quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Cine Clássico



Planeta proibido

Uma expedição do comandante Adams (Leslie Nielsen) viaja a um planeta desconhecido para encontrar pistas do desaparecimento de cientistas que para lá foram meses atrás. Ao pousarem a nave nesse planeta, os tripulantes são recebidos por Dr. Morbius (Walter Pidgeon), um dos poucos cientistas sobreviventes, que vive com a filha Altaira (Anne Francis) e o robô Robby.

Talvez o filme de ficção científica mais popular e admirado nos EUA, que lançou para o mundo o simpático e prestativo robô Robby. O robô foi tão bem recebido pelo público que voltaria na continuação de “Planeta proibido” um ano depois, um filme bem fraquinho chamado “O menino invisível” (1957), e apareceria em seriados dos anos 60 e 70 como “The twilight zone”, “A família Adams”, “Perdidos no espaço”, “A ilha dos birutas” e “Columbo” – e até no Brasil, vejam só, ele apareceu como convidado numa novela da TV Tupi!
Indicado ao Oscar de efeitos visuais, a fita tem certa ingenuidade, porém já abria espaço para discutir temas da ciência atual, como o de inteligência artificial e a ocupação de outros planetas – esses temas seriam exaustivamente explorados no cinema a partir da década seguinte.
Inspirado na última peça de William Shakespeare, “A tempestade” (que leva os personagens originais Próspero, Miranda e Ariel da embarcação encalhada para o espaço sideral), o filme foi dirigido por Fred M. Wilcox, um diretor de filmes B e muitos da franquia Lassie, que fez aqui seu melhor trabalho. Reuniu para tanto um elenco de nomes pouco conhecidos, que despontaria anos mais tarde, como Leslie Nielsen (famoso depois em comédias pastelão e paródias, como “Corra que a polícia vem aí!”) e Anne Francis (de “Sementes de violência”), e participação do veterano Walter Pidgeon (de “Rosa da esperança”).


Para compor o clima de futuro distante e planeta desconhecido, utilizaram o que de melhor havia na época: cenários pintados, maquetes, monstros com efeitos de luzes e raios inseridos na pós-produção, naves que levitam sob fios, e o próprio robô Robby é uma fantasia vestida por um dublê.
Não é só uma aventura com monstros, escapadas e luta por sobrevivência; o filme explora questões psicológicas, da mente humana, com referência ao Id e aos instintos (ao longo da história tudo ficará mais claro, esperem!).
Inteiramente rodado nos estúdios da MGM, com coprodução da Toho, a produtora japonesa (conhecida pelos inúmeros filmes de Godzilla).
Saiu em DVD mês passado na coleção “Planeta proibido”, com a continuação, “O menino invisível” (pela Classicline), e em 2016 havia sido lançado em DVD pela Versátil no box “Clássicos Sci-fi – volume 1”, com os filmes “A ameaça que veio do espaço” (1953), “Os malditos” (1963), “O planeta dos vampiros” (1965), “Fuga no século 23” (1976) e “Eles vivem” (1988).

Planeta proibido (Forbidden planet). EUA/Japão, 1956, 98 minutos. Aventura/Ficção científica. Colorido. Dirigido por Fred M. Wilcox. Distribuição: Classicline (na ‘Coleção Planeta proibido’, de 2022) e Versátil Home Video (na coleção ‘Clássicos scifi – vol.1’, de 2016)

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Cine Cult


Retratos da vida

Durante 50 anos, entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 80, o cotidiano de quatro famílias em quatro países diferentes se entrelaça por meio da música e da dança.

Fez carreira internacional e sucesso no Brasil esse filme-concerto estiloso escrito e dirigido por Claude Lelouch, um dos poucos cineastas vivos da Nouvelle Vague (movimento de cinema francês que rompia com os padrões estéticos e técnicos da época, inspirando o Cinema Novo no Brasil) - e é de Lelouch um dos maiores filmes franceses de todos os tempos, com trilha sonora brasileira embalada pela Bossa Nova, “Um homem, uma mulher” (1966).
O filme perpassa 50 anos no seio de quatro famílias em quatro países distintos (EUA, França, Alemanha e Rússia), com seus medos, paixões e conquistas. E tendo a música como mola propulsora de seus ânimos. Por falar em música, abre com uma cena longa com o Bolero de Ravel, música-tema que vai e volta no filme, coreografada pelo bailarino argentino Jorge Donn (falecido precocemente em 1992, aos 45 anos). Ele se apresenta no Trocadero, em Paris, e a sequência é memorável. As cenas de coreografia são espetaculares, a fotografia remonta o clima de guerra e as de ambiente internos das casas, um plus a parte, todas assinadas por Jean Boffety.



Demorou um ano para ser gravado! É uma fita de arte com uma narrativa diferente, nada linear (por isso pode desagradar parte do público), contando com uma trilha sonora formidável de Francis Lai e Michel Legrand.
No elenco, famosos do mundo inteiro, muitos em papel duplo, Robert Hossein, Nicole Garcia, James Caan, Geraldine Chaplin, Jean-Claude Brialy, Fanny Ardant e até a então novata Sharon Stone. Outro diferencial técnico são as longas tomadas circulando entre os atores, com Lelouch carregando a câmera na mão.
Relançado em DVD pela Classicline na versão editada que saiu nos EUA, de 168 minutos, com 16 minutos a menos que a versão original exibida em Cannes, de 184 min – o filme concorreu à Palma de Ouro e em Cannes ganhou prêmio técnico.

Retratos da vida (Les uns et les autres/ Bolero). França, 1981, 168 minutos. Drama/Musical. Colorido. Dirigido por Claude Lelouch. Distribuição: Classicline

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Sessão “Filmes para TV”


Sepultado vivo

Joanna (Jennifer Jason Leigh) leva uma vida aborrecida com o marido Clint (Tim Matheson) numa cidadezinha americana. Ela tem um caso com o médico Cortland (William Atherton). Juntos combinam um plano para matar Clint, envenenando-o. O assassinato dá certo, porém uma surpresa deixará os amantes à beira da loucura.

Um dos filmes que mais assisti na vida, reprisado infinitas vezes na TV aberta nos anos 90. É um telefilme (filme para TV, da Universal Television) de suspense com terror muito bem amarrado, com um elenco em boa forma (em especial Jennifer Jason Leigh e William Atherton). A história, apesar de improvável e até impossível, segura o espectador na cadeira até o terrível desfecho. O filme ronda um crime passional, de um casal de amantes que planeja o assassinato do marido da protagonista, no entanto o crime não termina como previsto. Há reviravoltas marcantes, e as cenas tensas são auxiliadas por uma boa trilha sonora e fotografia escurecida. Claustrofóbicos como eu podem ficar mexidos com o filme, numa determinada cena da metade para o final (muito boa por sinal).
Ganhou edição em DVD mês passado pela Obras-primas do Cinema (um filme aguardado pelos colecionadores de mídia física).



Estreava aqui o diretor, roteirista e produtor francês radicado nos EUA Frank Darabont, três vezes indicado ao Oscar, que dirigiu dois grandes clássicos dos anos 90, “Um sonho de liberdade” (1994) e “À espera de um milagre” (1999).

Sepultado vivo (Buried alive). EUA, 1990, 93 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Frank Darabont. Distribuição: Obras-primas do Cinema


Noriega: O favorito de Deus

Nos anos 80, o líder nacionalista panamenho Manuel Noriega (Bob Hoskins) torna-se presidente levando o país a uma escala de violência. Aos poucos envolve-se com o tráfico de drogas até ser deposto pelos americanos.

Um bom telefilme político sobre a vida do líder nacionalista panamenho Manuel Noriega (1934-2017), que assumiu a presidência do importante país da América Central após a morte do presidente Omar Torrijos, um ditador que havia dado um golpe de estado duas décadas antes. Noriega virou braço-direito de Torrijos, foi oficial do Exército e chefe do setor de Inteligência. Presidiu o país entre 1983 e 1989, de início com fortes laços com os EUA depois levou o Panamá à condição de pária mundial. Envolveu-se pessoalmente com o tráfico de drogas, e foi acusado de corrupção, extorsão e lavagem de dinheiro, indiciado depois por esses crimes, além de assassinatos – ficou preso por quase 20 anos quando deposto. No período de governo tornou o país uma ditadura, perseguindo adversários políticos e a imprensa.
Quem dá voz e caracterização ao personagem é o ótimo Bob Hoskins, de “Uma cilada para Roger Rabbit” (1988), “Minha mãe é uma sereia” (1990) e tantos outros filmes, com uma maquiagem que lembra Noriega (que tinha várias cicatrizes e espinhas no rosto). É um drama com sequências bem realizadas de ação que mostra Noriega da juventude até a prisão no final dos anos 80, sempre com enfoque na sua destemida característica, a de intimidação e chantagem.



Rodado nas Filipinas pelo diretor Roger Spottiswoode, de filmes de ação famosos dos anos 80, como “Sob fogo cerrado” (1983) e “Atirando para matar” (1988). Recomendo!

Noriega: O favorito de Deus (Noriega: God's favorite). EUA, 2000, 114 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Roger Spottiswoode. Distribuição: 20th Century Fox

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Cine Cult


Salò, ou Os 120 dias de Sodoma


Em 1944, na República de Salò, no norte da Itália, um grupo de fascistas, dentre eles políticos e empresários, sequestra 16 jovens e aprisiona-os num castelo. Lá, por 120 dias, as vítimas serão alvo de torturas e violência sexual.

Uma das obras mais cruéis e contraditórias do cinema, filme derradeiro de Pier Paolo Pasolini, assassinado no final das gravações em 1975. Indigesto, com imagens fortes e ousadas, veio na fase desregrada e de contestações política e social do cineasta italiano que fez “Mamma Roma” (1962), “Édipo rei” (1967), “Teorema” (1968), “Decameron” (1971) e outros filmes marcantes. Pasolini escreveu o roteiro ao lado de Sergio Citti e Pupi Avati adaptando-o do romance “Os 120 dias de Sodoma” (ou “A escola da libertinagem”, de 1785), do polêmico escritor Marquês de Sade (1740-1814), que viveu no período ferrenho do Absolutismo pouco antes da Revolução Francesa (que viu acontecer). Pasolini transpôs o pano de fundo das orgias da França libertina para a Itália fascista, mais precisamente na republiqueta de Salò, no norte do país. Dividiu o filme em capítulos com estrutura semelhante a “O inferno”, de Dante Aligheri, em ciclos que ficam mais pesados a cada passagem. Na trama, fascistas prendem adolescentes num castelo por 120 dias e lá praticam violência sexual, tortura, sodomização e assassinatos dos mais perversos, com a ajuda de mulheres e homens da sociedade. Pasolini, sem meios termos, criticou aqui ferrenhamente as atrocidades do fascismo italiano que devastou a Europa ao lado do Nazismo nos anos 30 e 40.
Recebeu censura de 18 anos, foi proibido em vários países (no Brasil não chegou a ser exibido, estávamos na ditadura) e unanimemente a crítica rotulava de “depravado”, “repulsivo”, “chocante” (o filme continua forte e toca em questões atuais, mas veja com cuidado!).


Vintes dias antes da estreia no festival de Paris, Pasolini foi encontrado morto na praia de Ostia, perto de Roma, em 2 de novembro de 1975 – quem foi preso e acusado foi um garoto de programa. O crime nunca ficou esclarecido.
Um destaque vai para a parte técnica: os maiores nomes da Itália da época se envolveram no projeto: Alberto Grimaldi assina a produção, Dante Ferretti o design de produção, fotografia de Tonino Delli Colli, figurinos de Danilo Donati e trilha sonora com participação de Ennio Morricone.


Ganhou há poucos meses edição nova, com luva, em disco duplo e duas horas de extras, com metragem original, de 117 min, pela Obras-primas do cinema. Já existia no mercado uma versão antiga, de revista, de mesma metragem, porém com imagem inferior, da extinta Wave Filmes.

Salò (ou Os 120 dias de Sodoma) (Salò o le 120 giornate di Sodoma). Itália/França, 1975, 117 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Pier Paolo Pasolini. Distribuição: Obras-primas do cinema

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Cine Cult


Clímax

Uma festa termina em alucinações e mortes quando os jovens ali presentes, sem saber, são drogados com LSD.

Argentino radicado na França, o diretor e roteirista Gaspar Noé chocou o mundo com “Irreversível” (2002), um filme apoteótico e extremamente violento que conta com uma cena insuportável de estupro, que dura 10 minutos. Ele nunca foi um cineasta com obras fáceis. Quatro anos antes de “Irreversível” fez seu primeiro trabalho, o agressivo “Sozinho contra todos” (1998), depois veio o desconcertante “Enter the void: Viagem alucinante” (2009), em seguida mais um drama, “Love” (2015), com cenas de sexo explícito como se fosse um filme pornô, até chegar em “Clímax” (2018), não menos complexo que os anteriores. Deixo claro que é uma fita de arte difícil, violenta, que sobe o tom com o desenrolar da trama, que se passa durante um dia numa festa eletrônica em um internato isolado na floresta. Os jovens ali presentes cantam, bebem, dançam de forma frenética, até serem dopados com LSD na bebida, sem saber. A partir daí têm comportamentos estranhos, passam mal, e alucinados, brigam, gritam e se agridem, a ponto de cometer crimes.
A estética do filme é a cara do diretor: cores fortes (como o vermelho no chão e paredes), luzes de neon (que costuma estar nos créditos), música eletrônica sem cessar, longos planos-sequência, uso de plongée e movimentos malucos de câmera que chegam a rodar 360 graus. Até na inserção dos créditos ele subverte o natural: os nomes estão espalhados ao longo do filme em dois momentos, cheio de cor neon, e não há letreiros finais.


É uma viagem alucinante como fez em “Enter the void”, com cenas brutais de violência, sem contar os diálogos sobre sexo e curtições (classificação é de 18 anos, cuidado!).
Pode ser interminável para boa parte do público, mas não podemos negar a inventividade da obra e o domínio de cena do diretor, que soube controlar bem os atores em apenas um espaço, a pista de dança. Destaque para a atriz e modelo Sophie Boutella no papel central.
PS: Na abertura há longos trechos de entrevistas dos personagens que irão para a tal festa, e ao lado da TV, reparem nas fitas de VHS, que são filmes antigos, além de livros, que inspiraram o diretor e que de certo modo dialogam com “Clímax” – alguns dos filmes são “Possessão” (1981), “Suspiria” (1977), “Um cão andaluz” (1929) e “Querelle” (1982).

Venceu prêmio especial no Festival de Cannes em 2018. Pode ser visto nas plataformas online ou em DVD, pela Imovision.

Clímax (Idem). França/Bélgica, 2018, 97 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Gaspar Noé. Distribuição: Imovision

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Cine Especial


10 segundos para vencer

Dividido entre a família e o esporte, Éder Jofre (Daniel de Oliveira) sonha com o boxe. Vendo de perto a paixão do filho, o treinador Kid Jofre (Osmar Prado) resolve treinar o jovem para se tornar o maior campeão do ringue brasileiro.

Éder Jofre, o mais destacado pugilista brasileiro, dentro e fora do país, faleceu no dia 2 de outubro, aos 86 anos, após longo período doente. Com o apelido de Galo de Ouro, conquistou três vezes o título mundial na categoria peso-pena, destacando-se no boxe por mais de 20 anos. Deixou uma marca histórica até hoje não superada – seu nome foi para o Hall da Fama Internacional do Boxe, nos EUA, único brasileiro a obter tal mérito. Quatro anos atrás fizeram essa cinebiografia competente, bem realizada, sendo uma homenagem emocionante em vida a Jofre. E não é um filme apenas dele, e sim do pai, Kid Jofre, seu treinador na juventude – o pai tem maior destaque que o filho na história, se olharmos bem. O roteiro narra a trajetória de Kid Jofre treinando o filho, até torná-lo quem foi. Kid Jofre era treinador, conquistando títulos no boxe, e com seu jeito turrão de italiano, que dava patadas em todos, levou o filho ao ringue para que ele atingisse o sonho de ser boxeador. A luta foi dura, incansável, e a família enfrentava outros problemas, como o financeiro. E assim, dia a dia, Eder Jofre se sobressaía, entregando-se de corpo e alma para os esportes.


Daniel de Oliveira está bem, mas Osmar Prado dignifica o filme (ele lembra mais o Eder que o Kid). Ambos entregam uma interpretação sincera, sem exageros, e o diretor José Alvarenga Jr consegue fazer um filme delicado, para todos os públicos. Alvarenga, vale lembrar, começou a carreira nos anos 80 dirigindo filmes dos Trapalhões (como “O casamento dos Trapalhões” e “A Princesa Xuxa e os Trapalhões”), além de séries e filmes de comédia (como “Os normais” e “Divã”). É seu melhor filme, inserido na linha de dramas reais/biográficos.
Indicado em festivais internacionais e nacionais, deu a Osmar Prado o Kikito de Ouro de melhor ator no Festival de Gramado, que faz esse personagem formidável, uma performance vinda do coração.

10 segundos para vencer (Idem). Brasil, 2018, 122 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por José Alvarenga Jr. Distribuição: Imagem Filmes

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Especial de Cinema


Os melhores filmes da 46ª Mostra Internacional de Cinema de SP – parte 03

A edição 2022 da Mostra de Cinema de SP segue até dia 02/11, com sessões presenciais em 15 cinemas da capital e também em duas plataformas online (com sessões gratuitas), que são o Sesc Digital (https://sesc.digital/home) e SP Cine Play (www.spcineplay.com.br), com limite de views. Confira drops com rápidos comentários dos melhores filmes desse ano da Mostra.

 


Fire of love (EUA/Canadá, 2022, de Sara Dosa)

 

Um documentário emocionante e celebrativo sobre o casal francês Katia e Maurice Krafft, amantes um do outro e apaixonados por vulcões – eles trabalharam por mais de duas décadas investigando erupções vulcânicas ao redor do planeta. Destemidos, chegavam a pouquíssimos metros das crateras expelindo lava. O filme resgata uma série de vídeos curiosos que eles mesmos gravaram e outros disponibilizados pelas equipes que os acompanhavam nas expedições. No doc temos a dimensão do lado heroico e aventureiro dos Kraffts (que infelizmente morreram em 1991 em uma explosão vulcânica no Japão). Vencedor do prêmio de melhor montagem no Festival de Sundance e do Prêmio do Público da seção Grand Angle do festival de documentários Visions du Réel. Exibição presencial em SP ainda no dia 01/11.

 


 

Nação valente (Portugal/França/Angola, 2022, de Carlos Conceição)

 

Misturando drama, guerra, um pouco de humor e um terror que beira o cinema fantástico, essa coprodução Portugal/França/Angola é dos filmes mais interessantes da Mostra desse ano. Saí da sessão de olhos arregalados de surpresa. Nos anos 70 portugueses saíram da Angola quando os nacionalistas iniciaram levantes para reivindicar direito ao território. Daí duas histórias se aproximam: a de uma garota angolana que se apaixona por um soldado português, e a de uma frota de Portugal isolada num casarão para um treinamento, até que estranhas aparições começam a perturbar o grupo. É de um vigor enorme o filme, diferente de tudo que já vi – venceu o prêmio de melhor filme europeu e do prêmio do Júri Jovem no Festival de Locarno.

Exibição presencial em SP ainda no dia 01/11.

 

 

Leonor jamais morrerá (Filipinas, 2022, de Martika Ramirez Escobar)

 

Vencedor do Prêmio Especial do Júri na seção World Cinema Dramatic do Festival de Sundance, o drama filipino mostra a jornada de Leonor Reyes, ex-atriz de uma popular série de filmes de ação que hoje está endividada. Ela entra em coma quando encontra a oportunidade de voltar ao cinema, e no leito do hospital, sua mente a leva para dentro de um estranho filme. Original, bem realizado, é uma boa opção para conhecermos o bom (e pouco comentado) cinema realizado nas Filipinas. Exibição online e gratuita na plataforma do SP Cine Play até dia 02/11 (com limite de views).

 

Noite obscura, folhas selvagens (Suíça/França, 2022, de Sylvain George)

 

É, em termos de duração, um dos filmes mais longos que vi recentemente (totaliza 255 minutos, ou seja, 4h15). A estética é para poucos, assim como o tema: num enclave espanhol no Marrocos, um grupo de jovens anda por aí discutindo políticas migratórias europeias, envolvem-se com problemas e chegam ao seu limite com ações consideradas subversivas. Em preto-e-branco, com muitas imagens fora de sintonia como se fossem um amontoado de pensamentos e desejos, a obra se constrói. Trata das políticas de migração na Europa não deixando de criticar o racismo e a xenofobia. Exibido nos festivais de Viena e Locarno, está online e gratuito na plataforma do SP Cine Play até dia 02/11 (com limite de views).