sábado, 18 de setembro de 2021

Cine Cult


Mamãezinha querida

A vida da atriz Joan Crawford (Faye Dunaway), a partir da adoção da filha Christina, marcada por abusos, violência física e loucura.

Produzido pela Paramount Pictures, o controverso filme de 1981 trata da biografia da atriz Joan Crawford pelo ponto de vista de sua filha adotiva, Christina Crawford, que sofreu horrores na mão da mãe dominadora e que aos poucos foi enlouquecendo. Ponto de vista esse que constava na autobiografia de Christina, que serviu de inspiração para o roteiro – o amargo livro de memórias dela chamado “Mommie dearest” saiu em 1978 e foi enorme sucesso editorial nos EUA, com mais de 3,7 milhões de cópias vendidas.
O filme não pestaneja em mostrar a violência da mãe contra a filha criança, uma relação de conflitos permanentes que se estendeu até o final da juventude de Christina, que teve uma vida sofrida, repleta de assédios, agressões psicológicas e espancamento.
Joan Crawford (1906-1977) foi uma das musas do cinema antigo, participou de grandes clássicos de Hollywood, e no início da década de 30 vivia uma fase de transição de carreira, entre os filmes mudos e os sonoros. No entanto seus filmes vinham perdendo público, ela até era chamada de “veneno de bilheteria”, época que se arrastou até 1940 e fez com que ela adotasse uma criança, Christina, e dois anos depois um menino, Christopher. Voltou ao estrelato ganhando um Oscar, por “Alma em suplício” (1945), depois a carreira derrapou novamente e se entregou a filmes B. Ela tinha complexos de ego, problemas com seus maridos (foi casada quatro vezes), ficando cada vez mais descontrolada, atacando os filhos pequenos em verdadeiras sessões de tortura. Teve problemas com álcool, xingava quem estivesse por perto, atirava copos nas crianças e por aí vai... Os conflitos só acabaram com a morte de Joan, em 1977, aos 71 anos, quando ficou acamada, solitária e depressiva.


O filme mostra muito o descontrole da atriz com a filha Christina, em cenas difíceis de serem acompanhadas. No lançamento foi alvo da crítica, que achou tudo aquilo um exagero danado, e os outros filhos acusaram Christina de mentir (dois outros filhos de Joan não acreditavam que a mãe era louca assim, lembrando que o filme é um ponto de vista da filha pequena). Recebeu prêmios no Razzie Awards (os piores do ano), como pior filme, pior atriz para Faye e pior roteiro, e anos depois voltou a ganhar um prêmio de “pior filme da década” no mesmo Framboesa de Ouro.
Apesar das pesadas críticas da época, o filme teve boa bilheteria, e depois firmou-se cult. Revendo agora, em DVD pelas Obras-primas do Cinema, o filme não é a ruindade como apontavam, tirando momentos over de Faye Dunaway, sempre boa atriz e aqui num papel de mulher doida e doente.
Quem dirige é Frank Perry, de “Enigma de uma vida” (1968) - o roteiro é também dele com três outros roteiristas, dentre eles o duas vezes indicado ao Oscar Robert Getchell.
O filme causou estresse na equipe, pois Faye era uma atriz difícil de trabalhar, rude e exigente, brigava no set a ponto de pedir demissão de diretores, ganhando a alcunha de “pior pessoa de Hollywood”. Integra a cultura Camp (de exagero absurdos e um quê de brega/cafona), e há momentos realmente desesperadores de violência infantil. Em certo ponto Faye e Joan se juntam, duas atrizes grandes em cena, porém odiadas nos bastidores (Joan foi inimiga das estrelas Mary Pickford e Bette Davis, por exemplo).


Vale assistir para conhecer o paralelo entre o esplendor do mito Joan e seu lado intempestivo, ameaçador e furioso, de uma carreira de altos e baixos regada de momentos insanos e por vezes trágicos.

Mamãezinha querida (Mommie dearest). EUA, 1981, 129 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Frank Perry. Distribuição: Obras-primas do Cinema

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