Sieranevada
Um
mês se passou da morte do patriarca de uma família romena. Para homenagear o
pai morto, Larry (Mimi Branescu), um médico quarentão, reúne os parentes em um
sábado. Naquele dia, ele e os familiares, de várias gerações, irão se
confrontar com duras memórias e reviver um passado de perguntas sem respostas.
Indicado
à Palma de Ouro em Cannes em 2016, “Sieranevada” foi o representante oficial da
Romênia ao Oscar, mas não chegou à lista dos finalistas. Neste melancólico
drama de família, a falta do diálogo nas relações humanas e o conflito de
gerações exprimem a natureza existencial dos personagens, um tanto obscuros, integrantes
de uma tradicional família de classe média. O sábado de encontro para homenagear
o patriarca falecido contorna para temas filosóficos intermináveis, atingindo política
e religião, que provoca comentários intolerantes e atritos de pensamento entre
o grupo.
O
diretor e roteirista Cristi Puiu, o maior realizador da Romênia atual, assume a
posição de um observador da vida dessas pessoas de diferentes faixas etárias, a
partir de detalhes das longas conversas travadas na sala de jantar, na cozinha,
nos cômodos. Ele traça breves linhas dos rituais de celebração que reconciliam,
dissolvidos por acalorados desentendimentos banais, captados por uma câmera posicionada
num canto discreto. Por ela passam homens e mulheres, em enquadramentos
inusitados, laterais, com objetos e cenários a mais no plano. O cineasta
explora o pequeno espaço do apartamento onde tudo acontece, sem preocupação com
o tempo (o filme atinge três horas de duração). Tudo num único dia, antes e
após o almoço, com 10 atores em cena, como num teatro – há pouquíssimas
sequências externas, como a da demorada abertura, na rua, durante uma colisão entre
dois carros.
De
monotonia compreensiva, tom tragicômico, extensos planos sequências e sem
trilha sonora, o bom “Sieranevada” resulta num estudo complexo das relações de
afeto/desafeto, do distanciamento de uma família por fatos equivocados do
passado, com as qualidades máximas do cinema cult.
Autêntico
exemplar de um país que pouco realiza cinema – na verdade é uma co-produção da
Romênia com a França, Bósnia e Herzegovina, Croácia e a Macedônia, inteiramente
rodada em Bucareste.
Grande
obra do diretor Cristi Puiu, figura conhecida em Cannes pelos seus filmes –
dois deles são “A morte do Sr. Lazarescu” (2005) e “Aurora” (2010). Já em DVD
pela Mares Filmes.
Sieranevada (Idem). Romênia/
França/ Bósnia e Herzegovina/ Croácia/ Macedônia, 2016, 173 min. Drama.
Colorido. Dirigido por Cristi Puiu. Distribuição: Mares Filmes.
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