domingo, 22 de dezembro de 2024

Estreias da semana – Nos cinemas

 

Crônica de uma relação passageira (2022)

 

Afinada comédia romântica francesa que lembra os filmes de Woody Allen, com casais que se conhecem por acaso, dialogam o tempo todo e enfrentam longas crises intercaladas a momentos inusitados. Indicada ao Queer Palm no Festival de Cannes e ao César de melhor ator para Vincent Macaigne (rosto frequente no cinema da França, de ‘A musa de Bonnard’, de 2023, por exemplo), a fita acompanha o ciclo de um ano na vida de duas pessoas que trombam por aí sem querer e iniciam um relacionamento amoroso. Ele, Vincent Macaigne, é um homem casado, e ela, Sandrine Kiberlain, de ‘A garota radiante’ (2021), uma mãe solteira. Os dois se encontram uma vez por semana, em lugar escondido, depois em praças públicas, apenas para se divertir, almoçar e quem sabe, uma transa. Um dia, resolvem se aventurar num ménage com uma garota mais nova (papel bacana de Georgia Scalliet), que causará um turbilhão de emoções na rotina do casal. Com diálogos extensos e situações engraçadas que fogem do óbvio, o filme, de 2022, ganha espaço nos cinemas brasileiros agora. Se gosta de comédia francesa, vai ser uma boa pedida. Nos cinemas pela Mares Filmes.

 


 

Histórias que é melhor não contar (2022)

 

Também está nos cinemas brasileiros outra comédia dramática, agora espanhola. É o novo trabalho do cineasta catalão Cesc Gay, que escreveu e dirigiu dois filmes do gênero com o ator argentino Ricardo Darín, ‘O que os homens falam’ (2012) e ‘Truman’ (2015). A partir de historietas comuns – cinco no total, que se conectam, ele narra desventuras de indivíduos de uma mesma cidade diante de segredos guardados envolvendo sexo, gravidez, flertes e traição. São personagens cotidianos numa Espanha moderna e cheia de significados, e suas dificuldades em controlar as emoções. Os contos cômicos e dramáticos curtos se interligam numa teia de desconfiança e altas emoções – a cada momento uma novidade é apresentada, com reviravoltas diferentes. O bom elenco ajuda na construção do filme, com astros e estrelas da Argentina e da Espanha, como Javier Cámara, o veterano José Coronado, Chino Darín (filho de Ricardo), Anna Castillo e Maribel Verdú. Exibido no Festival de Toronto. Nos cinemas pela Pandora Filmes.

 


 

Calígula: O corte final (1980/2023)

 

No ano de seu lançamento, em 1980, ‘Calígula’ deu o que falar. Um tema pesado, num filme com classificação 18 anos, com cenas explícitas de sexo, que tentava construir a ascensão e a queda do insano imperador Calígula, que governou Roma por apenas quatro anos, no início do século I. Com excessos, diálogos ruins, figurino extremamente exuberante, tinha como diretor Tinto Brass, realizador italiano de filmes eróticos, e produção da Penthouse, revista pornô de Bob Guccione que começou como uma Playboy nos anos 60 e com o passar do tempo adotou o sexo hardcore. O filme, rodado em 1979 e lançado no ano seguinte, reunia um elenco de peso, como Malcolm McDowell, Helen Mirren, Peter O’Toole e John Gielgud. O roteiro, que era para ser o original do talentoso Gore Vidal, foi refeito durante as gravações, a mando de Guccione, que, também sem avisar o elenco, inseriu cenas pornôs ao longo do drama histórico. Custou caríssimo, deu prejuízo, foi censurado em muitos países, o elenco não aprovou o registro infame e sensacionalista que se fez, virou piada e recebeu indicações aos piores do ano, no extinto The Stinkers Bad Movie. Pois bem, passados 43 anos, um grupo de novos produtores, liderado por Thomas Negovan, teve acesso às mais de 10 horas do material gravado da época, que incluíam cenas do roteiro original de Vidal, que não foram utilizadas. O trio de produtores recuperou o vasto arquivo, restaurou e montou um novo filme, que está agora em exibição nos cinemas brasileiros, com o título ‘Calígula: O corte final’ (2023). Apesar de mais longo – a versão antiga tinha 156 minutos, e agora chega a 178 minutos, tem menos cenas de sexo e mais foco na figura obscura do maluco imperador. Inverteram a ordem de cenas para a nova abertura, criaram do zero os créditos iniciais, com nova trilha sonora, contratada para o filme, de Troy Sterling Nies – o antigo era de Bruno Nicolai, que pediu para assinar como Paul Clemente. Teve a première em Cannes na seção ‘Cannes Classics’, no ano passado, repercutindo melhor que o esperado – eu gostei mais dessa versão, mas vejo que continua gritado e over em vários momentos, mantendo cenas indigestas que marcaram a memória do público, como a máquina decapitadora no Coliseu, a invasão no casamento, o estripamento do homem embebedado de vinho e o assassinato do imperador Tibério. Mais coeso ao argumento original, ou seja, mais fiel ao que planejou Gore Vidal, é um novo filme que se vê, numa cópia muito bem restaurada. Nele, acompanhamos a vida do jovem imperador Calígula, da ascensão até a queda, com sua busca pelo poder para governar uma Roma em declínio. Reflete-se melhor agora a Roma decadente, com gente insana no poder, num período tomado por corrupção e violência. Nos cinemas brasileiros distribuído pela A2 Filmes.




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