Amar é sofrer
O
ator e cantor Frank Elgin (Bing Crosby) está em maus lençóis. Sem emprego, vive
de bar em bar, única forma de fugir da amarga realidade. Tenta dar a volta por
cima ao marcar encontro com o famoso diretor de Hollywood Bernie Dodd (William
Holden), que ensaia um musical de sucesso garantido. Prestes a negociar com
Elgin, Dodd conhece a esposa dele, Georgie (Grace Kelly), uma mulher do
interior, cansada de sofrer com os vícios do marido. Apaixona-se então por
aquela moça simples, fazendo de tudo para dar a ela uma vida melhor.
Grace
Kelly, lendária estrela do cinema americano, ganhou, por “Amar é sofrer”, seu
único Oscar, na categoria de melhor atriz. Ela dá um show como uma mulher
interiorana (por isso o título original, “The country girl”) casada com um ator
falido e alcoólatra (Bing Crosby, indicado ao Oscar pelo papel). Realmente
Grace rouba o filme e está feia, sem maquiagem, com cabelos desarrumados (na
capa do filme ela aparece com jóias e toda arrumada, extraída da sequencia
final, em uma festa de glamour).
Lançado
em 1954, “Amar é sofrer”, antes de mais nada, é um trabalho autoral sobre os
bastidores do cinema, com história pessimista e desalentadora, em uma época
onde eram comuns obras de temática parecida – “A malvada” e “Crepúsculo dos
deuses” são os melhores exemplos.
O
personagem crucificado é um ator desempregado, com tendência suicida, que
procura meios de obter sucesso novamente. O ícone do cinema Bing Crosby
interpreta esse cidadão, avacalhado pelas pessoas, alcoólatra de carteirinha,
que ainda por cima não suspeita que um velho conhecido que poderá salvar sua
pele (William Holden) está apaixonado pela sua esposa amargurada. A atuação de
Crosby é contundente, ainda mais quando revela guardar um trágico passado.
Holden,
como o diretor em alta, aceita a difícil tarefa de reerguer o profissional em
crise (na verdade Crosby tem todas as crises, financeira, existencial, matrimonial
etc), enfrentando inclusive os patrões, que não acreditam mais no potencial do
ator falido. Haverá chance para o artista hoje sem fama?
As
situações metalingüísticas exploradas aproximam-se da realidade que sempre
presenciamos na mídia: artistas no ostracismo, vencidos pelo vício e rejeitados
pelo grupo dominante atual. Por isso “Amar é sofrer” permanece atual, sem
concessões ou final feliz.
Um
excelente filme para público adulto, ganhador ainda do Oscar de melhor roteiro
em 1955 – sem contar também cinco outras indicações: ator (Crosby), direção de
arte, fotografia, diretor e filme.
Baseado
na peça de Clifford Odets, que escreveu várias obras teatrais sobre a
degradação do artista viciado, dentre elas “A embriaguez do sucesso”, levado às
telas em 1957 (com Tony Curtis e Burt Lancaster).
Os
nostálgicos poderão relembrar Grace Kelly, atriz de poucos filmes (fez apenas
13) cuja carreira durou somente seis anos, na TV e no cinema. Em 1956
despediu-se das telas em “Alta sociedade”, meses depois de “Ladrão de casaca”,
filme este em que conhecera o príncipe-soberano de Mônaco, Rainier III, com
quem se casaria mais tarde. Morreu prematuramente em 1982, aos 52 anos, em um acidente
de carro em Monte Carlo, deixando um enorme vazio nas telas.
Rodado
em preto-e-branco, o drama “Amar é sofrer” foi lançado pela primeira vez em DVD
no Brasil pela Paramount, recentemente. Por Felipe Brida
Amar é sofrer
(The country girl). EUA, 1954, 104 min. Drama. Dirigido por George Seaton.
Distribuição: Paramount Pictures
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