Crônica de uma relação passageira (2022)
Afinada comédia romântica francesa que lembra os filmes de Woody Allen,
com casais que se conhecem por acaso, dialogam o tempo todo e enfrentam longas
crises intercaladas a momentos inusitados. Indicada ao Queer Palm no Festival
de Cannes e ao César de melhor ator para Vincent Macaigne (rosto frequente no
cinema da França, de ‘A musa de Bonnard’, de 2023, por exemplo), a fita acompanha
o ciclo de um ano na vida de duas pessoas que trombam por aí sem querer e
iniciam um relacionamento amoroso. Ele, Vincent Macaigne, é um homem casado, e
ela, Sandrine Kiberlain, de ‘A garota radiante’ (2021), uma mãe solteira. Os dois
se encontram uma vez por semana, em lugar escondido, depois em praças públicas,
apenas para se divertir, almoçar e quem sabe, uma transa. Um dia, resolvem se
aventurar num ménage com uma garota mais nova (papel bacana de Georgia Scalliet),
que causará um turbilhão de emoções na rotina do casal. Com diálogos extensos e
situações engraçadas que fogem do óbvio, o filme, de 2022, ganha espaço nos
cinemas brasileiros agora. Se gosta de comédia francesa, vai ser uma boa
pedida. Nos cinemas pela Mares Filmes.
Histórias que é melhor não contar (2022)
Também está nos cinemas brasileiros outra comédia dramática, agora
espanhola. É o novo trabalho do cineasta catalão Cesc Gay, que escreveu e
dirigiu dois filmes do gênero com o ator argentino Ricardo Darín, ‘O que os
homens falam’ (2012) e ‘Truman’ (2015). A partir de
historietas comuns – cinco no total, que se conectam, ele narra desventuras de indivíduos
de uma mesma cidade diante de segredos guardados envolvendo sexo, gravidez, flertes
e traição. São personagens cotidianos numa Espanha moderna e cheia de
significados, e suas dificuldades em controlar as emoções. Os contos cômicos e
dramáticos curtos se interligam numa teia de desconfiança e altas emoções – a cada
momento uma novidade é apresentada, com reviravoltas diferentes. O bom elenco
ajuda na construção do filme, com astros e estrelas da Argentina e da Espanha,
como Javier Cámara, o veterano José Coronado, Chino Darín (filho de Ricardo),
Anna Castillo e Maribel Verdú. Exibido no Festival de Toronto. Nos cinemas pela Pandora Filmes.
Calígula: O corte final (1980/2023)
No ano de seu lançamento, em 1980, ‘Calígula’ deu o que falar. Um tema
pesado, num filme com classificação 18 anos, com cenas explícitas de sexo, que tentava
construir a ascensão e a queda do insano imperador Calígula, que governou Roma
por apenas quatro anos, no início do século I. Com excessos, diálogos ruins,
figurino extremamente exuberante, tinha como diretor Tinto Brass, realizador
italiano de filmes eróticos, e produção da Penthouse, revista pornô de Bob
Guccione que começou como uma Playboy nos anos 60 e com o passar do tempo adotou
o sexo hardcore. O filme, rodado em 1979 e lançado no ano seguinte, reunia um
elenco de peso, como Malcolm McDowell, Helen Mirren, Peter O’Toole e John
Gielgud. O roteiro, que era para ser o original do talentoso Gore Vidal, foi refeito
durante as gravações, a mando de Guccione, que, também sem avisar o elenco,
inseriu cenas pornôs ao longo do drama histórico. Custou caríssimo, deu
prejuízo, foi censurado em muitos países, o elenco não aprovou o registro infame
e sensacionalista que se fez, virou piada e recebeu indicações aos piores do
ano, no extinto The Stinkers Bad Movie. Pois bem, passados 43 anos, um grupo de
novos produtores, liderado por Thomas Negovan, teve acesso às mais de 10 horas
do material gravado da época, que incluíam cenas do roteiro original de Vidal,
que não foram utilizadas. O trio de produtores recuperou o vasto arquivo, restaurou
e montou um novo filme, que está agora em exibição nos cinemas brasileiros, com
o título ‘Calígula: O corte final’ (2023). Apesar de mais longo – a versão antiga
tinha 156 minutos, e agora chega a 178 minutos, tem menos cenas de sexo e mais
foco na figura obscura do maluco imperador. Inverteram a ordem de cenas para a nova
abertura, criaram do zero os créditos iniciais, com nova trilha sonora,
contratada para o filme, de Troy Sterling Nies – o antigo era de Bruno Nicolai,
que pediu para assinar como Paul Clemente. Teve a première em Cannes na seção ‘Cannes
Classics’, no ano passado, repercutindo melhor que o esperado – eu gostei mais
dessa versão, mas vejo que continua gritado e over em vários momentos, mantendo
cenas indigestas que marcaram a memória do público, como a máquina decapitadora
no Coliseu, a invasão no casamento, o estripamento do homem embebedado de vinho
e o assassinato do imperador Tibério. Mais coeso ao argumento original, ou
seja, mais fiel ao que planejou Gore Vidal, é um novo filme que se vê, numa
cópia muito bem restaurada. Nele, acompanhamos a vida do jovem imperador Calígula,
da ascensão até a queda, com sua busca pelo poder para governar uma Roma em
declínio. Reflete-se melhor agora a Roma decadente, com gente insana no poder, num
período tomado por corrupção e violência. Nos cinemas brasileiros distribuído pela
A2 Filmes.
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