filme recebeu um tratamento especial na parte técnica, com uma edição com
truques visuais brilhantes. Por trás disso tudo está a genialidade do diretor
Joe Wright, num trabalho ímpar, preciso, coeso - tenho carinho especial por
ele, gosto muito de “Desejo e reparação” (2007, indicado ao Globo de Ouro de
diretor e ao Leão de Ouro em Veneza), da soberba ação “Hanna” (2011) e de sua
versão em formato de teatro de “Anna Karenina” (2012, ganhador do Oscar de
figurino).
“O
destino de uma nação” concorreu também ao Oscar de melhor filme, figurino,
design de produção e fotografia (a fotografia é um destaque à parte, uma composição inebriante, sombria, com tons
escurecidos, que estende a interpretação do título ambíguo, ‘Darkest hour’, assinado pelo
cinco vezes indicado ao Oscar Bruno Delbonnel, das fitas de arte de
Jean-Pierre Jeunet).
Curiosidade:
é o terceiro filme sobre Churchill em menos de um ano – em 2017 foram lançados
nos cinemas o eletrizante “Dunkirk” (que mostra o político, e o conflito de
Dunkirk também é citado neste ‘O destino de uma nação’) e “Churchill”, um drama
romântico com um grande Brian Cox no papel principal, ao lado de Miranda
Richardson.
Já
disponível em DVD e em Bluray, pela Universal Pictures. O disco contém extras
como documentário sobre a produção e sobre a maquiagem e comentários em áudio do
diretor.
O destino de uma nação
(Darkest hour). Reino Unido/EUA, 2017, 125 min. Drama. Colorido. Distribuição:
Universal Pictures. Dirigido por Joe Wright
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