terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Resenhas Especiais


Três bons documentários no streaming que realçam a trajetória de três personalidades mundiais.

Quincy

Documentário sobre o lendário produtor musical e compositor Quincy Jones, falecido em novembro passado, aos 91 anos.

Produtor musical, compositor de músicas pop e de trilhas sonoras de cinema, empresário e arranjador, Quincy Jones (1933-2024) foi nome fundamental do cenário artístico americano das décadas de 60 a 80. Venceu 79 Grammys, o ‘Oscar da música’, produziu álbuns famosos, como ‘Thriller’, de Michael Jackson, e foi o mentor por trás da canção/manifesto contra a fome "We are the world", em 1985. Em 2018, já com 85 anos, sua filha e atriz Rashida Jones (que teve com a também atriz Peggy Lipton, já falecida), escreveu e dirigiu esse maravilhoso documentário, ao lado do parceiro de trabalho Alan Hicks. Rashida fez um filme-memória emocionante, que revê a notável trajetória de Quincy não só na música como no ativismo social, especificamente na luta contra o preconceito racial, o que colaborou para a reformulação da indústria musical dos EUA a partir dos anos 60.
No doc, nomes importantes da música, como Lionel Richie, Jay-Z, Tony Bennett, Beyoncé, Lady Gaga e Bono, relembram a relação e a influência de Quincy. E entrevistas antigas e recentes e shows dele pelo mundo afora são trazidas para a tela para compor o retrato daquele menino simples de Illinois, mas já prematuro na música, que se tornou arranjador de Miles Davis, Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, alcançando depois o topo da parada de sucesso com músicas como ‘Ai no corrida’. Quincy era uma figura autêntica e combativa, e o filme deixa isso claro. Recomendo conhecerem o longa, da Netflix.




PS - Logo após a morte de Quincy, no dia 03 de novembro, ele recebeu homenagem póstuma do Oscar, com um prêmio honorário – em vida, ele recebeu sete indicações ao Oscar, entre trilhas sonoras e canção, e, pouca gente lembra, produziu junto de Steven Spielberg o filme ‘A cor púrpura’ (1985).

Quincy
(Idem). EUA, 2018, 124 min. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Alan Hicks e Rashida Jones. Distribuição: Netflix


Martha

Documentário da Netflix sobre vida e carreira da culinarista e apresentadora de TV Martha Stewart, do auge com seus programas pioneiros de cozinha e decoração na TV nos anos 70 até sua prisão nos anos 2000, acusada de fraude.

Com sua fina elegância, Martha Stewart (1941-) abriu portas para os programas de culinária na televisão norte-americana a partir dos anos 70. Comandou por décadas um programa próprio de gastronomia e decoração, cuja audiência era fenomenal, influenciando gente de todo o mundo. Apelidada de ‘Rainha do Lar’, publicou dezenas de livros de culinária, teve casamentos problemáticos e hoje, isolada numa casa de campo onde cuida dos jardins, usufrui de uma fortuna estimada em 600 milhões de dólares. A vida e a trajetória de altos e baixos de Martha são destaque nesse documentário estiloso da Netflix, que vive acertando quando faz biografias. O longa, lançado um mês atrás, acompanha a carreira de Martha desde a juventude até os dias atuais, e não passa em branco no escândalo que ela enfrentou por quase uma década: entre 2001 e 2010 foi acusada de obstruir a justiça durante a investigação de um caso de ‘Insider trading’, relacionado à venda de ações de uma empresa de biotecnologia de um amigo, e ACABOU sentenciada a cinco meses de prisão. O caso judicial estampou o noticiário da época e só se falava na prisão de Martha.




No filme, ela abre sua casa para receber a equipe de filmagem e conta sobre tudo, dos relacionamentos amorosos e casamentos fracassados, do convívio na cadeia com as encarceradas, da dificuldade em retomar a carreira após a prisão, quando tentou recriar seus programas antigos. É um bom doc, que trata de todos esses temas com nitidez e mostra que aos 83 anos Martha continua sinônimo de beleza e sofisticação. Do diretor duas vezes ganhador do Emmy R.J. Cutler, criador do reality ‘American High’ (2000).

Martha
(Idem). EUA, 2024, 115 min. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por R.J. Cutler. Distribuição: Netflix


Eu não sou tudo o que eu quero ser

Um retrato pessoal e profissional da fotógrafa tcheca Libuše Jarcovjáková (1952-), que registrou a vida noturna e os marginalizados na Tchecoslováquia pós-Primavera de Praga.

Documentário tcheco dirigido por uma cineasta em ascensão de lá, Klára Tasovská, sobre a maior fotógrafa do país, Libuše Jarcovjáková (1952-), apelidada de “Nan Goldin da Tchecoslováquia”, em referência à famosa fotÓgrafa norte-americana que registrava a vida noturna, a comunidade gay e os oprimidos nos Estados Unidos. Jarcovjáková é uma artista da transformação social, que fotografa parecido com Nan, só que na antiga Tchecoslováquia pós-Primavera de Praga. Ficou famosa nas décadas de 70 e 80 pelo seu olhar peculiar; aos 72 anos, ela narra em off, nesse documentário que acaba de ser lançado no Brasil pela plataforma Sesc Digital, suas experiências no mundo da foto. Enquanto comenta sobre sua vida e dedicação ao trabalho, as fotografias aparecem encadeadas uma a uma, de boêmios, marginalizados, prostitutas, além da arquitetura das cidades, como registro singular de uma época.
Libuše fez também autorretratos na Berlim Ocidental, onde viveu, com nus femininos – seus e de outras mulheres, em que discute sexualidade, bem como faz flashs de festas e viagens. Ela captura cenas ao redor do mundo, como dos japoneses quando de uma temporada na Ásia. Devido a esses trabalhos, virou educadora social respeitada.



Ela narra trechos de seus diários, dando poesia à forma fotográfica, e o tempo inteiro vemos apenas suas fotos antigas em preto-e-branco, retiradas de seu rico acervo. Libuše não aparece nos tempos de hoje, somente em fotos antigas, o que coloca o documentário num patamar mais autoral, menos convencional.
Exibido no Festival de Berlim desse ano, onde concorreu aos prêmios Teddy e Panorama. Está disponível gratuitamente na plataforma Sesc Digital até abril de 2025, em https://sesc.digital/home

Eu não sou tudo o que eu quero ser
(Jeste nejsem, kým chci být). República Tcheca/Áustria/Eslováquia, 2024, 90 minutos. Documentário. Dirigido por Klára Tasovská. Distribuição: exibido pela plataforma Sesc Digital

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