Mamãezinha querida
A vida da atriz Joan
Crawford (Faye Dunaway), a partir da adoção da filha Christina, marcada por
abusos, violência física e loucura.
Produzido pela Paramount
Pictures, o controverso filme de 1981 trata da biografia da atriz Joan Crawford
pelo ponto de vista de sua filha adotiva, Christina Crawford, que sofreu
horrores na mão da mãe dominadora e que aos poucos foi enlouquecendo. Ponto de
vista esse que constava na autobiografia de Christina, que serviu de inspiração
para o roteiro – o amargo livro de memórias dela chamado “Mommie dearest” saiu
em 1978 e foi enorme sucesso editorial nos EUA, com mais de 3,7 milhões de
cópias vendidas.
O filme não pestaneja em
mostrar a violência da mãe contra a filha criança, uma relação de conflitos
permanentes que se estendeu até o final da juventude de Christina, que teve uma
vida sofrida, repleta de assédios, agressões psicológicas e espancamento.
Joan Crawford (1906-1977)
foi uma das musas do cinema antigo, participou de grandes clássicos de
Hollywood, e no início da década de 30 vivia uma fase de transição de carreira,
entre os filmes mudos e os sonoros. No entanto seus filmes vinham perdendo público,
ela até era chamada de “veneno de bilheteria”, época que se arrastou até 1940 e
fez com que ela adotasse uma criança, Christina, e dois anos depois um menino, Christopher.
Voltou ao estrelato ganhando um Oscar, por “Alma em suplício” (1945), depois a
carreira derrapou novamente e se entregou a filmes B. Ela tinha complexos de
ego, problemas com seus maridos (foi casada quatro vezes), ficando cada vez
mais descontrolada, atacando os filhos pequenos em verdadeiras sessões de
tortura. Teve problemas com álcool, xingava quem estivesse por perto, atirava
copos nas crianças e por aí vai... Os conflitos só acabaram com a morte de
Joan, em 1977, aos 71 anos, quando ficou acamada, solitária e depressiva.
O filme mostra muito o descontrole
da atriz com a filha Christina, em cenas difíceis de serem acompanhadas. No lançamento
foi alvo da crítica, que achou tudo aquilo um exagero danado, e os outros
filhos acusaram Christina de mentir (dois outros filhos de Joan não acreditavam
que a mãe era louca assim, lembrando que o filme é um ponto de vista da filha
pequena). Recebeu prêmios no Razzie Awards (os piores do ano), como pior filme,
pior atriz para Faye e pior roteiro, e anos depois voltou a ganhar um prêmio de
“pior filme da década” no mesmo Framboesa de Ouro.
Apesar das pesadas
críticas da época, o filme teve boa bilheteria, e depois firmou-se cult. Revendo
agora, em DVD pelas Obras-primas do Cinema, o filme não é a ruindade como
apontavam, tirando momentos over de Faye Dunaway, sempre boa atriz e aqui num
papel de mulher doida e doente.
Quem dirige é Frank
Perry, de “Enigma de uma vida” (1968) - o roteiro é também dele com três outros
roteiristas, dentre eles o duas vezes indicado ao Oscar Robert Getchell.
O filme causou estresse
na equipe, pois Faye era uma atriz difícil de trabalhar, rude e exigente,
brigava no set a ponto de pedir demissão de diretores, ganhando a alcunha de
“pior pessoa de Hollywood”. Integra a cultura Camp (de exagero absurdos e um
quê de brega/cafona), e há momentos realmente desesperadores de violência
infantil. Em certo ponto Faye e Joan se juntam, duas atrizes grandes em cena,
porém odiadas nos bastidores (Joan foi inimiga das estrelas Mary Pickford e Bette
Davis, por exemplo).
Vale assistir para conhecer
o paralelo entre o esplendor do mito Joan e seu lado intempestivo, ameaçador e
furioso, de uma carreira de altos e baixos regada de momentos insanos e por
vezes trágicos.
Mamãezinha querida (Mommie dearest). EUA, 1981, 129
minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Frank Perry. Distribuição: Obras-primas
do Cinema
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