O advogado Sosa
(Ricardo Darín) é especializado em indenizar vítimas de acidentes de trânsito.
Como um abutre, sai à procura de pessoas acidentadas ou de familiares de mortos
em acidente nos hospitais, delegacias e pelas ruas onde ocorrem tragédias
diárias. O que seus clientes não imaginam é que a agência de Sosa está
envolvida em corrupção e lavagem de dinheiro, além de outros crimes. Quando
decide largar a profissão suja para viver ao lado da mulher por quem se
apaixona, a paramédica, Luján (Martina Gusman), ele verá que o passado persegue
seus passos, ficando preso ao mundo dos negócios ilícitos.
Em DVD no Brasil pela
Paris Filmes, um bom exemplar do cinema argentino cuja safra é das melhores.
Nosso país vizinho, com êxito da crítica e do público, produz filmes de
praticamente todos os gêneros, desde o terror até a comédia. Sempre com
resultados bons – e alguns brilhantes. Como é o caso dessa fita poderosa,
perturbadora, de gênero difícil de classificar (um drama com tom policial e um
pouco de suspense). E com o astro de lá, Ricardo Darín, perfeito em quase todos
os trabalhos que atua – a exemplo, “O filho da noiva, “O segredo de seus olhos”
(ganhador do Oscar 2011 de melhor filme estrangeiro), “Um conto chinês”, “Nove
rainhas” e “Kamtchaka”.
É um feito único na
Argentina, uma fita de denúncia que nos deixa atônito pela realidade amarga da
trama. E que serve de exemplo para os futuros diretores e roteiristas.
A polícia argentina,
conforme letreiros no filme, registra mais de oito mil mortos em acidentes de
trânsito por ano no país. Diante desse panorama, surgem os “abutres” (os
“urubus”), advogados de porta de cadeia que invadem os locais dos acidentes,
hospitais, delegacias para abrir processos de indenização. Sosa é um desses
tipinhos, malandro de lábia boa, sempre em busca da próxima vítima. A agência
para onde presta serviços é corrupta, lucrando milhões nos casos levantados e
ganhos com a dor dos outros. Devido à consciência pesada, quer sair dessa vida
de sujeira, mas como, com o salário alto... E assim sofre um dilema atordoante
(mesmo escondendo da nova namorada, uma das poucas pessoas que o faria largar o
trabalho escuso).
Preparem-se para uma
fita de impacto, chocante, que evita concessões baratas. Na Argentina, a reação
do público com o filme gerou uma série de denúncias das famílias das vítimas,
fazendo com que o país mudasse rigorosamente as leis. Hoje apenas o governo
pode atender casos dessa categoria de indenização, e não mais os advogados
particulares. Ou seja, um exemplo curioso (e pouco usual) dos bastidores do
poder da mídia e a reação da massa. E com o sucesso também vieram prêmios em
festivais argentinos.
Obrigatório aos
cinéfilos esse excelente retrato do submundo, escrito e dirigido por Pablo
Trapero, que tem pelo menos dois trabalhos premiados, “Família Rodante” (2004)
e “Leonera” (2008).Por Felipe Brida
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