domingo, 31 de agosto de 2008

Entrevista Especial

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“Cinema brasileiro caminha para novos saltos”, aposta ator Giulio Lopes (*)

Felipe Brida

O sistema de produção de cinema no Brasil – e todas as questões interdependentes, como fomento, salas de exibição e distribuição de filmes – é motivo de calorosas discussões entre cineastas, produtores e críticos de cinema. Enquanto um grupo prega pela implosão da política vigente e construção de uma nova lei que regulamente as condições do cinema nacional, outro pretende apenas reformular alguns itens da Lei do Audiovisual. Como a mudança ainda não submergiu das águas turbulentas dos debates, diretores e produtores de cinema – e os próprios atores e atrizes – fazem a parte que cabe a eles: preparar filmes e lançá-los ao mercado.
Giulio Lopes é um desses atores de cinema, teatro e TV que questiona o sistema de produção de cinema no Brasil. Nascido em Poá, São Paulo, em julho de 1960, Lopes, que atuou em pouco menos de 10 filmes – nos recentes “Meu nome não é Johnny” e “Encarnação do demônio”, ambos lançados este ano – e cuja carreira está inserida no contexto do “boom” do cinema nacional, acredita no sucesso das fitas brasileiras. Em entrevista especial concedida ao Notícia da Manhã diretamente de São Paulo, o ator destaca o público jovem, hoje consumidores do cinema nacional. Confira.


NM – Giulio, acredita que o público brasileiro já sabe qual o significado do cinema nacional hoje?
Lopes – De forma geral sim. Vejo com bons olhos os jovens, que hoje começam a se incluir e ao mesmo tempo serem incluídos como expectadores do cinema brasileiro. Eles (os jovens) não vêem o cinema nacional como viam poucos anos atrás. Não existe mais aquele preconceito bobo de que “se é produção nacional o filme vai ser ruim ou chato”. Atualmente, em especial os adolescentes, o público está com a mente mais aberta, sabe quais as propostas dos cineastas e quer entender o que é mostrado nas telas. Se continuar nesse ritmo, o cinema brasileiro dará grandes saltos.
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NM – Só a questão do público já resolve a situação do cinema nacional?
Lopes – Nem pensar. Ainda temos problemas agravantes, por exemplo, quanto às políticas de produção e distribuição dos filmes. É triste ver poucas salas que exibem filme nacional; muitas delas estão localizadas em pontos estratégicos, em lugares onde o público apresenta maior poder aquisitivo. Há a questão do fomento, que aos poucos vem invertendo a situação para que se chegue ao ideal. O trabalho está sendo feito. Como já mencionei, o empenho dos cineastas e de produtores hoje faz com o cinema brasileiro adquira uma nova dimensão não vista antes.

NM – O perfil das produções nacionais mescla gêneros? Como vê essa variedade de temas e estilos?
Lopes – Para atrair público é primordial variar temas e estilos. Quanto mais diversificada a linha de produção mais interesse tem o público em assistir aos filmes. Agora vou agora me colocar como expectador: sinto falta de diversidade no cinema nacional. Por exemplo, “Meu nome não é Johnny”, filme em que atuei como o pai do personagem-título, segue a linha policial, estilo um pouco “sumido” do cinema nacional. A fita foi bem comentada, tinha uma “pegada” jovem, recebeu boas críticas e muita gente o assistiu nos cinemas. Um filme diferente em todos os sentidos, porém, como disse, o tema não é explorado por cineastas. Penso que seja difícil fugir daquilo que se espera de uma produção nacional, com temas batidos sobre condições sociais, favela, violência nos morros e pobreza no nordeste. E isto insiste em permear nosso cinema, é quase que um elemento obrigatório nas produções nacionais. Falta variedade de temas no cinema. Mas sou otimista; apesar de a “coisa” não estar perfeita, caminha-se para o melhor. Resta esperarmos alguns anos para que se note a diferença.

NM – O artista pode colaborar para as mudanças no cinema?
Lopes – Isto depende do comprometimento social e de vida de cada um dos envolvidos no cinema. O ator e a atriz, cuja função principal é se comunicar com o público, têm esse grande instrumento nas mãos; assim, pode se colocar à frente para melhorar o sistema de produção cinematográfica. O artista tem bastante influência e pode brigar para trazer novos rumos ao cinema.


Conheça o ator

Formado pela EAD/Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo em 1989, Giulio Lopes é diretor de teatro e ator. Atuou em mais de 11 peças, dentre elas “O inimigo do povo” e “O enigma Blavatsky”. Fez propagandas na televisão. Trabalhou em nove novelas da Rede Globo, como “Por amor” (1998), “Torre de Babel” (1998), “Suave veneno” (1998), “Desejos de mulher” (2002) e “Da cor do pecado” (2004), e em outras cinco em outras emissores, como SBT e Bandeirantes.
Sua mais recente incursão é no cinema. Como ator esteve em pouco menos de 10 filmes, dentre eles “Contra todos” (2003), “Antônia – O filme” (2007), “Querô” (2007 - foto acima), “Não por acaso” (2007), “Meu nome não é Johnny” (2008) e “Encarnação do demônio” (2008). Recentemente terminou as gravações do novo longa-metragem, “Verônica”, previsto para ser lançado ainda este ano.
Acesse o site para conhecer mais sobre a carreira do ator Giulio Lopes: http://www.giuliolopes.com.br/

(*) Entrevista publicada no jornal Notícia da Manhã, periódico de Catanduva, na edição do dia 29/08/2008. Fotos: Divulgação

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