Por Felipe Brida*
Esse é um filme que
desde a abertura causa incômodo, nos preparando para o medo. Os créditos
iniciais demoram nove minutos (algo raro no cinema) ao apresentar parte dos
personagens em meio a situações estranhas numa Los Angeles ensolarada, sob a
trilha sonora arrepiante do próprio Carpenter em parceria com Howarth - parceria
nascida em “Fuga de Nova York” (1981), passando por filmes como “Christine, o
carro assassino” (1983), “Os aventureiros do bairro proibido” (1986) e “Eles
vivem” (1988). Depois de apresentados para o público, a trama sinistra começa:
um padre convoca um grupo de pessoas formado por pesquisadores, cientistas e
estudantes para investigar um recipiente contendo um estranho líquido verde,
escondido no porão de uma igreja abandonada. Alguns se contaminam com aquela substância,
e são transformadas numa espécie de zumbis. Do lado de fora da igreja, cerca de
dez homens e mulheres em estado de transe, observam atentamente quem está lá
dentro, como se uma força os atraísse. Os que não forma contaminados, na
igreja, descobrem que o líquido verde é na verdade uma poção com a essência de
Satanás, e ao entrar no corpo das vítimas, prepara o novo despertar do
anticristo. Terrível, não?
Revendo o filme tempos
atrás, lembrei da minha infância, quando assistia ao filme em “sessões da
tarde” na TV nos anos 90. Eu tinha uma paura danada e pulava da cadeira com
alguns jumpscares pontuais. A imagem de Alice Cooper como um dos vigilantes
zumbificados marca até hoje, sem contar na grávida que tem o rosto derretido
nas cenas que preparam o desfecho (continuam medonhos e assustadores!).
Esse é mais um roteiro caprichado
de John Carpenter, novamente flertando com o desconhecido, cuja originalidade é
sem tamanho. Aliás, mais uma vez ele brinca de forma inteligente com
pseudônimos, ao assinar o roteiro como Martin Quatermass - alusão ao personagem
Bernard Quatermass, o cientista britânico que investiga artefatos e crimes na
série “The Quatermass experiment” (1953) e seus derivados, como os filmes
“Terror que mata” (1955) e “Uma sepultura na eternidade” (1967). De acordo com
Carpenter, “O enigma de outro mundo”, “Príncipe das sombras” e “À beira da
loucura” (1994) integram o que ele chamou de “Trilogia do Apocalipse”. E quem
gosta de terrorzão não pode perder essa trinca!
Como em outros longas-metragens
do diretor (que aqui volta a trabalhar com os veteranos Donald Pleasence e Victor
Wong), há muitas metáforas e momentos sem explicação concreta, ou seja, são
ambíguos e abertos. Por exemplo, será que tudo aquilo ocorreu mesmo ou não
passou de um sonho de um dos personagens (aquele que era perturbado com imagens
distorcidas na TV)? Será mesmo que Satanás conseguiu sair da cápsula? Tudo fica
subentendido para o público decidir...
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