quarta-feira, 24 de maio de 2017

Resenha Especial


O quadragésimo primeiro

Na guerra civil russa, a guerrilheira Mariutka (Izolda Izvitskaya), exímia atiradora do Exército Vermelho, apaixona-se por um prisioneiro que ela escolta, tenente Vadim (Oleg Strizhenov), do Exército Branco Czarista. Para continuar o romance, eles fogem para uma ilha deserta, enquanto o país endurece com a Revolução Russa.

Indicado à Palma de Ouro em 1957 e vencedor de um prêmio especial no Festival de Cannes, “O quadragésimo primeiro” é um dos grandes e belíssimos filmes soviéticos da História do Cinema, também conhecido no Brasil com o título de “A guerrilheira”. Produzida pela Mosfilm, mistura guerra e romance com lucidez e sobriedade, utilizando pano de fundo histórico, que recorta os antecedentes da Guerra Civil Russa, ocorrida entre 1916 e 1918, com conflito ideológico e armado entre o Movimento Branco dos Czaristas e o Exército Vermelho Bolchevique, no pós-Primeira Guerra Mundial. Para representar esse contraste, temos a personagem da guerrilheira Mariutka (Izolda Izvitskaya, que morreu de alcoolismo, pobre e abandonada, aos 38 anos em 1971), mulher de forte convicção, integrante do Exército Vermelho, e o tenente Vadim, do Movimento Branco, único sobrevivente de um grupo de 40 e poucos homens (por isso o título, em menção ao personagem, que é o 41º do destacamento). Mariutka, junto da tropa, é responsável pela morte do grupo de Vadim, e como ele sobrevive, recebe a missão de escoltá-lo pelo deserto de Karakum, onde estão perdidos. O único contato local é com os Cazaques, povo de origem medieval, que os auxilia a sair de lá em direção ao mar de Aral. Temerosos com o destino da guerra, os membros do Exército Vermelho, Mariutka e Vadim vagam ao Norte, açoitados pelo frio, passam fome no deserto, enfrentam tempestades e abrigam-se em precárias cabanas de pesca, enquanto uns morrem pelo caminho, situações dramáticas que compõem a estrutura de saga no filme. Em meio a isto tudo, a atiradora e o prisioneiro iniciam um relacionamento, forçados a fugir para uma ilha deserta para viver o romance proibido, na segunda parte da saga, que muda de drama de guerra para o romance, com desfecho dramático e de impacto.
A fotografia no deserto, feita pelo prestigiado Sergey Urusevskiy, no início do filme, é deslumbrante, com detalhes bem significativos, como o conflito armado, as dunas e um enfoque nos esquecidos cazaques, com seus camelos e vestuários incríveis.
“O quadragésimo primeiro”, realizado em 1956, é remake de uma fita de 1927, ambos baseados no livro de Boris Lavrenyev, e tem na direção o ucraniano Grigoriy Chukhray (1921-2001), em sua estreia no cinema soviético. Ele fez apenas sete longas-metragens, e mesmo com poucos na carreira, recebeu indicação a três Palmas de Ouro e ao Oscar de roteirista por “A balada do soldado” (1959).
A companhia russa Mosfilm restaurou a obra, oportunidade imperdível para assistirmos em DVD, recém-lançado no Brasil pela CPC-Umes Filmes, distribuidora do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo. Saiu em linda edição, com um projeto gráfico de tirar o chapéu e preço acessível. Além deste, a CPC-Umes lançou um catálogo de cinema soviético com mais de 20 filmes restaurados, com preciosidades como “Aleksandr Nevsky” (1938) e “Tratoristas” (1939), e muitos outros trabalhos dos anos 60, 70 e 80. Vale conhecer a lista completa e, de forma especial, “O quadragésimo primeiro”.


O quadragésimo primeiro (Sorok pervyy). URSS, 1956, 87 min. Drama/Guerra. Dirigido por Grigoriy Chukhray. Distribuição: CPC-Umes Filmes

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de maio/junho de 2017.

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