Fim
da Segunda Guerra Mundial. Em um vilarejo de pescadores na ilha canadense de
Cape Breton, a jovem Belinda (Jane Wyman), que é surda-muda, reside em uma
humilde casa com os pais, Black (Charles Bickford) e Aggie (Agnes Moorehead).
Certo dia, ela é apresentada ao dedicado médico Robert Richardson (Lew Ayres),
por quem se apaixona. Ele corresponde e pretende casar-se com a garota. Até
que, numa noite, Belinda é atacada e estuprada por Locky (Stephen McNally), um
dos moradores do vilarejo. O caso toma proporções desafiadoras e delicadas
quando Belinda descobre estar grávida daquele maníaco.
Falecida
em 2007, a pouco lembrada Jane Wyman ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de melhor
atriz em 1949 por sua correta interpretação de Belinda, neste intenso drama
familiar indicado a outros 11 prêmios da Academia, como melhor filme, diretor,
roteiro e ator (Lew Ayres), ator e atriz coadjuvantes (Bickford e Agnes,
respectivamente). De beleza pueril, Jane aprendeu a língua de sinais (a
personagem dela exige a comunicação não-verbal) e realmente dá um show,
alternando momentos de alegria (no início do filme) e drama choroso e difícil
(da metade pra frente, quando Belinda sofre o estupro). Oscar
merecidíssimo.
Notório nos anos 40, 50 e 60, o cineasta romeno Jean Negulesco (de
“Papai Pernilongo”, “Como agarrar um milionário” e “Náufragos do Titanic”)
trouxe para reflexão um tema polêmico à época (e hoje tão quanto), que é o
estupro, e pior, uma gravidez indesejada após esse tipo de violência! Para o
resultado do que é pretendido, o diretor invade a alma de Belinda, deficiente e
tida como incapaz, para provocar no público seu sofrimento e seu angustiante
dilema (ela aceitará ou não dar à luz uma criança gerada sem consentimento, por
um maníaco?). Os pais, interpretados por dois monstros sagrados do cinema
americano de outrora (Agnes Moorehead e Charles Bickford), refletem a
indignação da massa diante do ocorrido, por isto a dupla tem papéis
estratégicos na história (a sequência da trágica briga envolvendo Bickford no
desfiladeiro é antológica) e suas reações desesperadoras condizem com a vontade
popular.
Com maestria, conhecimento do assunto e sem deslizes melancólicos
exagerados, Negulesco tocou na ferida ao levantar a delicada discussão para um
cinema que ainda restringia temas que causassem incômodo na tela – havia
censura, vale lembrar.
“Belinda” recebeu indicação ao Leão de Ouro em Veneza e é
distribuído pela primeira vez no Brasil em DVD pela Colecione Clássicos. Um
filme importante e memorável! Por Felipe brida
Ficha
técnica
Belinda
(Johnny Belinda). EUA, 1948, 102 min. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por Jean
Negulesco. Disponível em DVD.
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