terça-feira, 13 de maio de 2014

Viva Nostalgia!


Belinda

Fim da Segunda Guerra Mundial. Em um vilarejo de pescadores na ilha canadense de Cape Breton, a jovem Belinda (Jane Wyman), que é surda-muda, reside em uma humilde casa com os pais, Black (Charles Bickford) e Aggie (Agnes Moorehead). Certo dia, ela é apresentada ao dedicado médico Robert Richardson (Lew Ayres), por quem se apaixona. Ele corresponde e pretende casar-se com a garota. Até que, numa noite, Belinda é atacada e estuprada por Locky (Stephen McNally), um dos moradores do vilarejo. O caso toma proporções desafiadoras e delicadas quando Belinda descobre estar grávida daquele maníaco.

Falecida em 2007, a pouco lembrada Jane Wyman ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de melhor atriz em 1949 por sua correta interpretação de Belinda, neste intenso drama familiar indicado a outros 11 prêmios da Academia, como melhor filme, diretor, roteiro e ator (Lew Ayres), ator e atriz coadjuvantes (Bickford e Agnes, respectivamente). De beleza pueril, Jane aprendeu a língua de sinais (a personagem dela exige a comunicação não-verbal) e realmente dá um show, alternando momentos de alegria (no início do filme) e drama choroso e difícil (da metade pra frente, quando Belinda sofre o estupro). Oscar merecidíssimo.
Notório nos anos 40, 50 e 60, o cineasta romeno Jean Negulesco (de “Papai Pernilongo”, “Como agarrar um milionário” e “Náufragos do Titanic”) trouxe para reflexão um tema polêmico à época (e hoje tão quanto), que é o estupro, e pior, uma gravidez indesejada após esse tipo de violência! Para o resultado do que é pretendido, o diretor invade a alma de Belinda, deficiente e tida como incapaz, para provocar no público seu sofrimento e seu angustiante dilema (ela aceitará ou não dar à luz uma criança gerada sem consentimento, por um maníaco?). Os pais, interpretados por dois monstros sagrados do cinema americano de outrora (Agnes Moorehead e Charles Bickford), refletem a indignação da massa diante do ocorrido, por isto a dupla tem papéis estratégicos na história (a sequência da trágica briga envolvendo Bickford no desfiladeiro é antológica) e suas reações desesperadoras condizem com a vontade popular.
Com maestria, conhecimento do assunto e sem deslizes melancólicos exagerados, Negulesco tocou na ferida ao levantar a delicada discussão para um cinema que ainda restringia temas que causassem incômodo na tela – havia censura, vale lembrar.
“Belinda” recebeu indicação ao Leão de Ouro em Veneza e é distribuído pela primeira vez no Brasil em DVD pela Colecione Clássicos. Um filme importante e memorável! Por Felipe brida

Ficha técnica


Belinda (Johnny Belinda). EUA, 1948, 102 min. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por Jean Negulesco. Disponível em DVD.

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