terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Especial - Filmes de Natal


Confira abaixo resenhas de quatro filmes com tema natalino para entrar no espírito da época.

Tudo menos Natal

Raúl (Tamar Novas) detesta o Natal com toda a força do mundo. Auditor atarefado, é rabugento e reclama de tudo. O Natal chegou, e ele terá de se controlar para passar a noite em família. Será que Raúl conseguirá?

A Netflix tem, no catálogo, uma centena de filmes natalinos produzidos nos últimos anos. Tem norte-americano, brasileiro, italiano e espanhol, como é o caso desse divertido conto de natal urbano, sobre um homem de classe média rabugento, que odeia as festas de final de ano. Reclamão, ele passará o Natal em família entre comidas e brincadeiras, e para tanto terá de se comportar para não dar vexame e estragar a alegria dos outros. Engraçadinho e romântico, o longa é um passatempo apropriado para ver no fim de ano. A comédia tem momentos pastelão para causar risos aleatórios, algumas cenas com pitadas de romance, e, como boa parte de obras natalinas, traz mensagem positiva no final, sobre aproveitar a vida e, claro, as festas em família. Em dada cena, na metade, ouvimos a lindíssima canção ‘The Christmas Song’, imortalizada por Nat King Cole.



Galã espanhol, de filmes como ‘Mar adentro’ (2004) e ‘Abraços partidos’ (2009), Tamar Novas manda bem e vale vê-lo voltar em cena, depois de ter sumido das telas. Ponto alto do filme são as sequências na cidade tomada pela neve – as gravações ocorreram no inverno gelado do Vale de Benasque, em Aragão, no nordeste da Espanha. Para assistir em família e entre amigos, pois a diversão será garantida.
 
Tudo menos Natal (A 1000k de la Navidad). Espanha, 2021, 102 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Álvaro Fernández Armero. Distribuição: Netflix


Entre armas e brinquedos
 
Papai Noel (Mel Gibson) é um idoso ranzinza e desordeiro, que vive no Alaska com a esposa, a cuidadosa Ruth (Marianne Jean-Baptiste). Seus negócios de fim de ano não andam bem, por isso está estressado. Do outro lado do continente, um garoto rico e mimado contrata um matador de aluguel para eliminar o Bom Velhinho, por ter odiado o presente que recebeu. Noel e Ruth, então, viram alvo de perigosos bandidos armados, e os dois terão de sobreviver a rajadas de tiros e perseguições.
 
Há uma onda de filmes de Hollywood em que as adoráveis aventuras natalinas infanto-juvenis se transformam em fitas policiais malucas com tiros, porrada e bomba, subvertendo a figura mágica do Papai Noel. O Bom Velhinho carismático vira um homem comum, que bebe, fuma, é estressado, arruma brigas etc. ‘Entre armas e brinquedos’ (2020) foi um dos primeiros dessa safra, depois vieram ‘Noite infeliz’ (2022), com David Harbour como um Santa Claus beberrão que é espancado por criminosos e tem de sobreviver, e um lançamento exibido recentemente nos cinemas, ‘Operação Natal’ (2024), com o premiado J.K. Simmons na pele de um Papai Noel bombado alvo de um sequestro. ‘Entre armas e brinquedos’ tem menos tom de fantasia e mais cara de fita policial, com cenas de ação violentas guardadas para o final, típicas daquelas com Bruce Willis e Mel Gibson. Aliás, Gibson é a estrela principal aqui, interpretando um Noel mal-humorado que vive no Alaska. Seu nome é Chris (em referência a um dos nomes de Papai Noel, Kris Kringle), vive com a esposa, Ruth, uma senhora toda cuidadosa – papel da atriz inglesa indicada ao Oscar Marianne Jean-Baptiste. Ele tem renas que ficam como cavalos num curral, e seus negócios, a venda de presentes, estão em crise. Certo dia, uma criança malvada (Chance Hurstfield) se alia a um perigoso matador (Walton Goggins, um vilão de primeira linha, marcante no filme ‘Os oito odiados’, de 2015) para se vingar do presentinho recebido do Papai Noel. E para o Alaska eles vão com um grupo armado caçar o coitado do velhinho. Porém não imaginam o que os espera!




Divertido e nada crível, é uma aventura com ação para público adulto, uma brincadeira curiosa e original para assistir no clima de Natal. Duas músicas natalinas clássicas tocam, ‘Jingle bells’ e ‘Do you hear what I hear?’, e junto com a neve do Alaska, ajudam a incrementar o resultado pretendido do filme.
O longa nem entrou nos cinemas em 2020, pois estávamos no ano terrível da pandemia, quando os cinemas ficaram fechados. Nem saiu em mídia física no Brasil, saindo diretamente no streaming. Pode ser assistido agora na Netflix, AppleTV e na plataforma Adrenalina Pura.
 
Entre armas e brinquedos (Fatman). EUA/Reino Unido/Canadá, 2020, 99 minutos. Ação/Comédia. Colorido. Dirigido por Eshom Nelms e Ian Nelms. Distribuição: Califórnia Filmes


Natal em julho
 
Jovem e humilde, Jimmy MacDonald (Dick Powell) trabalha como balconista em um café. Ele sonha em mudar de vida e ser rico; para tanto, participa de uma loteria que dará ao ganhador uma bolada: 25 mil dólares. Ele namora uma colega de trabalho, Betty Casey (Ellen Drew), com quem quer se casar. Enquanto aguarda o anúncio do prêmio para o vencedor, três amigos de Jimmy pregam uma peça – eles enviam uma carta informando que o rapaz ganhou o dinheiro. Acreditando no documento, sai para fazer compras e investir em seus sonhos.
 
Comédia romântica alegre e festiva, com um adorável clima de fim de ano, mesmo sem ser um filme diretamente natalino. Mas como assim, se até o ‘Natal’ aparece no título? O tal ‘Natal em julho’ é uma antecipação das comemorações e compras caras que o protagonista faz, ao saber que é ganhador de uma bolada. Na trama, um jovem quer mudar de vida e investir no futuro, ajudando sua mãe e se casando, e por isso participa de uma espécie de concurso/loteria. Mas seus amigos o enganam, fazendo uma brincadeira ao dizer que ele é o ganhador. O rapaz então, felicíssimo, dá-se um banho de loja, como se fosse no Natal. Mas e agora, como será o ‘depois das compras’ ao saber que ele não ganhou nada?




Em dado momento o filme assume o lado ‘pastelão’, com tortas voando nas pessoas e gente escorregando – nos Estados Unidos esse subgênero chamado ‘comédia pastelão’ se chama ‘Screwball comedy’, com situações malucas e burlescas, muito consumida e influente no cinema norte-americano dos anos 30 e 40. O filme todo é narrado pelo personagem a sua namorada no terraço de um prédio, em que ele imagina sua vida transformada ao ser rico. Dick Powell, de ‘Até a vista, querida’ (1944), e Ellen Drew, de ‘A ilha dos mortos’ (1945), são o adorável casal central dessa história, escrita e dirigida por Preston Sturges, premiado com o Oscar de melhor roteiro por ‘O homem que se vendeu’ (1940) – aliás, este foi seu primeiro filme como diretor, lançado meses antes de ‘Natal em julho’. Originalmente da Paramount Pictures, o filme foi relançado em DVD pela Classicline.
 
Natal em julho (Christmas in July). EUA, 1940, 67 minutos. Comédia/Romance. Preto-e-branco. Dirigido por Preston Sturges. Distribuição: Classicline
 
 
Natal diabólico
 
Harry (Brandon Maggart) é um operário de uma fábrica de brinquedos. Traumatizado por um fato que presenciou quando criança, ele enlouquece e, vestindo roupa de Papai Noel, sai para matar pessoas na noite do Natal.
 
Fita de terror independente que antecipou outro slasher que ficaria famoso e ganharia continuações, ‘Natal sangrento’ (1984). As histórias são parecidas, protagonizadas por alguém traumatizado que ataca as vítimas com machado vestindo-se de Papai Noel – a diferença é que aqui o protagonista é um homem de quarenta e poucos anos, enquanto no filme seguinte é um jovem de 18 anos. Em ‘Natal diabólico’, conhecemos um cara fissurado pela figura do Papai Noel – ele coleciona adesivos, ímãs de geladeira e bonecos de Santa Claus e dorme vestido com roupas de Noel. Na abertura, mostra sua infância, na década de 40, quando, pequeno, presenciou dentro de casa a mãe transando com um Papai Noel em frente à arvore de Natal. Esse trauma vai e vem em sua mente, ele vive sozinho e tem um lado temperamental aguçado. Num dia de trabalho, na fábrica de brinquedos natalinos, tem um ataque de nervos ao ser zombado, sai correndo para casa e acaba assumindo a figura de um Santa Claus sinistro – com um machado na mão e outras armas, sai atacando quem estiver no caminho, deixando um rastro de sangue.




Além do terror slasher, o longa carrega tons perturbadores de drama psicológico, que configura o clima de estranheza e violência do filme. O protagonista, cansado da hipocrisia e do cinismo da sociedade em torno do Natal, dá um basta e chega ao seu limite. Brandon Maggart, de ‘Vestida para matar’ (1980), está assustador como o protagonista atormentado, e no elenco temos Jeffrey DeMunn, de ‘A morte pede carona’ (1986) e Diane Hull, de ‘Assassinato a sangue-frio’ (1979). Sai no box ‘Slashers volume XIV’, pela Versátil Home Video, com os filmes ‘A hora das sombras’ (1981), ‘Corpo estudantil’ (1981) e ‘Doce debutante’ (1983).
 
Natal diabólico (Christmas evil/You better watch out). EUA, 1980, 93 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Lewis Jackson. Distribuição: Versátil Home Video


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