O
quadragésimo primeiro
Na
guerra civil russa, a guerrilheira Mariutka (Izolda Izvitskaya), exímia atiradora
do Exército Vermelho, apaixona-se por um prisioneiro que ela escolta, tenente
Vadim (Oleg Strizhenov), do Exército Branco Czarista. Para continuar o romance,
eles fogem para uma ilha deserta, enquanto o país endurece com a Revolução
Russa.
Indicado
à Palma de Ouro em 1957 e vencedor de um prêmio especial no Festival de Cannes,
“O quadragésimo primeiro” é um dos grandes e belíssimos filmes soviéticos da
História do Cinema, também conhecido no Brasil com o título de “A
guerrilheira”. Produzida pela Mosfilm, mistura guerra e romance com lucidez e
sobriedade, utilizando pano de fundo histórico, que recorta os antecedentes da
Guerra Civil Russa, ocorrida entre 1916 e 1918, com conflito ideológico e
armado entre o Movimento Branco dos Czaristas e o Exército Vermelho
Bolchevique, no pós-Primeira Guerra Mundial. Para representar esse contraste, temos
a personagem da guerrilheira Mariutka (Izolda Izvitskaya, que morreu de
alcoolismo, pobre e abandonada, aos 38 anos em 1971), mulher de forte
convicção, integrante do Exército Vermelho, e o tenente Vadim, do Movimento
Branco, único sobrevivente de um grupo de 40 e poucos homens (por isso o
título, em menção ao personagem, que é o 41º do destacamento). Mariutka, junto
da tropa, é responsável pela morte do grupo de Vadim, e como ele sobrevive,
recebe a missão de escoltá-lo pelo deserto de Karakum, onde estão perdidos. O
único contato local é com os Cazaques, povo de origem medieval, que os auxilia a
sair de lá em direção ao mar de Aral. Temerosos com o destino da guerra, os
membros do Exército Vermelho, Mariutka e Vadim vagam ao Norte, açoitados pelo
frio, passam fome no deserto, enfrentam tempestades e abrigam-se em precárias
cabanas de pesca, enquanto uns morrem pelo caminho, situações dramáticas que
compõem a estrutura de saga no filme. Em meio a isto tudo, a atiradora e o
prisioneiro iniciam um relacionamento, forçados a fugir para uma ilha deserta
para viver o romance proibido, na segunda parte da saga, que muda de drama de
guerra para o romance, com desfecho dramático e de impacto.
A fotografia
no deserto, feita pelo prestigiado Sergey Urusevskiy, no início do filme, é
deslumbrante, com detalhes bem significativos, como o conflito armado, as dunas
e um enfoque nos esquecidos cazaques, com seus camelos e vestuários incríveis.
“O
quadragésimo primeiro”, realizado em 1956, é remake de uma fita de 1927, ambos
baseados no livro de Boris Lavrenyev, e tem na direção o ucraniano Grigoriy
Chukhray (1921-2001), em sua estreia no cinema soviético. Ele fez apenas sete
longas-metragens, e mesmo com poucos na carreira, recebeu indicação a três
Palmas de Ouro e ao Oscar de roteirista por “A balada do soldado” (1959).
A
companhia russa Mosfilm restaurou a obra, oportunidade imperdível para
assistirmos em DVD, recém-lançado no Brasil pela CPC-Umes Filmes, distribuidora
do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de
São Paulo. Saiu em linda edição, com um projeto gráfico de tirar o chapéu e
preço acessível. Além deste, a CPC-Umes lançou um catálogo de cinema soviético
com mais de 20 filmes restaurados, com preciosidades como “Aleksandr Nevsky”
(1938) e “Tratoristas” (1939), e muitos outros trabalhos dos anos 60, 70 e 80.
Vale conhecer a lista completa e, de forma especial, “O quadragésimo primeiro”.
O quadragésimo primeiro (Sorok pervyy). URSS, 1956, 87 min. Drama/Guerra.
Dirigido por Grigoriy Chukhray. Distribuição: CPC-Umes Filmes
* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de maio/junho de 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário